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Caveiras
Original:
Ano:2018•País:Brasil
Autor:Vitor Abdala•Editora: Generale

Na metade de 2020, foi noticiado que a polícia bateu recordes no Rio de Janeiro. Quem está atento já sabe que não foi por uma boa causa. Nos últimos 22 anos, nunca foram registradas tantas mortes por ação policial no estado. Até junho, foram quase cinco pessoas mortas por dia. Quem está atento, também não tem dificuldades em perceber quem é que morre nessas ações. O assassinato de crianças é frequente. Tanto, que nem choca mais como deveria. E foi em meio a essa escalada de violência que Vitor Abdala buscou inspiração para escrever seu Caveiras, lançado em 2018 pela Editora Generale.

O livro começa com o menino Serginho, um garoto de 12 anos que viu algo que o condenou: policiais do BOPE (um braço da polícia militar do Rio que todo mundo conhece por causa daqueles filmes lá) executando um homem. Serginho corre o máximo que consegue, chega em casa e é assassinado com um tiro na cabeça nos braços de sua mãe. Os policiais eram do BOPE, sim, mas usavam máscaras de caveiras que impossibilitavam sua identificação.

No dia seguinte, Ivo, repórter do jornal O Carioca, vai até a delegacia buscando informações para as notícias que publicará no jornal do dia, e, ao sair, é abordado por Sônia, mãe de Serginho, que, aos prantos, pede ajuda para encontrar e punir os assassinos de seu filho. Interessado na história, Ivo começa uma investigação que inclui visitas ao necrotério e encontros com militares que sabem o que se passa durante as ações da polícia – e, mais importante ainda, antes delas. Ivo, então, conhece Jair (não esse que você tá pensando), um ex-membro do BOPE que relata uma história impossível de acreditar. A narrativa intercala momentos da investigação de Ivo e outros em que o repórter ouve a gravação da conversa com Jair – aos poucos, porque os acontecimentos que o ex-policial conta podem levar qualquer um à loucura. Isso se Ivo de fato acreditar nos relatos do homem, que envolvem rituais e uma poderosa entidade sobrenatural.

Caveiras é uma leitura rápida. O livro de Vitor Abdala mistura investigação policial, ação e coisas que não são desse mundo em uma escrita que nos faz querer ler tudo de uma vez. A ambientação dos acontecimentos no Rio de Janeiro é precisa: qualquer leitor que more em uma cidade grande reconhece as favelas, a má vontade da polícia, a desigualdade, o trânsito, e todos esses aspectos são parte importante da narrativa.

Os personagens que aparecem em Caveiras não são tão aprofundados, exceto pelo protagonista, Ivo. O jornalista é casado e tem um filho, mas não tem muito tempo para a família por conta de seus turnos noturnos no jornal. Mas é justamente sua família que o coloca em conflito: será que ele deve seguir seu instinto jornalístico, mesmo que isso possa colocar as pessoas que ama em perigo? É sua família, também, que rende algumas das cenas mais angustiantes do livro, já quando a merda foi tacada no ventilador e Ivo precisa agir para tentar proteger a todos, em atitudes que levam ao final aterrador de Caveiras.

Se inspirar no mundo real para fazer filmes ou escrever livros é algo bastante comum, mas Abdala faz isso com muita habilidade. Caveiras é um livro assustador, tanto pelos elementos reais, que já seriam terríveis o suficiente, como pelo adendo sobrenatural. Leitura recomendadíssima!

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