Kingdom
Original:Kingdom
Ano:2019•País:Coréia do Sul, Estados Unidos Direção:Kim Seong-hun Roteiro:Kim Eun-hee Produção:Lee Sung-joon Elenco:Ju Ji-hoon, Bae Doona Ryu, Seung-ryong, Kim Sang-ho, Heo Joon-ho, Jeon Seok-ho, Chu Hun-yub |
Coréia, século XV, reino da Dinastia Joseon. O país cercado de tradições seguidas à risca e uma desigualdade social cada vez maior se vê no centro de uma crise política quando notícias se espalham cada vez mais rápido anunciando a morte do rei. Nos bastidores, a situação é ainda mais delicada, com o herdeiro ao trono, príncipe Lee Chang, não tendo nenhum acesso ao pai, guardado secretamente no palácio pela jovem rainha Cho e seu pai sedento pelo poder, Cho Hak-ju, que é praticamente quem comanda o país.
Sim, a trama de Kingdom já seria incrivelmente interessante se parasse por aí. Mas a série sul-coreana original Netflix vai além, onde tudo isso é apenas um pano de fundo para uma epidemia zumbi que ameaça todo o país.
Numa época onde o gênero de zumbis é cada vez mais questionado sobre sua falta de inovações, Kingdom vem como uma cereja no bolo de uma gama de produções que abordam novas formas de retratar esse tipo de terror, praticamente iniciado por George Romero, que, coincidentemente, sempre foi exímio em abordar questões políticas e sociais em seus filmes de horror. Aliás, é da própria Coréia do Sul que vem um outro fôlego ao gênero de zumbis, com o sucesso mundial do filme Train to Busan. Agora, é a vez do serviço de streaming mostrar novidades.
Na trama, após ser considerado um traidor e entender que seu pai está – no mínimo – muito doente, o príncipe Lee foge da capital junto apenas de seu guarda-costas em busca do médico chamado para tratar o rei, mas que agora está praticamente do outro lado do país. Lá, o impensável se torna realidade, com os mortos voltando à vida a partir de um isolado local para cuidado de doentes, numa epidemia que se espalha rápido, graças a ignorância do que está acontecendo, aliada às tradições levadas a risca pelo país e a intensa pobreza que assola a região.
Aliás, são justamente as tradições que representam bem outro ponto da série: as desigualdades sociais. Num país grande, assolado pelos conflitos históricos com o Japão, a pobreza e a miséria chegam a um ponto onde o canibalismo já era opção de sobrevivência antes mesmo dos zumbis chegarem, enquanto os ricos esbanjam recursos e os políticos ignoram tudo enquanto brincam com seus jogos de poder.
O próprio príncipe Lee é o melhor exemplo. O protagonista é irritante no início, ao se apresentar mimado, elitista e totalmente fora da realidade do próprio país. É ao iniciar sua jornada longe da capital que vemos a transformação do personagem, passando a se importar com o povo, desejar seu melhor, simplesmente salvá-los.
E claro, é dos zumbis que vem os melhores momentos da série. Logo no primeiro episódio já temos um verdadeiro caos na casa de saúde, mas é quando a epidemia se espalha pelo campo e chega como uma ameaça nas cidades que a coisa toma novas proporções, com momentos realmente arrepiantes e até angustiantes entre os personagens dos diversos plots. Tudo muito bem filmado e coreografado, onde a ação encontra um ótimo equilíbrio junto ao horror. Contando ainda com a particularidade desses zumbis se manifestarem apenas durante a noite, “hibernando” durante o dia, num mistério que toma proporções ainda melhores no último episódio junto ao apoteótico encerramento da temporada.
E que temporada! Notavelmente Kingdom recebeu uma boa dose de recursos e soube onde usá-los. As paisagens rurais não são das melhores e mais ricas em beleza, mas a arquitetura apresentada em templos e nas cidades é impressionante nos detalhes. A utilização de cores é um show à parte. Mas é o figurino o elemento mais estonteante em tela. Desde as vestes da família real, aos trajes do exército e até mesmo os trapos da população pobre, tudo ali foi feito com muita delicadeza e esmero.
Com apenas seis episódios de quase uma hora cada, é difícil não maratonar Kingdom. O ritmo dificilmente desacelera e até as tramas paralelas e os personagens secundários são interessantes, como a atenciosa cuidadora de doentes e sua “parceria” com o governante irresponsável, o jovem criminoso preocupado apenas com a própria sobrevivência que ganha um novo propósito, ou a rainha e seu diabólico plano de como se manter no poder pela gravidez.
Renovada para uma segunda temporada antes mesmo de sua estreia, o único problema de Kingdom é seu final, ao criar uma expectativa em entregar algo que notavelmente ficará apenas para sua continuação. Não é exatamente um defeito, haja a ótima construção do último episódio. Mas o gostinho de “quero mais” toma proporções gigantescas com um final tão aberto.
Que o gênero de zumbis continue sobrevivendo em ideias originais como essa.
A série me surpreendeu, pois uma história de zumbis, na Coréia, na época em que se passa, tinha tudo para dar errado. E concordo sobre o figurino, é um espetáculo à parte.
Ótima série mesmo, tem momentos realmente tensos. Só meio que discordo desse ponto: “O protagonista é irritante no início, ao se apresentar mimado, elitista e totalmente fora da realidade do próprio país.”
De fato em determinado momento é visível a surpresa dele em relação à situação do país, mas logo no começo também dá pra notar sua preocupação e não demora muito para ele se mostrar um futuro ótimo líder para o povo, muitas vezes mostrando que está disposto a se sacrificar para o bem dos mais fracos (como ele mesmo diz).
Realmente, série muito boa. Parabéns!