Invasores de Corpos (2020)

4.8
(11)
Invasores de Corpos
Original:The Body Snatchers
Ano:2020•País:EUA
Autor:Jack Finney•Editora: Darkside Books

Para que se possa entender uma obra clássica em toda a sua magnitude, é preciso analisar seu contexto e período históricos. Uma história sobre invasão zumbi escrito em 1960 não será tão impactante quanto uma escrita nos anos 2000, assim como um livro que se passa nos anos 50, porém escrito nos dias atuais, provavelmente terá mais detalhes macabros do que uma história que de fato foi pensada nos anos 50. No passado, colocar em prática algo como pessoas mortas voltando à vida ou uma invasão alienígena era aterradora, impensável e, é claro, absurdamente assustadora. Tais narrativas são tão revolucionárias para a época, que é exatamente o motivo de virarem clássicos. Pode parecer algo ordinário nos dias atuais, mas não há 70 anos. Se não fosse esse pontapé inicial muitos anos atrás, não teríamos a evolução do horror e da ficção científica até o ponto que conhecemos hoje, com enredos elaborados e efeitos especiais extremamente realistas. Entendendo a importância disso, a grandiosidade de uma obra pioneira fica evidente.  Invasores de Corpos, escrito em 1955, é exatamente um desses casos.

A vida seguia como sempre na pequena cidade de Santa Mira, Califórnia. O doutor Miles Bennel acabara de chegar em casa após encerrar o expediente em sua clínica, quando ouve batidas à porta. Por ser médico, logo imaginou que seria alguém vindo chamá-lo por causa de alguma emergência ou mesmo algo mais banal, como uma dor de cabeça. Ao abrir a porta, fica surpreso por estar frente a frente com Becky Driscoll, uma antiga paixão dos tempos de colégio.

Ambos, agora adultos, tinham passado por casamentos turbulentos que resultaram em divórcio, mas não foi para botar a conversa em dia que Becky resolveu ir até lá, e sim por causa de um grave problema. Sua prima, Wilma, afirmava que seu tio não era ele mesmo. Não como se fosse algum transtorno de personalidade, e sim que literalmente não era ele. Wilma insiste que outra pessoa havia se apoderado do corpo de tio Ira, o que deixou Becky preocupada e temendo pela saúde mental da prima, e só conseguiu pensar em Miles para ajudá-la, talvez passar lá para uma conversa apenas por precaução.

Concordando, o jovem doutor casualmente passou na casa onde Ira vivia com sua esposa e com Wilma. Como já havia sido próximo da família, não seria estranho passar por lá com Becky para uma visita, e ainda poderia analisar Ira em uma conversa casual sem levantar suspeitas. Como já imaginava, o homem parecia ele mesmo, tanto na aparência quanto nos trejeitos e memórias antigas, portanto, Miles sugeriu a Wilma conversar com um psiquiatra para tentar descobrir o que estava causando aquele estranhamento.

E aí começaram os problemas. Cada vez mais gente aparecia relatando que seus filhos, maridos, esposas, amigos de infância não eram eles mesmos. As memórias estavam lá, mas as emoções não. Algo tinha mudado, tudo parecia igual, mas não estava. Miles e seus amigos especialistas começaram a achar que era um surto coletivo, até que o próprio médico teve sua racionalidade e crenças desafiadas ao se deparar com um corpo sem impressões digitais, sem fisionomia, um corpo “em branco”, pronto para ser preenchido com as características de alguém.

O medo do desconhecido sempre foi, e ainda é, algo muito presente e inerente ao ser humano. Em 1955 o homem ainda não havia ido ao espaço, portanto, imaginar que uma invasão alienígena poderia acontecer, ainda mais de modo silencioso e furtivo, era uma das coisas mais aterrorizantes que se poderia pensar. Imaginar que seu vizinho não é mais seu vizinho, e sim um clone extraterrestre que a qualquer momento pode substituir toda a sua família por outros clones é sufocante, e Jack Finney explorou isso da melhor maneira possível, deixando todos com os nervos à flor da pele conforme as páginas são viradas e, graças a isso, deixou um legado imensurável que continua rendendo frutos.

Levando em conta o contexto político, Invasores de Corpos se passa no auge da Guerra Fria, com os Estados Unidos com medo e atentos a uma provável ameaça comunista. Desconfiança rondava as vizinhanças, paranoias a cada esquina, perseguições contra pessoas que pensavam diferente.  O medo de infiltrados na sociedade era tanta, que a ameaça poderia estar em qualquer lugar, poderia fazer com que cidadãos comuns sofressem uma lavagem cerebral e começassem a se portar de modo diferente.  Pode não ter sido uma intenção consciente de Finney – coisa que o próprio autor já disse que realmente não foi -, mas o fato é que sempre temos uma crítica social e/ou política por trás de obras de terror. O medo do desconhecido não se restringe apenas a espíritos, zumbis ou alienígenas, também abrange terrores sociais.

Apesar de ter sido escrito na década de 50, Invasores de Corpos continua atemporal e inspirando diversos filmes, livros e séries, sendo um dos maiores clássicos da ficção científica. Pode parecer uma obra simplória se não for prestada a devida atenção, mas na verdade retrata uma sociedade doente, desconfiada e paranoica, com um pavor sufocante do que pode estar lá fora – seja isso alienígenas ou apenas comunistas. Nada diferente dos tempos atuais.

O livro de Jack Finney possui quatro adaptações cinematográficas: Vampiros de Almas (1956), Invasores de Corpos (1978), Os Invasores de Corpos: A Invasão Continua (1993) e Invasores (2007), apesar deste último ser bem diferente do material original. Além disso, influenciou diversas produções, como Calafrios (1975), O Enigma de Outro Mundo (1982), Prova Final (1998) entre muitos outros.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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