4.4
(7)

O Porão
Original:The Cellar
Ano:1989•País:EUA
Direção:Kevin Tenney
Roteiro:John Woodward e Darryl Wimberley baseados no conto The Thing in the Cellar de David H. Keller
Produção:Howard Baldwin, Kate Benton, Steve Berman, Richard Cohen, Lee Haxall, Brian Russell, Patrick Wells e John Woodward
Elenco:Patrick Kilpatrick, Chris Miller, Willy Cashen e Suzanne Savoy

Procurando corrigir alguns erros do passado e recomeçar a vida, Mance Cashen muda-se, com a esposa atual e a filha recém nascida, para uma velha casa em uma área rural do Texas. Também faz parte de seus planos ser um pai mais dedicado e assim reconstruir a relação com o filho do casamento anterior, quem ele convida para uma temporada em sua nova propriedade. Inteligente e engenhoso, o pequeno Willie rapidamente está explorando os cantos menos conhecidos da fazenda. Nestas aventuras ele conhece duas figuras misteriosas: um xamã indígena que supostamente protege o local, chamado Sam John, e o antigo proprietário do imóvel comprado pelo pai, TC Van Houten. Os homens revelam que aquela terra sempre foi assombrada por forças malignas ancestrais e que apenas alguns artefatos indígenas consagrados poderiam, com sorte, proteger Willy e sua família.

O garoto tenta em vão alertar ao pai que, incrédulo, livra-se dos amuletos e afirma que tudo não passa de uma fantasia criada pela imaginação fértil do menino. No entanto, a ameaça é real e está mais próxima do que eles poderiam imaginar: uma monstruosa criatura sobrenatural vive nas sombras do porão da residência. Ela foi aprisionada por feitiços realizados pelos nativos há muito tempo, mas está despertando para uma nova refeição. Para salvar sua família e principalmente sua irmãzinha, Willy decide enfrentar o ser, ainda que seja sozinho e com as armas que ele mesmo improvisou.

O Porão foi dirigido por Kevin Tenney (de A Noite dos Demônios, 1988 e Witchtrap: A Noite das Bruxarias, 1989) e escrito por John Woodward e Darryl Wimberley – inspirados pelo conto The Thing in the Cellar (A Coisa no Porão), publicado por David H. Keller pela primeira vez em 1932 na famosa revista pulp dedicada a literatura fantástica Weird Tales.

Já os bastidores por trás da direção são mais confusos: Kevin Tenney teria substituído o diretor original, o então também roteirista John Woodward, desligado poucos dias após o início das filmagens. E embora Kevin seja creditado como o único responsável pela direção, o corte do diretor não é o distribuído oficialmente. A novela em torno da produção continuou quando, após o término das filmagens e edição, o longa acabou vendido para uma nova produtora que contratou outro profissional (igualmente ignorado nos créditos) para filmar cenas adicionais que em teoria tornassem a trama mais compreensível. Este corte final, que inclui a imponente, porém tediosa, narração em off no início e no término da exibição, é a versão que chegou em VHS às locadoras nos Estados Unidos em 1989, pela Southgate Video. Já no Brasil, O Porão chegou às prateleiras pela New Line Home Video. Para os interessados e colecionadores, a obra, nunca comercializada em DVD, foi remasterizada e lançada em formato Blu-ray em maio de 2021, mas apenas em solo americano. O disco contém as duas versões do filme, além de um documentário sobre as desventuras ocorridas durante as gravações. Para o público brasileiro em geral, a versão oficial (aquela distribuída originalmente em VHS) entrou em cartaz na plataforma de streaming Amazon Prime Video em outubro deste mesmo ano (2021).

Rodado com um orçamento limitado e em pouco mais de um mês, nos longínquos 1988, O Porão traz um elenco esquecido pelo grande público: o veterano Ford Rainey (no cinema do gênero Ford teve uma breve participação em Halloween 2: O Pesadelo Continua, de 1981) representando o ex-dono da fazenda TC Van Houten; Patrick Kilpatrick (ainda na ativa, frequentemente repete o papel de vilão, iniciou sua carreira no clássico trash O Vingador Tóxico, 1984), vivendo o pai arrependido que tenta reconquistar o filho e acaba incorporando “Jack Torrance”; Suzanne Savoy (de O Grande Anjo Negro, 1990) como a madrasta e Chris Miller (curiosamente o ator mirim, quando adulto, deixaria de atuar para se dedicar à dublagem e dirigiria as animações Shrek Terceiro e O Gato de Botas) interpretando o protagonista infantil Willy, que, longe de ser uma criança frágil, é destemido e habilidoso em inventar engenhocas, atributo que vai lhe ajudar bastante no embate derradeiro com a criatura no filme.

O plot principal da trama carrega alguma originalidade ao misturar maldições indígenas, uma entidade ancestral comedora de criancinhas, um garotinho inventor e a convivência conturbada entre pai e filho. Porém, estas boas ideias são mal desenvolvidas em um enredo irregular, recheado de diálogos pobres e enfadonhos que, aliados às já citadas narrativas em off, empenham-se em agregar uma seriedade maior à produção. Infelizmente, o resultado soa hoje piegas e datado. Aliás, provavelmente a recepção da crítica e do público seria outra se o longa assumisse o tom terrir adolescente que tanto marcou uma dezena de produções da década de 80.

Em relação aos efeitos visuais, eles são escassos e modestos – certamente restritos pelo orçamento apertado. Para o espectador que gosta de violência, são poucas mortes e todas elas sem impacto ou sangue derramado. O monstro, descrito como a junção das partes mortais de vários animais, tem uma exposição maior e detalhada no ato final – até este momento ele é visto (ou quase) somente na escuridão. Sua construção é uma mistura de maquiagem, fantasia e efeitos práticos que, apesar da movimentação artificial, não chega a incomodar, quando aceitamos as circunstâncias adversas em que o longa-metragem foi rodado.

Mesmo que aparentemente o filme apresente uma quantidade maior de pontos negativos do que positivos, a experiência pode ser diferente para os espectadores que vivenciaram os incertos tempos de vídeo-locadoras (quando O Porão foi lançado), em que era impossível saber se aquele horror alugado, cuja capa era incrível, seria pelo menos divertido – e não, não havia ainda internet ou Boca do Inferno para consultarmos. Certos, apenas a baixa resolução do vídeo e a qualidade duvidosa do áudio. Para estes, a experiência talvez seja um retorno no tempo gratificante.

Concluindo, O Porão traz todas aquelas imperfeições características de um guilty pleasure em seus 82 minutos de curta duração. Ou seja, aquele paradoxo inexplicável (e não seriam todos?): ele é bom exatamente por ser ruim. É aquele filme B obscuro que costumava juntar poeira nas locadoras dos idos anos 80. E que curiosamente, nos divertia mais por seus defeitos e inconsistências do que por sua qualidade.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.4 / 5. Número de votos: 7

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *