Não Desligue
Original:Don't Hang Up
Ano:2016•País:UK Direção:Damien Macé, Alexis Wajsbrot Roteiro:Joe Johnson Produção:Farah Abushwesha, Laurie Cook, Jason Newmark, Romain Philippe Elenco:Gregg Sulkin, Garrett Clayton, Bella Dayne, Sienna Guillory, Edward Killingback, Jack Brett Anderson, Robert Goodman, Mike Bodie, Philip Desmeules, Parker Sawyers, Alex Dee |
Com o avanço dos recursos de registro e gravação, produzir vídeos de boa qualidade passou a ser comum. Qualquer pessoa com um simples aparelho celular já é capaz de produzir seus próprios conteúdos audiovisuais, criar um canal virtual temático e compartilhar suas produções. E a busca por visualizações, os chamados “likes” e “inscritos“, e o sucesso imediato fizeram com que muitos dessa geração “youtuber” fossem capazes de gerar o inimaginável, apenas como meio de testar a popularidade. Não é preciso pesquisar muito para saber sobre o rapaz que se enviou pelo correio, o que foi enterrado vivo, realizou ações bizarras como a de lamber vaso sanitário público e até mesmo gravou a si mesmo parado, sem fazer absolutamente nada. E o que mais impressiona em todos esses casos é que o objetivo foi realmente alcançado: tais insanidades geraram milhares de visualizações, imitadores (os chamados “desafios“) e retorno financeiro para os realizadores. É claro que há também os bons produtores, pessoas que criam material interessante de pesquisa e informação, mas que compõem uma baixa porcentagem (e são em grande parte os que possuem menos seguidores), precisando muitas vezes que o espectadores passem uma peneira exigente nos sites de compartilhamento de vídeos. Por essas e outras que filmes como o Não Desligue (Don’t Hang Up, 2016) torna-se divertidamente necessário.
Ele simplesmente representa uma resposta à ousadia dos produtores de vídeos supérfluos. Tendo em vista que muitos desses materiais divulgados acabam machucando pessoas – lembra do “jogo da Baleia Azul“, do Momo, do Homem Pateta e de outros que incitaram suicídios e atos de violência? -, o roteiro de Joe Johnson explora uma vingança inteligente contra um grupo de youtubers que prega peças de mau gosto no público, na composição de um programa de trotes. São quatro rapazes idiotas, com destaque para os amigos Brady (Garrett Clayton) e Sam (Gregg Sulkin), além do idealizador Roy (Edward Killingback) apelidado de “Prankmonkey69“, e que você não irá dar a menor importância pelo destino reservado. No prólogo, vemos o grupo em ação, aterrorizando uma mulher por telefone dizendo ser da polícia e que estão sabendo que um homem invadiu a casa e está com a filha dela. Depois são mostrados vários outros exemplos das brincadeiras exageradas do grupo, e a crescente popularidade em views e acessos.
Em dado dia de pizza e curtição somente entre os dois, Sam está angustiado pelo modo estranho como sua namorada Peyton (Bella Dayne) anda agindo, suspeitando que ela possa estar desinteressada no relacionamento. Eles recebem uma ligação estranha de uma pessoa que parece conhecê-los bem e que somente pede que “não desliguem” o telefone – algo comum no programa dos rapazes. O que parece ser brincadeira de um amigo adquire tons sérios quando a pessoa misteriosa tem conexão com todos os aparelhos da moradia (algo exagerado, mas tudo bem) e mostra na TV os pais de Brady amordaçados em uma cadeira. O estranho mascarado inicia um jogo com a dupla, com ameaças e exigências, demonstrando estar disposto a ferir pessoas queridas da dupla caso não entrem na brincadeira proposta.
Com o completo controle sobre Brad e Sam, o “sr.Lee” provoca tensão e desespero na antecipação de suas próprias ações. Cria um clima claustrofóbico e confusão, sem que os rapazes consigam entender se estão vendo um vídeo gravado ou imagens ao vivo. E se beneficia da absoluta estupidez da dupla que, mesmo percebendo que o notebook está usando a webcam como câmera, nem sequer desce a tela ou faz algo para impedir a observação do stalker. Apresentando-se com uma máscara sinistra e sem personalidade, o Sr.Lee traz incômodo, perturbação, tortura física e psicológica, além de assassinatos para tornar os jovens marionetes de um jogo sádico e inteligente. É claro que o próprio vilão também precisa contar com algumas coincidências narrativas e facilitações do roteiro de Joe Johnson para que seu plano tenha o resultado esperado.
Com a direção ágil de Damien Macé e Alexis Wajsbrot, Não Desligue bebe de muitas fontes conhecidas. Há referências à franquia Pânico, ao anterior Eu Vi o que Você Fez e sei Quem Você é (1988) e Jogos Mortais (2004), principalmente no que tange a uma das surpresas da produção – soa até previsível para quem se recorda das primeiras ações de JigSaw. Ainda que o enredo não seja inovador, ele funciona bem como um thriller de tensão e mistério, daqueles que podem prender o infernauta ao assento pela curiosidade sobre a identidade do psicopata. E leva uma avaliação bônus se pensar que a trama propõe uma bela vingança contra esses produtores de conteúdo que fazem qualquer idiotice para chamar a atenção.
Faz uma crítica do filme novo da Netflix Ponto vermelho ✌