Os 3 Infernais (2019)

2.3
(3)

Os 3 Infernais
Original:3 From Hell
Ano:2019•País:EUA
Direção:Rob Zombie
Roteiro:Rob Zombie
Produção:Mike Elliott, Rob Zombie
Elenco:Sheri Moon Zombie, Bill Moseley, Sid Haig, Jeff Daniel Phillips, Richard Brake, Kevin Jackson, Tracey Leigh, Sylvia Jefferies, Emilio Rivera, Richard Edson

A estreia de Rob Zombie na direção de longas, com A Casa dos 1000 Corpos (2003), mostrou que o músico poderia aperfeiçoar ainda mais essa sua paixão pelo cinema de horror. Com muita influência do clássico O Massacre da Serra Elétrica (1974), ainda assim o filme evidenciava uma personalidade que iria além da violência explícita e da trilha sonora pesada: ele mesclava fotografias que acentuavam cores fortes, explorava flashbacks, pesadelos, a insanidade de seus personagens únicos e sangue desmedido para confeccionar um trabalho que nasceu cult. Sem abandonar o trabalho musical com o White Zombie, o cineasta de ocasião acreditou numa franquia com os Fireflies e, dois anos depois, fez Rejeitados pelo Diabo (2005) para somente em 2019 lançar o terceiro filme. Será que precisava ir tão longe?

O primeiro filme, repleto de referências ao gênero, apresentou seus vilões na estrutura que o cinema já havia explorado antes. Um grupo de amigos se diverte no evento de horror do famoso Capitão Spaulding (Sid Haig) e, seguindo sua orientação (no estereótipo do ajudante da estrada), decide ir atrás do temível Doutor Satã (Walter Phelan), encontrando pelo caminho a caronista Baby Firefly (Sheri Moon Zombie). Na casa de aberrações extremas, confrontam outros loucos violentos como a Mãe Firefly (Karen Black) e Otis (Bill Moseley), participando de espetáculos sádicos, encenações, desafios e até um enterro, em cavernas subterrâneas, cobertas de crânios e esqueletos, e criaturas construídas pelo médico infernal. Cheio de alternativas, é o trabalho mais intenso de Rob Zombie e que prometia desenvolver uma personalidade curiosa para a Sétima Arte.

Rejeitados pelo Diabo já tem uma narrativa mais convencional. Após o cerco da polícia à casa dos assassinos, com uma trajetória de anos de violência e desaparecimentos na região, Otis e Baby conseguem sobreviver às investidas do Xerife Wydell (William Forsythe), em uma vingança pessoal pelo irmão morto no filme anterior. Mas, a Mãe (desta vez, Leslie Easterbrook) é presa e, por fim, morta numa atitude que deixa rastros de que o oficial pode ser tão ruim quanto seus inimigos. Logo, os vilões reencontram Spaulding, e o trio continua sua trajetória violenta contra aqueles que cruzam seu caminho, tendo problemas com mexicanos como Rondo (Danny Trejo). Na última cena, feridos, eles enfrentam um outro cerco policial e, ao estilo Thelma & Louise, encaram a morte, sendo fuzilados. Um final até que digno para o que o enredo de Zombie havia proposto desde o primeiro filme.

No entanto, ausente dos cinemas desde 31 (2016), Zombie imaginou que poderia levar seus personagens a um terceiro capítulo. Mesmo depois da icônica sequência que resultou no fuzilamento do trio, o enredo começa mostrando que os três conseguiram sobreviver ao ataque, com mais de 20 ferimentos de bala em cada corpo (!!). Presos e separados, dez anos se passam até a execução de Spaulding – esquálido, Sid Haig já aparentava uma saúde bastante frágil, até culminar com sua morte cinco dias após o lançamento deste filme -, com Otis encontrando um meio de fugir durante a realização de um trabalho em campo, não antes de se vingar de Rondo.

Otis reencontra o meio-irmão Winslow Foxworth Coltrane (Richard Brake), também conhecido como O Lobisomem da Meia-Noite, e a dupla invade a casa do diretor do presídio Virgil Harper (Jeff Daniel Phillips), mantendo sua família sob vigilância para que ele ajude na fuga de Baby. Assim que ela sai da prisão, numa versão completamente insana da já insana personagem, eles matam todos do local e partem para uma nova vida no México. Embora procurados, chegam facilmente ao país e se abrigam num hotel, numa cidade na fronteira, durante a comemoração do Dia dos Mortos. Mas, o gerente reconhece o trio e, por dinheiro, avisa Aquarius (Emilio Rivera), filho de Rondo, que junta um mini-exército de assassinos mascarados para ir à cidade promover uma sangrenta vingança.

Como fizera em Rejeitados pelo Diabo, Zombie quase cria nos vilões a afeição do público ao mostrar que há pessoas ainda piores ou no mesmo nível – como o Xerife e o vingativo filho. Sem o mesmo nível de violência dos filmes anteriores, principalmente o primeiro, o que resta ao enredo são os clichês e absurdos, como o de fazer Baby se tornar experiente com facas e arco-e-flecha, ou incluir situações que facilitam o trabalho do grupo, como o rapaz que se afeiçoa pela garota e mesmo baleado atravessa um campo aberto sem que ninguém o veja se arrastando para levar uma arma e soltar os que são mantidos presos.

Os tais infernais deixam de lado a maldade da América pela nova vida, divertindo-se com prostitutas e jogos. E a personagem que havia se mostrado incontrolável na primeira metade assume um papel consciente no último ato até para enfrentar seus inimigos. Eles, que pareciam não temer a morte, agem com mais cautela, de modo mais planejado no combate aos inimigos, muitos deles estereotipados como já é de praxe na galeria dos personagens de Zombie, pós-A Casa dos 1000 Corpos. Se Rejeitados já apresentava um enredo mais “normal“, diferente do que ele fizera em seu debut, este é ainda mais trivial, seguindo a cartilha da “fuga e vingança“, sem surpreender o público como a sequência final de Rejeitados.

Bastante inferior aos dois primeiros, Os 3 Infernais é só mais uma evidência que Zombie não consegue se esquivar do estilo de cinema tradicional. Até cria personagens curiosos e com estrutura própria, mas são detalhes em um roteiro que se desenvolve para exibição nos cinemas, e não pela realização de um trabalho autoral. É uma pena que Zombie tenha se modificado bastante daquele diretor de 2003, com o alter-ego de Doutor Satã, criativo e insano no desenvolvimento de suas criações.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

7 thoughts on “Os 3 Infernais (2019)

  • 03/02/2021 em 19:18
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    Vi esse filme há bastante tempo, mas pelo que entendi, a galera achou esse meio viajadão. Eu acredito que Zombie assumiu aqui que esse é um filme muito “trash” mesmo, pegou seus personagens fuzilados e jogou eles na tela de novo pro público. Não achei ruim, não! Se quiser falar de violência gráfica, fale com o Zombie. Se houvesse um esporte chamado: “violência entre personagens do bem contra do mal”, essa teria sido uma baita partida. Claro, todos são bem desprezíveis, não tem um “bem” e “mal”.

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  • 24/05/2020 em 08:22
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    A existência desse filme, dado o desfecho do ótimo Rejeitados Pelo Diabo, acaba sendo uma tremenda forçação de barra. As situações são todas inverossímeis e o diretor impõe uma caracterização preconceituosa dos mexicanos praticamente idêntica ao que se vê em Rambo – Até o Fim: os vilões têm vantagem numérica e de armamento mas são vistos como extremamente arrogantes, incompetentes e burros. Se o filme do Stallone ao menos era criativo na violência e com uma montagem ágil, aqui nem isso. Rob Zombie até consegue criar boa expectativa, mas esta acaba no lugar-comum.

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  • 23/05/2020 em 15:24
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    Decepção seria a palavra adequada. Depois de 2 bons filmes Zombie pisou no tomate e viajou na maionese. Parece um filme escrito por um amador, algo totalmente sem pé nem cabeça e que só serviu pra perder o tempo de todo mundo. De terror ou assustador só temos os pobres diálogos e interpretação de Sheri e sua personagem irritante. Um filme que leva do nada a lugar nenhum. Sorte mesmo teve o Captain Spaulding, excluido desse aberração.

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  • 18/05/2020 em 01:15
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    Achei bem fraquinho. Pra não dizer porcaria mesmo. Gostei tanto dos anteriores… Decepção.

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  • 18/05/2020 em 00:02
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    É bizarro como “Casa dos 1000 corpos”, “rejeitados pelo diabo” e “os 3 infernais” se destoam tanto. Eu tenho pra mim que Rob Zombie, ao querer fazer filmes, queria mostrar que se casou com a Sheri Moon (e o quão gata/sexy sei lá ela é) e que era amigo do Bill Moseley. Fim. Era isso, aí ele depois pensou “poxa, eu sou um diretor de cinema mesmo…e…ROTEIRISTA”. Aí a coisa ficou feia. Essa “trilogia” é toda sem noção, os remakes de “Halloween” são remendados (50 versões de cada filme), “31” é ruim pacas e “El Superbeasto” merecia um review do Beavis e do Butthead. O único filme dele que eu achei tolerável foi “As Senhoras de Salém” e mesmo assim é tolerável.

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    • 19/05/2020 em 01:04
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      A casa dos 1000 corpos é mais ou menos esse novo também mas Rejeitados pelo Diabo é ótimo

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    • 17/07/2020 em 20:26
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      CONCORDO!
      Essa trilogia é uma boa de uma bosta. Os personagens são mal desenvolvidos. A gente nem torce contra e nem a favor deles pq eles são chatos pra caralho. A mulher de Zombie é uó e a personagem dela é clichê atrás de clichê; o que uma criança de 11 anos consideraria como psicopata.

      Resposta

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