A Semente do Diabo
Original:Prophecy
Ano:1979•País:EUA Direção:John Frankenheimer Roteiro:David Seltzer Produção:Robert L. Rosen Elenco:Talia Shire, Robert Foxworth, Armand Assante, Richard Dysart, Victoria Racimo, George Clutesi |
O texto contém spoilers
Por culpa de John Frankenheimer surgiu, em 1979, A Semente do Diabo (Prophecy), outro dos filmes com tema pseudoecológico envolvendo animais vítimas do homem imprudente. Apesar de ter sido realizado com um orçamento não muito modesto (na faixa dos doze milhões de dólares, ao que parece, e na época uma quantia razoável), é uma produção trash de qualidade discutível, odiado por uns e amado por outros, mas tem suas virtudes e resume bem aquilo que foi a proposta dos anos 70. É o chamado “trash milionário“, bastante recorrente no cinema.
A história gira basicamente em torno de um velho artifício, procurando despertar a consciência social em relação ao meio ambiente e seus agressores, de forma parecida ao que foi feito em muitos filmes da década de 50 (sendo O Mundo em Perigo, de 1954, um dos melhores), onde a radiação e seus terríveis efeitos eram o grande vilão. No caso desse aqui não há propriamente radiação, mas algo no mínimo tão desastroso para o meio ambiente quanto tal.
O Dr. Robert Vern (Robert Foxworth), um ambientalista, e sua esposa Maggie (Talia Shire) vão tirar umas férias sossegadas nas belíssimas florestas do Maine e não demora nada para descobrirem que algo muito esquisito está ocorrendo na região: funcionários de uma fábrica de papel e os índios locais estão em pé-de-guerra devido a problemas de poluição – principalmente nos rios – causados pela liberação do mercúrio, metal altamente tóxico.
O caso é que os animais estão virando mutantes com as mais horrendas formas de aberração, e o pior é que o problema pode afetar também os seres humanos – o próprio chefe da aldeia já era uma das vítimas. Preocupado com os problemas, o Dr. Robert resolve alertar as autoridades e, para isso, tenta levar uma das criaturas mutantes vítimas do mercúrio na água: um filhote de urso, algo nojento, indizível, uma aberração mais parecida com um feto mal formado virado do avesso. Acontece que a mãe da criatura, uma coisa descomunal e quase tão aberrante quanto o próprio filho, não gosta nem um pouco da ideia de perdê-lo para o Dr. Robert e resolve ir à desforra, perseguindo-o e aos seus comparsas implacavelmente pela floresta, até ser destruída a flechadas pela equipe. Mas, embora o casal consiga voltar à cidade são e salvo, eles terão de enfrentar um problema ainda maior: Maggie está grávida e, assim como o marido, consumira um daqueles peixes mutantes, de carne tenra e macia…
Vai da cabeça de cada um imaginar o que será fruto desse parto horrendo. Por minha parte, imagino um bebezinho lindo e cor-de-rosa, talvez com um par extra de pernas brotando em torno da cintura, quem sabe um jogo de guelras logo abaixo das orelhas, inflando e desinflando conforme suas necessidades de respiração. Brincadeiras à parte, é incrível como é previsível a cena final: enquanto o avião que os leva embora dali some à distância entre as árvores da floresta, aparece uma outra horrenda e disforme criatura pronta para continuar sua prole de aberrações.
O título original do filme, “Profecia“, refere-se ao que os índios da região afetada chamam de “Kathadin“, um espírito guardião da floresta que, mais cedo ou mais tarde, aparecerá para se vingar dos homens poluidores. E ele aparece. Apesar da ingenuidade geral e da pieguice do roteiro, o filme tem lá suas boas cenas de podreira trash, como a perseguição da ursa pela floresta, matando alguns incautos pelo caminho; a morte do chefe da tribo à beira do lago, que é mostrada de longe, em meio ao nevoeiro, fazendo uma tenebrosa silhueta em contraste com o fundo fantasmagórico da mata; ou o esmagamento da cabeça do piloto do helicóptero, enquanto tenta fugir desesperado. Todas cenas discretas, mostradas rapidamente – talvez com o intuito de conduzir com seriedade uma produção com pretensões demagógicas indisfarçáveis – e um tanto quanto óbvias, mas interessantes e dignas de serem citadas por qualquer aficionado das produções trash dos anos 70.
Talia Shire, na época mais conhecida como a esposa do lutador Rocky Balboa, interpretado por Silvester Stallone no filme Rocky, Um Lutador (1976) e em alguns subsequentes da série, é dona de outro desempenho vergonhoso, e coube a Foxworth conduzir a tralha com alguma dignidade. Saldo total: um trabalho fraco de Frankenheimer, não disponível no mercado nacional de VHS. Como curiosidade, talvez a única, vale a presença do grandalhão Kevin Peter Hall interpretando a furiosa ursa-monstro: mais tarde, o ator seria bastante requisitado em papéis similares, como no divertido O Monstro do Armário, de 1986, e no já clássico Predador, apresentado no ano seguinte.
Essa cena da perseguição confesso que eu ri muito kkkkk realmente é muito trash me tirou boas risadas