4.3
(22)

O Telefone Preto
Original:The Black Phone
Ano:2022•País:EUA
Direção:Scott Derrickson
Roteiro:C. Robert Cargill, Joe Hill
Produção:Jason Blum, C. Robert Cargill, Scott Derrickson
Elenco:Mason Thames, Madeleine McGraw, Ethan Hawke, Jeremy Davies, E. Roger Mitchell, Troy Rudeseal, James Ransone, Miguel Cazarez Mora, Rebecca Clarke, J. Gaven Wilde

O Telefone Preto é o encontro de Joe Hill com Stephen King, além dos churrascos de família. Desde que assumiu sua paixão pela escrita, o autor tentou se livrar das amarras que poderiam relacioná-lo (e responsabilizá-lo) ao maior escritor de horror da literatura universal, em um experimento que não demorou muito para se mostrar falho. Quando a tramoia fora descoberta, Hill já tinha conquistado seu espaço literário, com boa dedicação aos quadrinhos, sem se espelhar em seu pai: produzia muito mais obras fantásticas do que o horror sobrenatural, com um estilo de texto mais ágil e imaginativo. Contudo o conto “O Telefone Preto“, da antologia “Fantasmas do Século XX“, traz uma leve conexão, ampliada de maneira retumbante pela versão cinematográfica.

O conto mostra o dia em que o jovem Finney foi levado pelo “Sequestrador de Galesburg” ao tentar ajudar aquele “gordo grotesco” e bastante atrapalhado, em mais um de seus falsos truques de palhaço. Preso em um porão, o garoto começa a refletir sobre outros desaparecimentos da região, como o de Bruce Yamada, e notar no ambiente um curioso telefone, “grande, antigo, preto, com o fone pendurado em um gancho prateado na lateral.” É através desse aparelho “que parecia estar respirando” que ele terá oportunidade de se comunicar com o “outro lado“, tal qual a pequena Carol Anne, em Poltergeist II, para tentar descobrir meios de sair dali.

O texto atraiu a atenção do cineasta Scott Derrickson (de A Entidade e Livrai-nos do Mal), quando ele já trabalhava no projeto de direção de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Afastando-se da sequência por “diferenças criativas“, ficando apenas na produção executiva, Derrickson uniu-se ao seu colaborador habituè C. Robert Cargill para trabalhar na adaptação de “O Telefone Preto“, entrando em pré-produção a partir de janeiro de 2020. Com um orçamento estimado em quase U$18 milhões, as filmagens começaram em 9 de janeiro de 2021 e foram concluídas no final de março. Em agosto, já havia sido disponibilizado o primeiro trailer, mostrando que o vilão gordo da literatura fora substituído por Ethan Hawke, com uma máscara e cartola que trazia referência a Lon Chaney em London After Midnight.

Ainda sem o lançamento no Brasil, o filme alcançou nas bilheterias, a partir de sua estreia em junho, um valor em torno de U$100 milhões, além de mais de 80% de aprovação no Rotten Tomatoes. As opiniões iniciais – e corroboro com elas – confirmam o que se espera: O Telefone Preto não é um filme assustador, mas bastante tenso e envolvente. Além de trazer a essência do texto original – sugiro que não leia, se não quiser se envolver em spoilers -, o longa traz acréscimos que tornam a experiência mais interessante, como se a obra de Joe Hill tivesse sido embebida em Stephen King. E isso é bom, quando se sabe que o autor, diferente de seu pai na maioria de suas obras, sabe concluir de maneira satisfatória seus enredos.

Ambientado em 1978, em Denver, o filme traz a rotina dos jovens da região, assustados com um sequestrador de adolescentes. É nesse contexto que vive Finney (Mason Thames) e sua irmã Gwen (a talentosíssima Madeleine McGraw), temendo as ruas com a mesma proporção que são incomodados pelo pai agressivo Terrence (Jeremy Davies) – seria um irmão distante de Jack Torrance, de O Iluminado? Depois que Bruce Yamada (Tristan Pravong) desaparece, Gwen demonstra ser uma jovem sensitiva, que consegue pistas sobre o ocorrido através de seus sonhos e com o uso de alguns itens de sua casa de boneca. Outro jovem, o briguento Robin (Miguel Cazarez Mora), também é levado, e o pesadelo parece estar cada mais próximo da família.

Logo, Finney também terá seu encontro com os balões pretos, e acordará em um porão escuro, onde há um colchão, uma privada e o tal telefone. Gwen tentará ajudar o irmão e os detetives Miller (Troy Rudeseal) e Wright (E. Roger Mitchell), enquanto Finney estabelecerá um contato com os mortos através do aparelho. Precisa apenas saber se as ajudas realmente servirão para salvar sua vida, e se sua inteligente irmã conseguirá informações que possam indicar seu paradeiro, antes que seja tarde.

Como se percebe, o enredo é bem simples e funcional. Deixando de lado o trailer, que entrega boa parte do filme, resta ao infernauta buscar mais méritos na produção. E há vários. Desde a ambientação do final dos anos 70 – que inclui figurino e caracterização dos personagens -, até as várias referências às obras de Stephen King (capa de chuva amarela remetendo ao George de It; cartola do vilão a Doutor Sono), além da programação da época, como a citação muito bem-vinda ao clássico O Massacre da Serra Elétrica em duas oportunidades. Também vale menção a construção do sequestrador, numa mistura assumida de três assassinos em série populares: Ted Bundy, John Wayne Gacy e Jeffrey Dahmer. Bundy pedia ajuda para colocar algo em seu carro; Gacy castigava suas vítimas com cinto. E Dahmer… seria um spoiler.

O elenco também foi muito bem escolhido, e isso inclui Jeremy Davies (de A Casa que Jack Construiu), Ethan Hawke (que esteve também em A Entidade), o protagonista Mason Thames e James Ransone (de It – Capítulo 2 e a da franquia A Entidade), além da ótima Madeleine McGraw. Com 27 créditos como atriz, a pequena tem o nome associado à série Outcast, Homem-Formiga e a Vespa, e muitas outras produções. Em O Telefone Preto, ela expressa uma sensível parceria com o irmão, chamando a atenção em todas as cenas em que participa, seja com os detetives ou até mesmo seu pai bebum. Fãs de horror ainda a verão em cena no terror The Harbinger, de Will Klipstine.

Embora seja um thriller de sequestro e tentativa de fuga, O Telefone Preto também traz elementos de vários estilos que sempre agradam, como a ambientação, uma espécie de entidade vilã e o apoio de um inspirado elenco mirim. Uma adaptação fiel ao texto de Joe Hill, com diferenças que agradam, o filme é uma das boas surpresas de cinema de 2022, com garotos fantasmas e um sequestrador que incomoda a cada aparição em cena.

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3 Comentários

  1. Só posso fazer o seguinte comentário sobre esse filme …..
    👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
    Pra mim, 5.0/5.0

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