A Ilha da Fantasia (2020)

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A Ilha da Fantasia
Original:Fantasy Island
Ano:2020•País:EUA
Direção:Jeff Wadlow
Roteiro:Jeff Wadlow, Christopher Roach, Jillian Jacobs
Produção:Marc Toberoff, Jeanette Volturno
Elenco:Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell, Jimmy O. Yang, Portia Doubleday, Ryan Hansen, Michael Rooker, Parisa Fitz-Henley, Mike Vogel, Kim Coates, Robbie Jones

Uma das principais séries do início dos anos 80, constantemente exibida na televisão, numa época em que não havia necessidade de seguir uma linha cronológica de acontecimentos, Ilha da Fantasia teve como principal referência dois personagens: o administrador da ilha, Sr. Roarke (interpretado por Ricardo Montalbán, em seu característico terno branco) e seu assistente, o anão Tattoo (Hervé Villechaize). Ambos cuidavam de uma ilha paradisíaca, que recebia a cada episódios novos hóspedes, com a proposta de realizar qualquer fantasia desde que esteja ciente dos riscos que isso envolve. Além do valor alto pago, os clientes viviam experiências extremas, literais, e que resultavam em lições de moral sobre a própria vida e o modo de lidar com seus problemas. Iniciada em 1977, a série durou até 1984, com 152 episódios divididos em 7 temporadas, além de dois filmes. Em 1998, foi realizado um reboot, sem muito sucesso, tendo Malcolm McDowell como o Sr. Roarke; e, em 2020, foi a vez da Blumhouse imaginar uma versão terror do conceito.

A ideia surgiu em 2018, quando o roteiro de Christopher Roach e Jillian Jacobs chegou às mãos de Jeff Wadlow. Com o acerto entre os três e o interesse da produtora de Jason Blum, o longa recebeu luz verde para sua realização, iniciando a fotografia principal em meados de 2019, com boa parte das filmagens ocorrendo em Viani Bay, nas ilhas Fiji. Wadlow revelou na época que via seu filme como uma mistura de Westworld com O Segredo da Cabana, talvez considerando a ilha como um evento em que as coisas não funcionam como deveriam, com o envolvimento de elementos sobrenaturais. É uma definição exagerada, uma vez que A Ilha da Fantasia, na verdade, não vai além de um passatempo descartável, com uma série de furos notáveis.

Um grupo chega de avião à ilha – é impossível não sentir falta do anão que corria gritando “o avião, o avião“, enquanto tocava o sino. Gwen (Maggie Q, de Pesadelos Mortais, 2017), Patrick (Austin Stowell, de Colossal, 2016), Melanie (Lucy Hale, de Verdade ou Desafio, 2018), e os irmãos JD (Ryan Hansen, de Sexta-Feira 13, 2009) e Brax (Jimmy O. Yang) conseguiram a vaga através de um concurso e estão ansiosos pela realização de suas fantasias. Assim que são recebidos pelo anfitrião Roarke (Michael Peña, de Exorcistas do Vaticano, 2015), ainda incrédulos em relação ao que será proposto, os hóspedes são separados para que seus desejos possam ser atendidos.

JD e Brax são agraciados com uma festança na piscina, com muitas mulheres e homens dispostos a atender seus desejos de bebida, sexo e música; Gwen tem a chance de corrigir um erro do passado, quando não aceitou o pedido de casamento do homem de sua vida, Allen (Robbie Jones); Patrick tem o sonho de vivenciar o que seu pai, herói de guerra, experimentou; e Melanie só tem o desejo básico de se vingar de uma antiga colega de escola, Sloane (Portia Doubleday, de Carrie, A Estranha, 2013), no comando de uma sessão de dor e sofrimento com o Dr. Tortura (Ian Roberts). Tudo parece bem, como uma fantasia de sonhos se transformando em realidade, mas o que cada um mais deseja começa a se misturar com as vontades do outro, e não ocorrendo da maneira como planejavam. Por exemplo, Patrick é sequestrado por um grupo de soldados liderados exatamente por seu falecido pai, e eles acabam em um confronto com um grupo de guerrilheiros que decide invadir a festa de JD e Brax em busca de cocaína e dinheiro.

Além dessa luta constante pela sobrevivência, tendo que enfrentar inimigos que morrem e nascem novamente, na emissão de um líquido escuro, eles ainda percebem que não estão ali por acaso e que a reunião pode ter algo a ver com a fantasia de uma única pessoa, disposta a se vingar de uma tragédia do passado. Quem os alerta sobre os perigos da ilha é o selvagem Damon (Michael Rooker, de Seres Rastejantes, 2006), que conhece uma caverna onde há a fonte de realização dos desejos, e pretende ajudar o grupo a descobrir as verdadeiras intenções de Roarke, e ainda encontrar meios de sair dali.

Como se nota, o enredo de A Ilha da Fantasia é bastante dinâmico ao conduzir os personagens entre pesadelos e confrontos, como pequenos núcleos inicialmente isolados que, ao final, irão se unir para o embate contra o verdadeiro inimigo. Esse ritmo intenso é o grande mérito do trabalho de Wadlow a ponto de bombardear o infernauta com acontecimentos e surpresas, criando situações de suspense e tensão, com uma boa direção, e contando com a química do elenco. Os pontos positivos, contudo, terminam aí. Uma observação mais aprofundada irá permitir que saltem aos olhos diversos furos do roteiro, com a grande maioria envolvendo uma determinada personagem que traz a principal surpresa da produção. Até a revelação, suas ações eram completamente diferentes e não condizentes com a sua mudança de comportamento no final, o que deve ser mais evidente numa segunda conferida. E há também percalços nas falas de Damon (como a de dizer que não conseguiu telefonar por ter o celular destruído por Roarke, mas não reparar que Melanie está o tempo todo com um, usando-o, inclusive, como lanterna; e nunca ter pensado no óbvio que seria a destruição da fonte); nas decisões de Roarke e até na postura de Patrick (que embora queira ser um herói como o pai, somente expõe sua covardia).

A Ilha da Fantasia também não esconde seus clichês. Segue a cartilha da Blumhouse no gênero ao trabalhar com um elenco jovem, fazer uso do humor por diversas vezes, e criar situações óbvias, que irão culminar em coincidências que facilitam o roteiro. Embora seja uma produção de terror, há elementos de drama e uma dose mínima de sangue. E o vilão sobrenatural, o tal Dr. Tortura, é pouco explorado, mesmo sendo a melhor criação da produção, no momento que remete aO Albergue. Vale menção também a presença do veterano ator Kim Coates (da série Sons of Anarchy), como o líder dos guerrilheiros, em uma de suas boas interpretações.

Com algumas referências à série original, seja nas falas e até na apresentação de um possível “Tattoo“, A Ilha da Fantasia é apenas razoável. Se você não criar uma grande expectativa (não for uma de suas fantasias), pode ser que não se incomode com a trama e até encontre alguns momentos perdidos de diversão.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “A Ilha da Fantasia (2020)

  • 06/12/2020 em 11:14
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    Deveriam ter dado uma caveira. Um dos piores filmes que já vi. Infelizmente, uma rede que tem espaço para um Michael Bay tem espaço para esse tipo de roteiros mal feitos também.

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  • 07/11/2020 em 21:54
    Permalink

    Vc poderia ter contado menos sobre o filme ou alertado que daria um spoiler, estou falando sobre a revira-volta onde todos estão lá por conta do desejo de uma pessoa.
    Enfim.
    Uma pena que um site comprometido á tanto tempo com filmes de terror, desrespeite seu leitor de maneira tão amadora.
    Quanto ao filme, uma vez reveilado o mistério, perdi a vontade ver.
    Desejo sorte á vocês.

    Resposta

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