Hellboy II: O Exército Dourado (2008)

4.3
(3)

Hellboy II - O Exército Dourado
Original:Hellboy II: The Golden Army
Ano:2008•País:EUA, Alemanha, Hungria
Direção:Guillermo del Toro
Roteiro:Guillermo del Toro, Mike Mignola
Produção:Lawrence Gordon, Lloyd Levin, Mike Richardson
Elenco:Ron Perlman, Selma Blair, Doug Jones, John Alexander, Seth MacFarlane, Luke Goss, Anna Walton, Jeffrey Tambor, John Hurt, Brian Steele, Iván Kamarás, Mike Kelly

Com o sucesso do primeiro filme, Guillermo del Toro se dedicou ao excelente O Labirinto do Fauno até voltar a comandar Hellboy em uma nova aventura. Poderia ser um processo de desenvolvimento mais fácil, uma vez que o personagem já era conhecido do público e não haveria necessidade de apresentar o elenco, podendo se aprofundar ainda mais em suas origens. Mas o cineasta também se sentia atraído por fábulas e contos mágicos, e não haveria um jeito melhor do que trazer um pouco disso para o novo filme, mesmo que isso possa afastar ainda mais a adaptação de suas características sombrias. Assim, o prólogo encontra um meio de mostrar um Hellboy criança (Montse Ribé) e trazer de volta o Professor Broom (John Hurt) em um momento de encantamento infantil na noite de Natal de 1955. Ele relata que uma guerra muito antiga envolvendo os humanos e criaturas mágicas fez os goblins pedir, com a insistência do Príncipe Nuada, ao líder dos elfos, Balor, pela construção de um exército indestrutível. Com a força dos soldados dourados, os humanos aceitaram um acordo de paz, e o exército foi desativado pela separação de uma coroa de comando em três partes, para incômodo de Nuada. “Mas é só uma história, né?“, pergunta o garoto vermelho.

Assim começa Hellboy II: O Exército Dourado, inspirado em um conceito desenvolvido pelo diretor em parceria com o criador do personagem Mike Mignola. Desta vez o longa seria produzido e distribuído pela Universal Pictures, o que inspirou del Toro a incluir elementos dos monstros clássicos como Frankenstein, Drácula e o Lobisomem. Com mais recursos, pelos prêmios conquistados com O Labirinto do Fauno, o diretor se sentiu livre para desenvolver uma aventura com mais elementos de ação e criaturas, mantendo a essência dos personagens, a partir do retorno de Liz Sherman (Selma Blair) e Abe Sapien (Doug Jones). A única ausência sentida é a do agente John Myers (Rupert Evans), justificada pela fala de Hellboy sobre obrigá-lo a pedir uma transferência para uma sede distante.

O inimigo da vez é o Príncipe Nuada (Luke Goss, que esteve com o cineasta em Blade II: O Caçador de Vampiros), que resolve sair de seu exílio para juntar as peças da coroa e retomar o comando do exército dourado. Durante uma assembleia que julgou as intenções do príncipe, ele é condenado à morte, mas resolve se rebelar contra sua raça, matando, inclusive, seu pai para adquirir a segunda peça. A terceira está com sua irmã gêmea, Nuala (Anna Walton), que consegue escapar do local. Enquanto está tendo uma DR com sua amada Liz, devido ao uso do espaço na sede da B.P.R.D., Hellboy novamente é questionado sobre suas aparições em público, o que obriga o departamento a trazer o russo Johann Krauss (John Alexander), uma criatura psíquica e robótica que é comandada por sua essência e tem o cérebro à mostra (“Ouvi dizer que ele é uma pessoa de mente aberta“, diz Hellboy).

A equipe, então, acaba tendo que enfrentar uma batalhão de fadas, o que leva Hellboy a finalmente ser mostrado em público com registros oficiais e a necessidade de buscar pistas no mercado dos elfos. Cheio de monstros deltorianos, o lugar é visualmente fantástico e traz momentos divertidos como o encontro com uma criatura que aparentemente traz um bebê no colo, mas que depois se revela como um tumor. Nuala é vista no local por Abe, que a segue para tentar descobrir o mapa para o exército dourado. Hellboy então tem um confronto com o monstruoso Wink, um globin imenso que tem um poderoso soco removível, e posteriormente contra o próprio Príncipe Nuada, que lhe cravará uma espada mortal e o obrigará a encontrar uma cura antes que o exército dourado seja novamente reanimado.

Hellboy: “Popular Love Songs”? Oh, Abe… você está apaixonado pela princesa?
Abe Sapien: Ela…ela gosta de mim! Uma criatura de outro mundo…
Hellboy: Você precisa sair mais.

O ritmo intenso do primeiro ato se perde no segundo com o ferimento agudo de Hellboy. Moribundo o personagem perde um pouco de sua força heroica, sem que saiba no momento da principal revelação de Liz sobre estar grávida. É claro que se trata do protagonista e o público não espera por um desfecho negativo, porém a sequência diminui a intensidade da narrativa de del Toro na construção em parceria com Mike Mignola. Outro ponto que não trouxe bons olhos é o aumento do tom de humor do filme, embora justificável pela proposta de se tornar mais acessível aos jovens.

Se a direção está mais uma vez impecável, assim como a fotografia belíssima de Guillermo Navarro, o grande destaque desta continuação é a tripla atuação de Doug Jones, sendo visto em outros personagens ainda que mantenha seus trejeitos característicos na movimentação das mãos. Apaixonado por Nuala, mas consciente de que qualquer ferimento no vilão trará consequências à garota, Abe traz algumas doses de romantismo (principalmente com a música “Can’t Smile Without You“) e dramaticidade ao filme e faz o espectador sentir empatia pelo personagem. Perlman está mais à vontade com o personagem, explorando ainda mais o corpo nas cenas de ação, e com ótimos trocadilhos (ele chama o agente Krauss de Kraut. Ao ser corrigido na pronúncia ele diz: “Ah tá, o SS“. Em outro momento, ele o xinga de “glass-hole“) e frases bem colocadas: “Eu daria a minha vida a ela…mas ela quer que eu também lave os pratos.

Ainda que não tenha o mesmo charme inovador do original, del Toro desenvolve sua trama mágica com muita dedicação aos detalhes, do figurino à trilha, da direção de arte aos efeitos visuais. Assim, Hellboy II: O Exército Dourado pode perder alguns pontos pela queda de ritmo, mas diverte bastante em seu filme de herói com tons de fantasia. É uma pena que este seja o encerramento de uma franquia fantástica sob a assinatura de um cineasta que sabe transformar monstros em seres magníficos.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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