Godzilla: O Devorador de Planetas (2018)

3.3
(3)

Godzilla: O Devorador de Planetas
Original:Gojira: hoshi wo kû mono
Ano:2018•País:Japão
Direção:Hiroyuki Seshita, Kôbun Shizuno
Roteiro:Gen Urobuchi
Produção:
Elenco:Mamoru Miyano, Takahiro Sakurai, Kana Hanazawa, Tomokazu Sugita, Yûki Kaji, Reina Ueda, Ari Ozawa, Daisuke Ono, Saori Hayami, Ken'ichi Suzumura

Ghidorah (ou King Ghidorah e até mesmo Ghidrah) foi uma das principais ameaças para Godzilla. Surgiu pela primeira vez no filme Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (1964), de Ishirô Honda, e depois seria visto em outras produções como Godzilla vs. King Ghidorah (1991). Trata-se de uma espécie de dragão de três cabeças, de origem alienígena, contrariando os demais monstros gigantes que eram apresentados como pré-históricos ou vítimas da radiação. Há quem aponte que Ghidorah era uma metáfora para o poderio bélico crescente da China, que estava desenvolvendo suas próprias armas nucleares para entrar definitivamente na lista das nações perigosas. E foi esse o nome da criatura que Metphies (Takahiro Sakurai) cochichou para o herói Haruo (Mamoru Miyano) na sequência final de Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha apontada como responsável pela destruição do planeta dos alienígenas religiosos Exifs.

Como a tentativa de combate dos Bilusaludos – alienígenas tecnológicos -, na fusão com o nanometal, não deu certo, devido a uma ação de covardia de Haruo – embora tenha condenado a jovem Yuko (Kana Hanazawa) -, chega a vez dos Exifs apresentar um meio de acabar definitivamente com o Godzilla: orando e realizando um ritual para trazer Ghidorah ao planeta, mesmo que isso possa piorar as coisas. “Mas não foi essa criatura que destruiu o seu planeta? Quem garante que não fará o mesmo com o nosso?“, questiona Haruo. Assim, através da fé e da manipulação, Metphies coloca o plano em prática, exigindo a devoção de todos os humanos sobreviventes além de sacrifícios. Quando Haruo percebe o erro cometido, é tarde demais, e ele entra em um estado de alucinação hipnótica para compreender seu passado, enquanto busca formas de acabar com esse pesadelo, ainda que para isso precise ajudar Godzilla no confronto com a poderosa ameaça.

É esse tom de crítica ao fanatismo religioso que conduz a narrativa de Gen Urobuchi (responsável pelo roteiro dos outros dois filmes). Logo no prólogo, na voz de Metphies, há uma apresentação que estabelece uma conexão proposital com Jesus Cristo ao mostrar que Haruo é aquele que “pode guiar todos para o caminho da salvação“, o que pode ser ouvido e também realizar os feitos necessários. No entanto, se o conceito é curioso na proposta, por outro incomoda no espetáculo, sendo o filme da trilogia com menos ação e combate. O transe de Haruo atrapalha o ritmo da produção e ainda repete cenas que não levam a lugar algum para que o personagem possa encontrar as respostas que procura.

Enquanto isso, o astro da franquia, Godzilla, é deixado ainda mais de lado, com a chegada de Ghidorah, representado como um dragão de ouro, com longos pescoços (sem mostrá-lo inteiro em cena) e a capacidade de não se tornar palpável, dificultando a luta com o Rei dos Monstros. Nas intenções dos Exifs, a solução parece ser a aniquilação definitivamente de toda a vida no Planeta Terra com a voracidade do indestrutível Ghidorah, iniciando pelo próprio Godzilla, aproveitando sua fragilidade após o último confronto. Haruo precisará agir com precisão e coragem, se quiser ser o herói que Metphies acredita que ele seja.

Mantendo a belíssima técnica de animação e efeitos especiais, novamente pela Polygon Pictures em parceria com a Netflix, ainda que em menor escala pela repetição de cenas e pelo ritmo mais lento, Godzilla: O Devorador de Planetas, que prometia uma daquelas batalhas grandiosas que a franquia Godzilla sempre priorizou em seus filmes, acaba decepcionando pela necessidade de fortalecer a mensagem, o conteúdo, em detrimento de sua costumeira narrativa dinâmica. É em comparação ao Planeta dos Monstros e Cidade no Limiar da Batalha o mais fraco da série, concluindo de maneira pouco inteligente a trilogia japonesa.

Os melodramas excessivos e a dialética interminável contribuem para que o espectador se sinta à vontade para acelerar a animação com o controle remoto. Os diretores Hiroyuki Seshita e Kôbun Shizuno optam por um rumo diferente na franquia, promovendo debates sobre a glorificação e até a cegueira causada pela persuasão dos falsos profetas. Deixam alguns pequenos furos, como o fato de não saber justificar a demora em realizar o plano pelos Exifs (ora, por que esperaram a queda dos Bilusaludos para colocá-lo em prática?), e a descaracterização dos nativos, apenas mostrados como seres ingênuos e não representativos da evolução humana. Ainda que a qualidade técnica se mantenha atraente, Godzilla perde a sua força incontrolável em um filme que não honra a mitologia desenvolvida nos dois primeiros filmes.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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