Marvel Terror - Volume 2
Original:Marvel Horror Ano:2011•País:EUA Páginas:148• Autor:Simon Spurrier, Javier Saltares, Robin Furth, Kalman Andrasofszky, Jonathan Hickman•Editora: Panini |
Seguindo na trilha iniciada em Marvel Terror – Volume 1, a Panini lançou também o segundo volume de um encadernado com a junção de diversas histórias lançadas originalmente em várias HQs e reunidas aqui com uma temática em comum: o Horror.
Como já explicada no outro volume, as histórias reunidas aqui foram relançadas lá fora através do selo MAX, e envolvem geralmente tramas de cunho mais maduro com amarras mais soltas, propagando uma versão/visão (teoricamente) mais adulta até mesmo de seus heróis mais tradicionais. Tanto que a abordagem de um dos protagonistas da HQ Moon Knight isoladamente, Jack Russell, funcionou bem para encadernados separados sem ligações pendentes com o universo estreante original. A ideia, imagino, seja justamente manter essas edições esporádicas com histórias (ou arcos) bem fechados para funcionarem como consumo rápido.
Ponto positivo e de correção nesta edição (e que faltaram na anterior) foi a inclusão de um editorial resumido do que se tratam as prévias e trágicas situações às quais Danny fora jogado para o mundo sobrenatural. Por um lado serve para introduzir essa história para um público geral, onde o contexto do roteiro é compreendido sem a necessidade prévia da história do personagem, mas esmaga – sem querer – toda uma longa saga que envolve até mesmo “Blade, o caçador de vampiros”. Mais uma vez advogo em favor dos editores; deve ser um trabalho extenuante escolher uma saga merecedora de publicação levando em consideração o background do personagem sem ferir a amplitude da obra. Resumo da ópera: fanboys podem amar pela publicação de uma boa saga do personagem já que possuem prévio conhecimento de sua história, ou podem odiar justamente pelo mesmo motivo e discordarem da escolha ignorando o público geral sem prévio conhecimento. Já o público em geral pode apreciar a obra como um todo pelos aspectos amparados do roteiro dentro do contexto apresentado ou ficar com o sentimento de falta de maior compreensão. Ou seja, parte muito do estado de espírito do leitor no momento… e tomara que não seja o de vingança!
Nesta segunda houve um esforço (pela escolha de uma saga independente) semelhante em contar a história de Danny Ketch, irmão do Johnny Blaze, o detentor do original contrato com o demônio das séries Motoqueiro Fantasma, o terceiro personagem a encarnar o papel. Isso mais Satana e Múmia Viva.
Então vamos por cada uma delas.
Motoqueiro Fantasma: Danny Ketch
Roteiro: Simon Spurrier
Arte: Javier Saltares
Cores: Dan Brown
Letrista: Gisele Tavares
Tradutor: Edu Tanaka / PF
Editor original: Daniel Ketchum
Editor nacional: Rogerio Saladino
Publicada originalmente em: Ghost Rider Danny Ketch – 1 (Outubro/2008), Ghost Rider Danny Ketch – 2 (Novembro/2008), Ghost Rider Danny Ketch – 3 (Dezembro/2008), Ghost Rider Danny Ketch – 4 (Janeiro/2009) ,Ghost Rider Danny Ketch – 5 (Fevereiro/2009).
A carro chefe da edição com 5 (cinco) partes conta a história de Danny Ketch, como descrito acima. Apesar da já extensa história publicada envolvendo Blaze e todo o misticismo do pacto com o Demônio, esta de Ketch envolve muitas outras faces de tramas que se cruzam para formar uma maior teia de manipulação.
A princípio já fica claro através do editorial que Danny fora possuído por uma entidade com poderes semelhantes aos de seu irmão, mas com segredos ainda mais obscuros e tramas mais complexas. Isso se você ficasse pelas notas do editorial, mas logo uma introdução narrada a estilo de seriado americano spin off, por um corvo, expande essa concepção para um nível mais intimista. São apenas duas páginas estilo galeria e tentam passar toda a criação de como Danny Ketch recebera os poderes, o mesmo esforço do editorial, mas sem tanto sucesso pela história mais ampla, como acentua no principal conflito do roteiro: “Danny estava sempre no controle do poder, consciente de tudo à sua volta. Ele odiava aquilo, tentou várias vezes se livrar da situação em que ele se encontrava.” Isso por si já é o que o leitor geral precisa para apreciar o resto da obra.
E não muitas páginas depois estamos a par de que Danny Ketch se livrará do espírito da vingança e dos poderes, infelizmente ao passo que estava viciado demais neles para que isso fosse uma alívio, e aqui jaz o verdadeiro argumento da revista, não tão simplório como esse breve resumo pode ter passado por envolver mais outros aspectos interessantes em um universo um pouco mais denso que o heroico da Marvel, não chegando próximo do gore de alguns títulos do selo MAX, mas sério e um tanto quanto épico. Esses detalhes ficam sob um julgo severo spoiler, então abstenho-me de falar.
É escrito por Simon Spurrier, escritor britânico que vem depois uma variada gama de trabalhos, que vai de cozinheiro, passando por vendedor de livro até diretor de arte da BBC. Nas HQs, tem seu nome creditado em 2000 AD em séries próprias, como Lobster Random e Harry Kipling. Vale ressaltar que a 2000 AD é uma publicação com foco em ficção científica, que já trabalhou com nomes como Alan Moore, Neil Gaiman e Grant Morrison.
Não é por menos que Simon também tenha vindo a trabalhar em um dos personagens que era publicado pela 2000 AD, o Juiz Dredd. E essa experiência com histórias futuristas, distópicas, é bem enquadrada na personagem e o seu tema: Mary Lebow, uma tecnomaga que representa bem uma fusão de estilo horror, magia e postura pós-punk inglesa – tudo que qualquer jogador de Mago A Ascensão, simpatizante dos Adeptos da Virtualidade, iriam se identificar diretamente. Pontos para Simon que consegue transitar nesse universo sem distanciar de uma linguagem da tecnologia pós 80s – para um britânico, claro!
Outros personagens humanoides, totem/bestial para ser exato, guardam uma semelhança única com os licantropos dos títulos da White Wolf, o que me deixa em uma desconfiança tremenda de que houve inspirações diretas, inclusive na arte de Javier Saltares, e isso nos leva ao outro ponto da revista.
Javier Saltares foi um dos criadores do personagem Danny, ainda em Maio de 1990 na Ghost Rider vol. 3 #1, e desenhista em diversas outras da mesma década do título em si. Justiça seja feita, o design de personagens do mesmo tem uma variação magnífica e rica – talvez pelo espaço que o roteiro abriu, incluindo diversas culturas. Houve só um pequenino erro grotesco estilo liefeldiano como Mary, sem um dos braços em um desenho de perspectiva na página 63 e peças de roupas (argolas) aparecendo também espontaneamente.
A colorização merece notas à parte, por Dan Brown, que conseguiu traduzir bem um espectro para a áurea negra do espírito da vingança no momentos mais fantasy da HQ, mas a finalização de Tom Palmer forçou o expressionismo de Javier para um lado não interessante, deixando-o mais forçosamente realista. Assim como as capas magníficas de Clint Langley, que fácil me lembram as de John Bolton.
Satana e o Pentagrama Elétrico
Roteiro: Robin Furth
Arte: Kalman Andrasofszky
Cores: Stephane Peru
Letrista: Gisele Tavares
Tradutor: Edu Tanaka / PF
Editor original: John Barber
Editor nacional: Rogério Saladino
Publicada originalmente em: Legion of Monsters: Satana 1 (Agosto/2007)
Satana é daqueles personagens para os olhos. A ruiva de curvas absurdamente infernais (trocadilho bem cretino) e criada por Roy Thomas e John Romita, aparecendo pela primeira vez em Vampire Tales, Outubro de 1973, teve em seu cast de desenhista até o brasileiro Mike Deodato em um visual reformulado na série Witches. Infelizmente aqui não teve um roteiro muito feliz nas mãos de Robin Furth, responsável pela adaptação para os quadrinhos de Torre Negra (Dark Tower), do famigerado Stephen King. E não para menos ela mesma é apadrinhada pelo escritor desde que fora apresentada na universidade do Maine.
Pelo mesmo motivo, tendo trabalhado com um cast tão classe A que não consigo entender o roteiro de “Satana e o Pentagrama Elétrico”, a começar pelo título que não corresponde a uma nova geração de leitores, mas está mais para alguém que se perdeu no final da década de 70 em uma overdose com Alice Cooper. Bem estilo “me conheça agora”.
Nesta HQ…
Satana, uma sucubus filha do próprio demônio, é uma assassina serial procurada pela polícia por diversas mortes. Alimenta-se das almas dos homens, as quais ela obtém através de um beijo. E como parte de um acordo envia um tributo ao seu pai a cada quantidade de almas recolhidas.
Tudo corria como o esperado até que ela é aprisionada por uma mortal que deseja o retorno de seu irmão, uma das vítimas de Satana.
Primeiro que Satana é filha do demônio com uma humana chamada Victoria Wingate, que enlouqueceu após descobrir a natureza de seu marido e filhos – sim! ela tem um irmão chamado Daimon Hellstorm – em uma cidadezinha fictícia chamada Greentown, Massachusetts. E para encurtar a história foi levada para uma das tantas dimensões infernais da Marvel, aprendeu magia negra e foi expulsa para a terra em forma de uma súcubus (succubus) drenando a alma dos mortais a partir de um beijo. Apenas a última informação é passada no roteiro e daí parte toda a história nessa HQ.
Partindo de que ela uma súcubus filha de satã apenas é deixar Satana como uma personagem genérica de um conto QUALQUER de terror B. Deveria ter uma pequena introdução falando da personagem para aprofundar a janela da história contada. Mesmo porque o roteiro não funcionou muito bem como uma história separada do contexto geral (explico melhor na seção spoiler abaixo).
Cheio de frases de efeito e clichês, o roteiro foi consumido em essência pela arte de Kalman Andrasofszky, que tem na bagagem ilustrações para Star Wars. É interessante que Kalman dá ao rosto de Satana um ar mais pesado, mais sisudo – apesar de ser americana a personagem –, com linhas faciais mais europeias, um toque interessante dado por este canadense com diversas capas no histórico como X-treme X-men, The Punisher e Witchblade. Ou seja, atenção às sobrancelhas e às bocas femininas.
A capa ficou a cargo do Greg Land, o mesmo da “Garota de Interior” do Marvel Terror – Volume 1, e que fez um excelente trabalho facial, mas tirou da anatomia de Satana seus quadris (!!).
– Spoilers –
Ainda sobre o roteiro, explico: a mortal da história afirma estar atrás de seu irmão Jason Silence, uma das vítimas de Satana, que por coincidência do destino foi uma das almas-tributos pagas por ela a Satã. Ou seja, o mortal está no inferno, mas isso não fez parte do inicio do roteiro, nem há uma ligação com o argumento de Jason para a história.
Há uma confusão entre a história de Satana real e a da HQ, onde ela começa logo dizendo que sua batalha contra o inferno começou em uma noite comum. Porém, de acordo com a história original de Satana, ela ABRAÇOU o treinamento de seu pai – diferentemente de seu irmão Daimon – e só depois fora expulsa da dimensão infernal. E a contradição ainda fica maior quando ela mesma revela durante a história que manda tributos ao pai – como ela estaria em uma batalha contra o inferno?
A sacada das frases finais com o sobrenome Silence só funcionaria se houvesse uma tradução literal também para o português, e acabou perdendo o impacto na versão brasileira.
Múmia Viva: preciso Morrer/comer Alma
Roteiro e Arte: Jonathan Hickman
Cores: Stephane Peru
Letrista: Gisele Tavares
Tradutor: Edu Tanaka / PF
Editor original: John Barber
Editor nacional: Rogerio Saladino
Publicada originalmente em: Legion of Monsters: Satana 1 (Agosto/2007) como N’Kantu, The Living Mummy: MustDie/EatSoul.
Na opinião de muitos, essa história foi a “vende título” da HQ, já que ambas as histórias de Satana e esta saíram juntas, mas esta foi escrita por Jonathan Hickman, o responsável por títulos aclamados como Pax Romana (2009), Transhuman (2009) e os mais mundanos Quarteto Fantástico, FF, S.H.I.E.L.D pela Marvel, e capas para a Virgin Comics: Guy Ritichie’s Gamekeeper, Seven Brothers do perturbado do Garth Ennis. Assim como criador da The Nightly News pela Image, e o atual The Manhattan Projects, que está arrancando alguns elogios pela originalidade.
N’Kantu era um guerreiro da tribo suaíli da África sub-saariana (algo entre 1552 a.C. e 1040 a.C.), valoroso caçador e sucessor do trono do rei T’Chombi, seu pai. Mas logo após o primeiro ano de seu reino, surgiram os em-nakdes, guerreiros egípcios que tornaram toda sua aldeia em escravos.
Uma apresentação para ser mais sincero de 14 páginas ornamentais e com a orientação gráfica extremamente eficiente, não muito diferente de seu trabalho em Pax Romana. Com diversos infogramas, somos conduzidos à familiarização da mitologia do antigo Egito. De fato, há uma certa razão em todo agito no nome de Hickman, dado que sua experiência profissional como designer gráfico casou magnificamente com sua sua expressão no desenho. Há ainda a mudança dos tradicionais balões redondos por um retângulos de cantos arredondados dispostos em uma orientação horizontal e uma linha imaginária temporal vertical, dando uma sensação de organização e fôlego à narrativa, assim como o lirismo presente e a carga emocional.
O único ponto negativo talvez seja que não se trata de uma história em si, parecendo bem mais um encarte introdutório e de apresentação do personagem, que não é tão popular no universo Marvel, fazendo parte mais daquele panteão de monstros à la Universal Monsters.
The Living Mummy fora criado originalmente por Steve Gerber e Rich Buckler, na Supernatural Thrillers #5 (uma espécie de selo separado pertencente ao grupo Marvel) em 1973 e sendo publicado até 1975, passando pelas mãos criativas de Tony Isabella, John Warner, Tom Sutton e Len Wein.
Considerações Finais:
Com alguns erros técnicos, como a falta de numeração de algumas das páginas, da 61 à 65, as duas seguintes não possuem nem mesmo uma numeração. Talvez a versão americana não as tenha, mas em se tratando de um encadernado com histórias bem distintas sem um ponto de diferença na direção de arte, com exceção a última (Múmia Viva), seria mais adequado.
Para quem é fã ou mesmo se interessa de alguma forma por Motoqueiro Fantasma, a HQ é uma excelente oportunidade para alimentar a vontade já que tem nomes chaves citados na história como Hoste Negra e Zadkiel; passando-se ainda antes de outros importantes na mitologia da HQ.
Já a história da de Satana deixou muito a desejar no quesito roteiro, mas no tocante a fator thrash sex appeal é um prato moderado. Sem falso moralismo, compraria, sim, em separado com um preço bem inferior e a última história me é um encarte, mais como um bônus ou um artbook do que propriamente dito um produto fechado. Seria um petisco de conceito para o retorno de alguns monstros clássicos da Supernatural Thrillers?
O preço de capa estava R$ 17,90 dando exatamente o mesmo número de páginas da edição anterior – ganhamos na economia das cinco edições do Motoqueiro Fantasma: Danny Ketch e perdemos com a não existência de três histórias de fato, um equilíbrio para manter o produto.