Resident Evil 3
Original:Resident Evil 3 Ano:2020•País:Japão Desenvolvedora:Capcom•Distribuidora: Capcom |
Quando ganhei meu primeiro PlayStation, lá para meados do início dos anos 2000, o jogo que veio junto foi Resident Evil 3. Foi um impacto. E embora eu já houvesse jogado Resident Evil 2 em consoles alheios, a verdade é que foi o terceiro capítulo da franquia de terror da Capcom que me arrebatou para o mundo dos jogos de terror. Tudo no jogo era fascinante, o controle da heroína Jill Valentine tentando sobreviver ao apocalipse com o péssimo look de shortinho, tomara-que-caia e fuzil automático, os cenários belíssimos para a época, os zumbis aterradores e um monstro caótico e desesperador que dava subtítulo ao jogo, o aclamado Nemesis. Perdi as contas de quantas horas me dediquei aquele jogo. E por isso minhas expectativas com o remake de Resident Evil 3 estavam altas. Era meu RE favorito que a Capcom estava repaginando. E por mais que a empresa tenha acertado imensamente e recuperado o prestígio com os fãs em Resident Evil 7 e o Resident Evil 2 do ano passado – inclusive, chamado de o melhor remake de um jogo de todos os tempos por muitos – a verdade é que o novo Resident Evil 3 é sim um bom jogo, mas que diferentes desses dois antecessores, deixa um gostinho de que poderia ter sido ainda maior e melhor.
Começamos Resident Evil 3 com acontecimentos ainda anteriores a RE2. Racoon City está explodindo em caos. O T-virus se espalha em velocidade impossível de ser controlada. A população sucumbe com monstros por todos os cantos para logo em seguida se tornarem monstros também. Em seu quarto, num apartamento obscuro, a detetive Jill Valentine mantém suas investigações sobre a Umbrella Corporation, empresa de armas biológicas que controlava a cidade e é a responsável por todo o problema. Após uma ligação, Jill percebe que definitivamente é hora de fugir dali. Mas é tarde demais. A própria Umbrella mandou sua maior arma para destruir aqueles que tem provas contra ela. E logo nos primeiros minutos, precisamos controlar Jill para fugir da destruição colossal que Nemesis foi capaz de causar em seu prédio.
Esse começo já entrega o espírito de Resident Evil 3. Se o jogo de 1999 nos dava um equilíbrio maravilhoso entre ação e terror, a verdade é que o remake do terceiro título está bem mais voltado para a ação. Novamente em terceira pessoa e com a mira do personagem sobre o ombro, o motor RE Engine vem aqui em seu ápice, nos entregando um jogo lindo e absurdamente realista, parecendo ainda melhor no que foi mostrado no remake do 2, que já era um baita feito gráfico.
Bastante linear, com mais munição disponível e áreas maiores para confrontos com bem mais inimigos, a verdade é que o começo de Resident Evil 3 é sua melhor parte. Após encontrar o grupo de mercenários da Umbrella e ter que aguentar os flertes inconvenientes do soldado Carlos, Jill precisa religar um trem e salvar alguns civis. Pelas ruas da cidade, é possível explorar mais livremente e lutar contra os inimigos mesclando estratégias, tendo ainda o prazer de explodir barris que matam vários ao mesmo tempo.
O jogo também traz uma habilidade nova, a esquiva. Bastante útil, dominá-la realmente faz a diferença durante a campanha. Se você apertar na hora certa, ganha praticamente de brinde um timelapse e a mira da arma vai direto pra cabeça do inimigo.
Mas facilidade não é exatamente a palavra aqui. Os zumbis, embora menos intimidadores, são esponjas de balas. Acabar seus estoques de munição e ervas de cura é até bem fácil e você pode se ver desesperado apenas com uma faca.
E é também no começo do jogo pelas ruas de Racoon City que você percebe como Resident Evil 3 poderia ter sido maior e, infelizmente, não ousou ser. As ruas e avenidas estão providencialmente fechadas por veículos atravessados, os caminhos a ser seguidos acabam sendo definidos demais. Para um jogo da atual geração, o quão maravilhoso não seria ver uma área gigantesca, aberta, pronta para ser explorada de forma irregular e cheio de desafios que sairiam dos objetivos principais? Jill está no olho de um furacão. Mas é um furacão organizado demais.
Fora das ruas da cidade no início, o jogo fica ainda mais linear. As áreas do esgoto e seus seres gosmentos de one hit kill são o momento mais chato. A decisão de retirar todo o arco da Torre do Relógio também teve um peso negativo. Mas reinvenções aproveitando principalmente a alternância de jogabilidade com Carlos foram muito bem vindas. As partes de visita a delegacia é bem aproveitada, mas é a área do hospital que mais se destaca, de longe o momento mais aterrorizante do jogo.
Tá, mas e o Nemesis?
Nemesis é o vilão mais icônico da franquia. Seu apelo foi tão grande no jogo original que a versão americana decidiu que para impactar ainda mais o lançamento após o sucesso colossal de Resident Evil 2, o nome do monstro viria como subtítulo na capa. A grande verdade é que seu sucesso extrapola RE3 e ele está presente em boa parte da cultura pop de terror, a ponto de ser já o principal vilão no segundo filme daquela franquia duvidosa, estando presente até em jogos de luta da Capcom como personagem avulso. Seu sucesso foi tamanho, que não faltaram tentativas de emulação dentro da própria franquia, como em Resident Evil 6 como o cansativo e quase nada lembrável Ustanak.
Por consequência, a expectativa em cima do monstro ficou gigantesca para o remake e, infelizmente, ele não é exatamente a coisa mais interessante do novo Resident Evil 3. Depois de sua ótima introdução, seus momentos na cidade em perseguição livre são os melhores, mas ainda sim são fracos, com pouco desafio e terror em seus encontros pelos ambientes tendo a fraca variação entre enfrentá-lo obrigatoriamente ou simplesmente fugir no que mais parece ser uma cutscene.
Junto com a primeira batalha oficial contra o monstro no telhado de uma construção, a versão clássica bípede do ser colossal que agora carrega um lança-chamas é a melhor. Mas diferente do primeiro jogo, essa versão dura pouquíssimo tempo. Após a primeira derrota, Nemesis começa suas transformações física e encorpa um ser quadrúpede ainda menos pensante, que parece ser mais desafiador, mas que nos frustra com aparições previsíveis e batalhas que são sim divertidas, mas nada desesperadoras como no jogo original.
Aqui, Nemesis não vai estar no seu pensamento em tempo integral como um fantasma ou uma sombra que você nunca saberá quando cairá. Depois do impecável vilão que foi Mister X no remake de Resident Evil 2, o monstro mais famoso criado pela Capcom merecia um trabalho de polimento e uma participação mais marcante para que seu nome fosse preservado. Até mesmo sua fase bípede é exageradamente curta em comparação ao jogo original. E embora todas suas lutas sejam sempre empolgantes, o momento final entre Jill e Nemesis – que era bastante marcante no original junto a uma arma não convencional – virou algo quase desnecessário nesse remake.
Ainda assim, o que falta de carisma ao antagonista, sobra em Jill. Aclamada pela comunidade de fãs de Resident Evil desde sempre, aqui ela aparece como uma máquina de guerra. Extremamente habilidosa e altamente treinada, Jill ganha status de super herói neste jogo tamanha sua desenvoltura, nunca aceitando ser subjugada pelos outros personagens. Mesmo o bastante reformulado Carlos também é carismático, com sua dinâmica com Jill funcionando da metade para o final, enquanto o vilão humano Nicholai tem talvez menos espaço do que merecia graças a sua liberdade na mitologia da franquia, mas ainda assim tem seus momentos marcantes e bem aproveitados.
O remake de Resident Evil 3 é sim um baita jogo, mas que talvez tenha se fidelizado demais a seu original em aproveitamento do espaço possível e o curto tempo de duração, podendo ser completado pela primeira vez em menos de sete horas. A Capcom continua surfando no seu bom momento da maior franquia de jogos de terror existente, mas esperamos sinceramente que ouse mais nas próximas manobras.
Eu como sou fã e viciado em jogos de terror, esperava mais do RE3, em 6 horas e 30 minutos acabei o jogo, tudo bem que o cenário e o jogo são muito bom mais pelo preço que estavam vendendo e pelo valor que eu paguei, achei muito caro pelo tempo, poderiam ter se puxado mais as empresas.