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Livros de Sangue: Volume 1
Original:Books of Blood - Volume One
Ano:2020•País:EUA
Autor:Clive Barker•Editora: Darkside Books

“Todos somos livros de sangue. Sempre que abertos, vermelhos.”

Quando pensamos em Clive Barker, normalmente a primeira coisa que vem à mente são os cenobitas de Hellraiser. Mas, antes deles, entre 1984 e 1985, Barker escreveu seus Livros de Sangue, antologias de contos publicados em seis volumes. E no ano passado a editora DarkSide Books, que já tinha lançado Hellraiser, Evangelho de Sangue e Candyman no Brasil, finalmente publicou o primeiro dos Livros de Sangue por aqui, em parceria com a Macabra TV.

Com introdução de César Bravo (Ultra Carnem, VHS, DVD) e tradução de Paulo Raviere, Livros de Sangue: Volume 1 reúne seis contos, sendo que o primeiro deles, intitulado O Livro de Sangue, é a “moldura” que abriga todos os demais. Aqui conhecemos uma pesquisadora do sobrenatural que acompanha um suposto médium que consegue se comunicar com os mortos e contar suas histórias. O garoto é um canastrão, e os mortos não gostam nada disso. A barreira entre o nosso mundo e o deles se rompe, e o corpo do garoto é de fato usado pelos mortos para que eles escrevam suas histórias, as que leremos em seguida.

Livros de Sangue é, como toda a obra de Clive Barker, bastante visual, oferecendo ao leitor imagens espetaculares e grotescas muito bem descritas, para o bem do nosso desgraçamento mental. Desde esse primeiro conto já fica bem claro que é esse o caminho que será seguido ao longo do livro, com direito a visões capazes de matar um ser humano só por vislumbrar o lugar onde os mortos caminham: as estradas que se cruzam com o nosso mundo, habitadas por almas de pessoas que morreram em sofrimento, munidas de todo tipo de história macabra. Mas que histórias são essas?

A primeira delas é O Trem de Carnes da Meia-Noite, que chegou a ser adaptada para os cinemas em 2008 no interessante O Último Trem. O conto é ambientado em uma Nova York habitada por um serial killer conhecido como “Açougueiro”, que ataca no metrô. Acompanhamos Leon, um homem que cruza o caminho do serial killer e desvenda um contexto histórico na matança. Claustrofóbico e violento, O Trem consegue fazer uma representação fiel do que é o sentimento de viver em uma grande metrópole.

O Yattering e Jack muda bastante o tom. É o conto “engraçadinho” do livro, que acompanha um demônio (o Yattering) que tem como missão assombrar e enlouquecer um homem (o Jack), mas falha miseravelmente em todas as tentativas, já que parece que nada abala a tranquilidade do humano (que o digam os gatos mortos na história). O conto é um respiro cômico em meio aos demais, mas não deixa de ser uma história macabra e cheia de reviravoltas.

O Blues do Sangue de Porco é o mais perturbador entre os contos desse volume. Aqui, Redman é um policial que começa a trabalhar em uma prisão para jovens infratores e tenta proteger um dos detentos, um garoto que sofre nas mãos dos demais. Nessa jornada, ele descobre que há uma porca nas instalações, e que ela exerce algum tipo de fascínio sobre os jovens. Uma leitura repugnante, mas ao mesmo tempo impossível de parar antes de chegar ao final.

Antes de escrever os Livros de Sangue, Clive Barker era dramaturgo, e talvez por isso Sexo, Morte e Estrelas seja o conto mais pessoal desse volume – e o mais bonitinho também. Em um teatro prestes a receber sua última peça, a visita do misterioso e elegante sr. Litchfield muda completamente os rumos da produção. Por mais que o conto envolva a morte, trata-se de uma carta de amor a uma arte tantas vezes renegada.

Por fim, o conto que encerra o livro é uma obra prima perturbadora. Nas Montanhas, As Cidades acompanha uma tragédia que acontece durante um duelo entre duas cidades da Iugoslávia, uma celebração ancestral que acaba em um acidente e envolve um casal de turistas que passava férias no local. A descrição dos gigantes formados pelos habitantes de Popolac e Podujevo são impressionantes e devem ficar por bastante tempo na mente do leitor.

Livros de Sangue: Volume 1 é um trabalho imperdível de Clive Barker, que apresenta o início do que ele viria a se tornar, um dos maiores escritores de horror até hoje, celebrado por mestres como Stephen King. Os contos desse primeiro volume devem ser tão reverenciados quanto a Porca, tão admirados quando o sr. Litchfield. E não para por aí: a DarkSide já anunciou a publicação dos demais volumes. Ainda há um longo caminho a percorrer nas estradas de Clive Barker.

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2 Comentários

  1. Bom pra caralho
    E o segundo volume também

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