Brinquedo Assassino (2019)

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Brinquedo Assassino
Original:Child´s Play
Ano:2019•País:Canadá, EUA
Direção:Lars Klevberg
Roteiro:Tyler Burton Smith
Produção:Jason Cloth, Aaron L. Gilbert, Seth Grahame-Smith, David Katzenberg
Elenco:Aubrey Plaza, Mark Hamill, Brian Tyree Henry, Tim Matheson, Gabriel Bateman, David Lewis, Beatrice Kitsos, Ty Consiglio, Trent Redekop, Marlon Kazadi, Carlease Burke

A brincadeira teve início no final dos anos 80, quando os slashers já apresentavam desgaste em enredos pouco criativos. O roteirista Don Mancini desenvolveu um argumento para a United Artists, com o apoio do produtor executivo David Kirschner, sobre um boneco maldito, inspirado no consumismo exacerbado do período e no episódio Living Doll, da série Além da Imaginação. O interesse de Tom Holland de assumir a direção foi a peça que faltava para Chucky ganhar vida e se tornar uma das principais ameaças na galeria dos ícones do horror moderno. Depois que o próprio boneco sofreu um desgaste com sua terceira tentativa de usar o corpo do garoto Andy, a franquia assumiu uma condição de auto-paródia (A Noiva de Chucky e O Filho de Chucky) até retornar para o estilo que a consagrou em mais dois filmes (A Maldição de Chucky, O Culto de Chucky). Antes deste retorno aos velhos tempos, com o brinquedo um pouco menos falante e mais sombrio e discreto, já existia uma conversa sobre um possível reboot, mas ele somente ganhou forma em meados de 2018, com o envolvimento da Metro-Goldwyn-Mayer e contra os interesses de seu criador. Pode-se dizer, então, que o novo Brinquedo Assassino é um filho bastardo da série original, aproveitando muito pouco do que se conhecia, sem possessão e rituais macabros, e contextualizado na era digital, das tecnologias e conexões facilitadas.

É claro que antes mesmo de chegar aos cinemas havia um receio de que o boneco pudesse não agradar. Fãs do antigo boneco, dublado de maneira característica por Brad Dourif, torceram o nariz para o novo visual, durante muito tempo escondido nas sombras. Era notado que a própria distribuidora fez uma campanha progressiva de divulgação de Chucky, incluindo muita criatividade ao colocá-lo em combate indireto a outros brinquedos do cinema como Toy Story e Annabelle. A Imagem Filmes também aproveitou as críticas recebidas ao visual do “buddi” para brincar com as frases negativas e destacando o bullying sofrido pelo personagem, de um jeito bastante inteligente de atrair a atenção para o lançamento. Brinquedo Assassino chegou aos cinemas no dia 22 de agosto para, enfim, enfrentar as críticas e a opinião do público. Será que o novo Chucky vai agradar?

A multinacional de tecnologia Kaslan Corporation tem revolucionado as conexões domésticas, permitindo que aparelhos “dialoguem” e tragam mais facilidades para a vida cotidiana. Drones, veículos especializados e aparelhos diversos fazem parte desse universo evoluído, incluindo até mesmo os brinquedos, dominados por inteligências artificiais. Contudo, para que as pessoas tenham acesso ao entretenimento e locomoção, algumas filiais têm desenvolvido seus produtos em longas maratonas de trabalho e humilhação. Numa delas, situada no Vietnã, um funcionário no ápice de seu estresse, reprograma o chip do boneco Buddi para que ele não tenha censuras na fala e na violência, e, logo depois, suicida-se.

Bem longe dali, a mãe solteira Karen (Aubrey Plaza) não encontra meios de animar seu filho Andy (Gabriel Bateman), depois que se mudaram para um edifício em Chicago. Além do garoto de 13 anos não conseguir se socializar com os jovens da região, passando horas de seu dia apenas no celular, ele também não aceita muito bem o relacionamento dela com Henry (Tim Matheson). Como ela trabalha numa grande loja de departamentos e recebe diariamente reclamações e interesse de devoluções do boneco Buddi, Karen resolve pegar um exemplar considerado defeituoso para dar de presente ao filho, prestes a comemorar mais um aniversário. Relutante no início, Andy passa a se interessar ao poucos pelo brinquedo, que escolhe como nome Chucky (sem razão pois este é um apelido para Charles, o assassino do original), e o acompanha por diversos lugares enquanto adquire novos conhecimentos.

Sem limites, Chucky aprende palavrões, registra as conversas em áudio e vídeo para utilizá-las em momentos oportunos, e entende que a violência pode ser divertida graças à reação de Andy e os jovens locais, Pugg (Ty Consiglio) e Falyn (Beatrice Kitsos), ao assistir ao filme O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986). Na defesa do novo amigo, o boneco, com o olhar avermelhado para a expressão da raiva, fará qualquer coisa como estrangular um gato e assassinar qualquer um que possa afastá-lo de seu proprietário. A partir daí, mortes sangrentas e muita tensão vêm à tona, associadas à agressividade do boneco e a sua conexão com outras tecnologias da Kaslan, prometendo bons momentos de diversão aos fãs de horror.

O roteiro do estreante Tyler Burton Smith trabalha bastante com o humor negro, principalmente na primeira metade, quando Andy faz uso da falta de limites do boneco para promover sustos. Aproveita as próprias feições de Chucky – que realmente conseguem ser mais hilárias do que assustadoras – e ainda cria algumas sequências de suspense na tentativa do garoto de esconder um assassinato de seu vizinho, o Detetive Mike Norris (Brian Tyree Henry). Contudo, a melhor parte é reservada para o último e claustrofóbico ato, que, se fosse um pouco mais ousado, poderia elevar bastante os conceitos do longa de Lars Klevberg (do curta Polaroid e do longa Morte Instantânea).

O novo Chucky perde feio para o original em muitos quesitos, incluindo carisma e provocação de sustos. A voz de Mark Hamill é condizente com o novo brinquedo, mas bem diferente do que o público está acostumado com a excelente caracterização de Dourif. São evidentes os efeitos digitais utilizados para a movimentação e expressão facial do boneco, justificados pela tecnologia de inteligência artificial, mas perdem para as ações criativas do filme de 1988, que, escondia bem o brinquedo durante boa parte do filme, e depois incluía animatronics e crianças vestidas. No entanto – vale como elogio pelo que se propõe – Buddi consegue propositadamente ser irritante, como uma criança mimada e carente, principalmente quando entona sua musiquinha da amizade a qualquer momento.

Outra mudança importante em relação ao original envolve o jovem Andy. Se no primeiro filme havia uma preocupação maior com sua sobrevivência pelo fato dele ter apenas seis anos de idade, o personagem de Gabriel Bateman (de Annabelle, Quando as Luzes se Apagam e da série Outcast) está na pré-adolescência, podendo chamar para si a responsabilidade no confronto com o vilão robótico. Ambos sofrem pela desconfiança das pessoas próximas, precisando de sorte e muito esforço para impedir que mais pessoas se machuquem.

Brinquedo Assassino não é melhor do que o longa de Tom Holland, mas tem seus méritos pela contextualização das novas tecnologias e pela promoção de sequências carregadas de humor negro e sangue em profusão. É cedo para dizer se o novo filme tem forças para evocar continuações. Vai depender se o público vai embarcar na brincadeira…

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

15 thoughts on “Brinquedo Assassino (2019)

  • 05/12/2020 em 16:06
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    Para minha surpresa, eu gostei bastante desse filme! Ainda tenho como meus favoritos o 1 e o 2, mas esse me agradou demais…creio que merece o 3º lugar!!

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  • 17/09/2019 em 04:18
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    Uma mera surpresa esse novo filme do chucky! Me surpreendeu de verdade! No meio de tantos filmes ai! Merece atenção e deixa a noiva do chucky no bolso fácil!
    Entretenimento e boas risadas garantidas!

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  • 16/09/2019 em 13:15
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    Eu achei muito bom. Com todos os elementos faltantes do original, ele se superou e criou uma nova história muito boa. O que chega ser irônico, se comparar com o culto de chucky, que tinha todos os elementos pra ser o melhor da franquia toda e conseguiu ser o pior de todos. 3 caveiras merecidas.

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  • 16/09/2019 em 06:18
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    Horrível, 3 estrelas é demais. 1 estrela é o máximo que dá pra considerar e olhe lá.

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  • 31/08/2019 em 20:14
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    Credo, o Chucky da primeira foto tá parecendo aquele pastor de araque, o Marco Feliciano, de olhos azuis!

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  • 30/08/2019 em 17:16
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    Decepcionado, muito ruim como refilmagem e bem mais ou menos como filme indivudualmente.

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  • 26/08/2019 em 19:42
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    Brinquedo Assassino nunca foi grande coisa. Só funcionava mesmo como comédia, como foi feito nos filmes da noiva e do filho do Chucky.

    O primeiro filme de 1988 até tinha bons momentos de suspense, mas também não era isso tudo. Essa refilmagem pelo jeito vai pelo mesmo caminho.

    Parafraseando uma amiga minha: O Chucky e a Annabelle não chegam aos pés do Slappy.

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  • 25/08/2019 em 14:07
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    Mano, esse é o melhor da franquia inteira até agora. A franquia do brinquedo assassino sempre foi horrível, finalmente se reinventaram, não é a melhor coisa do mundo mas é boa até se comparada ao filho do Chucky.

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    • 27/08/2019 em 17:38
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      “esse é o melhor da franquia inteira até agora” “não é a melhor coisa do mundo mas é boa até se comparada ao filho do Chucky.”

      Porra, tu estas se contradizendo, bro.

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  • 24/08/2019 em 23:03
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    Tinham que cagar até no visual do Chucky…

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    • 25/08/2019 em 14:09
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      O filme é bom cara, você que deve ter um péssimo gosto.

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    • 28/08/2019 em 13:17
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      O melhor depois dos três primeiros. Adorei.

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      • 29/01/2021 em 08:55
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        Valeu pela tentativa mas o Chucky Nutella é muito pegajoso e demora muito para fazer a primeira vítima, além de um visual que não assusta nem provoca risos como o original faz.Um pré-adolescente com um boneco foi forçado demais…o final salva um pouco a obra. Exceto o protagonista, os demais atores são fracos

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