O Páramo (2021)

4.1
(8)

O Páramo
Original:El páramo
Ano:2021•País:Espanha
Direção:David Casademunt
Roteiro:David Casademunt, Martí Lucas, Fran Menchón
Produção:Marina Padró Targarona, Joaquín Padró, Mar Targarona
Elenco:Inma Cuesta, Roberto Álamo, Asier Flores, Alejandra Howard, Víctor Benjumea

A primeira coisa que me intrigou ao me deparar com esse filme espanhol foi o título. Afinal, o que é páramo? Segundo alguns dicionários consultados na internet, trata-se de um campo ou planície deserta, local solitário… Esse título se encaixa muito bem ao contexto, tanto real (onde se passa a história) como figurado (sobre o reflexo das ações dos personagens advindas do isolamento).

O filme retrata uma família (pai, mãe e filho pequeno) que mora numa área rural afastada, sem contato com pessoas em razão de uma guerra, numa região da Espanha no século XIX. A dinâmica do filme se baseia na relação entre esses três personagens, a influência do isolamento e a entrada de um elemento sobrenatural, algo parecido com um demônio, que irá se estabelecer nesse meio.

Não é nenhum spoiler informar que o filme consiste nessa dicotomia sobre a existência dessa entidade ou se os acontecimentos são reflexos da aridez da paisagem e da situação limite dos personagens. A trama caminha lado a lado com o sobrenatural e o psicológico, entrelaçando-os de forma bastante harmoniosa, numa jornada bastante sóbria, com um clima de horror perene. Mérito disso para a direção eficiente do estreante David Casademunt, que consegue manter coeso o bom elenco e a trama que, se não totalmente inovadora, consegue prender a atenção do espectador.

Do elenco, vale registrar a interpretação de Inma Cuesta como a mãe. Com uma carreira sólida no cinema espanhol (já tendo trabalhado com diretores consagrados como Pedro Almodóvar e Asghar Farhadi), Inma se destaca nas várias nuances e transformações da personagem, que nas mãos de uma atriz menos habilidosa, poderia cair na caricatura. Aqui, ao contrário, ela dá credibilidade aos momentos cruciais do longa. O menino Asier Flores, que esteve em Dor e Glória (2019) de Almodóvar no papel do personagem de Antonio Banderas na infância, também defende bem o personagem e consegue passar uma dimensão bastante dolorosa do amadurecimento.

O longa traz vários elementos fincados na fantasia (além do demônio, outros exemplos são as carrancas de delimitação do terreno que “impedem” a entrada do mal e os bonecos esculpidos em madeira espalhados pela casa) e também reais (guerra, solidão e amadurecimento são os mais relevantes) bem orquestrados numa premissa e desenvolvimento até certo ponto simples, mas nunca simplista. Uma ressalva é que alguns desses elementos são mais bem construídos que outros (as motivações do pai e de um outro personagem que entra na história, por exemplo, poderiam ser mais bem exploradas).

Com uma boa carga dramática, é um longa sério e envolvente que bebe na fonte de filmes como A Bruxa (2015) e do já clássico O Labirinto do Fauno (2006) ao usar temas reais para criar horror, contudo, sem o mesmo impacto deles. Faltou um tempero para torná-lo memorável, mas de qualquer forma se trata de um exemplar digno e que merece ser visto.

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Média da classificação 4.1 / 5. Número de votos: 8

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Ricardo Gazolla

Formado em Direito e trabalhando no setor privado, apaixonado por cinema desde a infância quando assistiu Os Goonies (1985) na tela grande. Sua predileção pelo horror começou um pouco depois ao conhecer em VHS A Hora do Pesadelo (1984), Renascido do Inferno (1987) e A morte do demônio (1981). Desde então o cinema se tornou um hobby, um vício socialmente aceito, um objeto de estudo, um prazer público e, agora, no site Boca do Inferno, uma forma de comunicação com as pessoas.

One thought on “O Páramo (2021)

  • 01/07/2023 em 00:45
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    Eu sinceramente gostei mto desse filme, de verdade. Foi um belo de um achado e eu só dei mais atenção ao cinema espanhol por causa dele.

    Resposta

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