Rogai por Nós
Original:The Unholy
Ano:2021•País:EUA Direção:Evan Spiliotopoulos Roteiro:Evan Spiliotopoulos, Produção:Sam Raimi, Evan Spiliotopoulos, Rob Tapert Elenco:Jeffrey Dean Morgan, Cricket Brown, William Sadler, Cary Elwes, Katie Aselton, Christine Adams, Diogo Morgado, Marina Mazepa, Gisela Chipe, Kiara Pichardo |
A fé pode ser mais assustadora que uma representação de seu poderio divino. Da mesma forma que intriga, encanta e é um dos fenômenos mais impressionantes que envolvem a humanidade, também é passível de conduzir a um inferno de deterioração psicológica. É mais ou menos assim: ela tanto pode se alimentar de energias positivas, quanto das negativas; e aqueles que depositam nela todas as suas crenças, se não saciados como esperam, em alguns casos, sofrem do efeito contrário, envolto em decepção e sentimento de perda. Não é por mero acaso que desde sempre ela é usada como ferramenta de manipulação e exploração, vide o papel do clero nos tempos do teocentrismo, e todo o desespero e incerteza que tomou conta do Homem durante a Reforma. Assim, é facilmente compreensível que ela seja o combustível do longa Rogai por Nós (The Unholy, 2021), no debut de Evan Spiliotopoulos, que chegou aos cinemas pandêmicos no dia de 6 de maio.
Produzido pela Ghost House Pictures, de Sam Raimi, e contando no elenco com Jeffrey Dean Morgan (o Negan, de The Walking Dead), Katie Aselton, William Sadler, Diogo Morgado e Cary Elwes, o filme foi bastante afetado pela pandemia do corona vírus. As filmagens principais começaram no final de fevereiro de 2020, mas foram interrompidas no momento em que a doença avançava de maneira absoluta. Depois, retornaram para a conclusão da fotografia principal, com pouquíssimos atores nos sets, e isso é realmente notado em diversos momentos, aproveitando-se do enredo se passar na pequena e sonolenta cidade de Banfield, em Massachusetts, onde acontece a cena inicial, levemente inspirada em Black Sunday.
Nela, ambientada em 1845, uma mulher é condenada à morte por bruxaria, e tem uma máscara cravada em seu rosto, antes de ser queimada e ter a alma oferecida a uma boneca Rainha da Colheita. Mais de cento e setenta anos depois, a trama mostra o mal sucedido jornalista Gerry Fenn (Dean Morgan) penando para conseguir alguns ganhos com matérias que não possuem a menor relevância, como a do gado da tal Banfield, que parece ter sofrido mutilações. Ao constatar que se trata de uma assinatura com o símbolo do Metallica, Gerry ouve sussurros advindos de uma árvore nas proximidades e encontra a tal boneca, imaginando que dali pode-se criar uma história. Ele pisa nela e faz algumas fotografias com o fazendeiro local, para posteriormente sofrer um acidente na estrada próxima ao desviar de uma moça perdida em devaneios.
A jovem é a surda-muda Alice (Cricket Brown), que ele a conduz até a região para buscar ajuda, alegando tê-la ouvido falar. É o que acontece no dia seguinte, quando Alice não apenas passa a ouvir e falar, como diz ter sido salva pela Virgem Maria. É só o primeiro dos milagres que acontecem no local, sempre em contato com o que ela acredita ser a santa, atraindo olhares para a região, além da presença de enviados da Igreja Católica como o bispo Gyles (Elwes) e o Monsenhor Delgarde (Morgado). Os acontecimentos reerguem a carreira de Gerry, e tornam Banfield como uma das cidades que foram testemunhas de fenômenos que parecem justificar a força da fé. O problema é que, aos poucos, o jornalista começa a perceber, com o apoio do Padre Hagan (Sadler), que a raiz de tudo pode não ser divina.
Aparições começam a atormentá-lo – em sequências que incomodam por forçar o jumpscare no avançar de assombrações digitais na direção da tela -, e a pesquisa do padre remete ao acontecimento histórico envolvendo a bruxa Mary Elnor (Marina Mazepa), mostrada na cena inicial. Mas como enfrentar uma entidade poderosa, que parece se alimentar da fé da população, em um estado crescente de loucura e pregações? E tudo ainda é dificultado pelo fato do jornalista saber que uma tentativa de destruição da fé, em uma ação improvável até porque, para os que acreditam, até provas contrárias não significam nada, pode levá-lo ao fim absoluto de sua carreira, agora em alta, e a tal assombração parece disposta a não somente se fortalecer pela crença como também eliminar qualquer um que tente desacreditá-la.
O argumento de Spiliotopoulos tem como base o romance de 1983 Shrine, de James Herbert. Provavelmente deve funcionar de maneira mais adequada em sua versão literária até porque o longa, pela necessidade de acelerar os acontecimentos, deixa tudo ainda mais inverossímil. Além dos efeitos fracos incomodarem em demasia – e são usados à exaustão -, a obra peca – perdoe o trocadilho – pelo modo como tudo se resolve no último ato. Em uma adaptação como série, explorando a relação fé x Homem e a dificuldade em abalar a crença de um povo, talvez o resultado pudesse ser mais satisfatório. Como opção de roteiro, o prólogo também poderia ter sido deixado de lado, como uma forma de levar o espectador a alguns questionamentos sobre os mistérios que envolvem o longa. Perde-se muito por já adiantar ao espectador que se trata das ações de uma bruxa morta na região.
Mesmo irregular, mas contando com boas atuações, principalmente da jovem milagreira, e com um argumento até que interessante, Rogai por Nós é um filme que merece uma conferida, como testemunha do poder da fé nas pessoas e o quanto ela também pode ser perigosa. É ver para crer.
Eu gostei muito da ideia do filme em si e do tema abordado, o que me incomodou foram os efeitos computadorizados de péssima qualidade, incluindo a personificação da “entidade” em si, mas
no geral achei um bom filme, gosto do ator principal e gostei da atuação da menina, pelo menos o filme fugiu da mesmice dos “exorcismos” .