O Vale Assassino
Original:Berserker: The Nordic Curse
Ano:1987•País:EUA Direção:Jefferson Richard Roteiro:Jefferson Richard Produção:Jim Brown, Robert A. Foti, Jules Rivera, Robert Seibert Elenco:Joseph Alan Johnson, Greg Dawson, Valerie Sheldon, Shannon Engemann, Beth Toussaint, Rodney Montague, Oscar Rowland, Beverly Rowland, Mike Riley, John F. Goff John, George 'Buck' Flower |
No Século X, os vikings tomaram os mares desde o Mediterrâneo até a América do Norte. Eles eram guerreiros ferozes e os mais temidos eram aqueles que além de lutar também comiam a carne de suas vítimas. Eram chamados de Berserkers.
Eles formavam a linha de frente nos assaltos vikings. Usavam peles de urso e alguns tinham máscaras feitas com as mandíbulas dos animais que matavam com as próprias mãos. Tinham caninos que rasgavam a carne das vítimas.
Mas pelas atrocidades que cometiam, acabavam enlouquecendo e quando eram perigosos demais até mesmo para os outros vikings, eles eram enjaulados e alimentados com carne crua, tanto humana, quanto animal. Muitos creem que os Berserkers nunca puderam ter um repouso em paz e que são forçados a descer à Terra e possuir o corpo de seus descendentes.
Rainbow Valley é uma paisagem bucólica e isolada que, apesar da beleza natural, esconde um passado obscuro: ali, muitos anos antes, chegaram os temidos e impiedosos invasores escandinavos. Hoje, o local é assombrado por uma criatura violenta e assassina que as autoridades acreditam ser algum animal selvagem. Ignorando os avisos de um policial e de um guardião da mata, um grupo de jovens insiste em acampar no vale. O final aterrorizante desta história, vocês podem imaginar.
O Vale Assassino (péssimo título em português, escolhido pela extinta Tech Home Vídeo, diga-se de passagem) repete os principais ingredientes da fórmula oitentista dos slashers: o cenário não urbano, o grupo de jovens em busca de diversão (pra bom entendedor: bebida e sexo) e um suposto algoz mascarado. A subtrama que em teoria motiva o terror – a existência dos Berserkers – dá ao longa alguma originalidade, o que obviamente, é algo sempre muito bem-vindo.
Reza a lenda e alguns sites obscuros da internet que Berserker: The Nordic Curse (ou somente Berserker, ambos os títulos adotados no mercado americano, onde foi lançado em julho de 1987) foi escrito em poucas horas e rodado ao longo de duas semanas. O responsável pelo roteiro e direção é o multitarefa Jefferson Richard (falecido recentemente, em 2021). O cineasta, que dedicou grande parte de sua carreira – iniciada nos longínquos anos 60 – às obras de orçamento limitado, contou com pífios US$ 5 milhões para bancar todos os custos comuns de uma produção do tipo, como as locações, os efeitos e os figurinos, além de contratar a equipe técnica e o elenco, que no caso contava com um urso de verdade, chamado Bart. Tudo bem que o animal aparece apenas nas tomadas distantes e que nas cenas nas quais ele “interage” com outros personagens, Bart é substituído por um ator fantasiado – o que garantiu a segurança de todos, além de economizar alguns dólares.
Para os fãs do gênero, o mais importante trabalho do cineasta é o “clássico” Maniac Cop: O Exterminador (1988). Seu nome, assinado algumas vezes como Jef Richard, está também entre os produtores de outras obras conhecidas, como Eu Sempre Vou Saber o que Vocês Fizeram no Verão Passado (2006), Lenda Urbana 3: A Vingança de Mary (2005) e Na Companhia do Medo (2003).
Seu trabalho na direção de O Vale Assassino não é inovador e muito menos se destaca, mas igualmente não compromete, alcançando um resultado até razoável para um longa-metragem de baixo orçamento que buscava unicamente replicar a famigerada fórmula de sucesso dos slashers, que na época atraía um público fiel, seja aos cinemas ou as hoje extintas vídeo-locadoras.
Algo que deve-se pontuar é que talvez incomode aos mais exigentes a fotografia com pouca definição (o filme foi rodado em 16mm) e a falta de luminosidade em algumas passagens mais escuras. A dificuldade em enxergar é ainda intensificada pelo excesso de névoa artificial em algumas sequências em que o diretor tenta estimular a atmosfera de suspense e medo.
O roteiro, apesar de introduzir um tempero nórdico, é simplório, além de apostar boa parte de suas fichas numa estratégia Scooby Doo, convidando o espectador a descobrir quem seria o grande vilão. Infelizmente a revelação final tem pouco de surpreendente, até porque o enredo apresenta somente três possíveis suspeitos: o guardião de Rainbow Valley, o xerife e o próprio urso.
Segue um spoiler parcial relevante (leia por conta e risco): talvez o melhor momento (ou no mínimo, o menos previsível) seja o embate entre o assassino e o urso, revelando não só a identidade do vilão, mas que, ao final, o verdadeiro herói de toda a trama é o animal selvagem.
Além da baixa contagem de corpos, a qualidade e inventividade das cenas violentas e o derramamento de sangue estão bem abaixo do esperado, se destacando exclusivamente o primeiro assassinato, no qual uma das garotas é destroçada enquanto outro casal está fazendo sexo. As sequências de violência e sacanagem (temos aqui um surpreendente e rápido nu frontal feminino completo, algo incomum no cinema americano, que normalmente exibia apenas peitos e bundas) se intercalam de maneira inteligente. Segundo informações do diretor, por esta nudez o filme teria sido banido da Alemanha. Lembrem-se que ser proibido pela censura de algum país se transforma posteriormente em motivo de orgulho para qualquer produção de horror que se preze. No restante, o gore se resume a cortes e dilacerações pouco realistas resultantes da pata da “criatura“. Ou seja, considerando os efeitos e a maquiagem, não há nenhuma cena memorável em O Vale Assassino.
Dentre o elenco nada promissor, destacam-se a beleza de Beth Toussaint e a presença de dois veteranos que dão alguma credibilidade a trama: George ‘Buck’ Flower (de Eles Vivem!, 1988) interpretando o guardião do vale e John F. Goff (A Bruma Assassina, 1980), vivendo o xerife.
Enfim, há um certo charme inegável em ser desconhecido ou esquecido pelo grande público, como é o caso de O Vale Assassino. E mesmo que esta característica não o torne uma produção cultuada ou célebre (longe disso), o torna pelo menos uma opção válida para os fãs entusiastas dos slashers oitentistas, que certamente já esgotaram as franquias Sexta-Feira 13, Halloween e derivados. Para estes, Berserker pode ser uma boa pedida.