4.1
(7)

Patrick
Original:Patrick
Ano:1978•País:Austrália
Direção:Richard Franklin
Roteiro:Everett De Roche
Produção:Richard Franklin, Antony I. Ginnane
Elenco:Susan Penhaligon, Robert Helpmann, Rod Mullinar, Bruce Barry, Julia Blake

Os poderes ocultos da mente sempre foram temas frequentes nas produções de terror. Telecinesia, telepatia, sonhos lúcidos e outras condições fascinantes sempre deram muito “pano pra manga” no cinema, rendendo histórias mais ou menos boas, mas sempre carregadas com o elemento fantástico que é, por si, rico em possibilidades.

É muito interessante quando nos deparamos com trabalhos como A Fúria (1978) ou Sobrenatural (2010), nos quais, no que diz respeito às coisas da mente, essas possibilidades são exploradas de forma bem arranjada, criando um contexto que tem nessa condição espetacular o motor da história, de onde tudo flui. Em contrapartida, temos outros trabalhos menos interessantes, e aqui posso citar como exemplos o Sexta-feira 13 Parte 7 (1988) e o Natal Sangrento 3 (1989), que são filmes até bons dentro das suas respectivas franquias, mas que claramente usam dos poderes mentais de forma aleatória em tramas em que isso, originalmente, não faz parte, como desculpa para justificar o roteiro que se baseia no mais absoluto nada – apenas visa dar continuidade às séries improvisando, assim, qualquer coisa para fazer a franquia continuar.

Então, daí chegamos a esse curioso Patrick, filme australiano de 1978,  dirigido pelo pouco lembrado Richard Franklin. O nome desse diretor pode não soar tão familiar, mas algumas de suas obras são, principalmente para quem foi refém da TV aberta ali entre meados da década de 1980 e década de 1990. É dele o hit de Sessão da Tarde Lagoa Azul (1980), o “thriller de serial killerRoad Games (1981), estrelado, inclusive, por Jamie Lee Curtis, e o interessante Psicose II (1983).

Patrick (Robert Thompson) é um cara sobre o qual não sabemos muito. Sabemos que ele está envolvido na morte da mãe e do namorado dela num acidente enquanto os dois faziam sexo numa banheira, mas não fica claro como isso acontece. Ele está em coma há três anos, numa cama de um hospital mental, sendo cuidado por enfermeiras dia e noite, incomunicável. Ele é alimentado por sonda, as enfermeiras limpam os dejetos e outras sujeiras, e só não deixaram que ele morresse ainda pois é um caso clínico interessante demais e merece ser estudado.

A ordem das coisas muda com a chegada da nova enfermeira, Kathy Jacquard (Susan Penhaligon). É ela quem lembra que Patrick ainda é um ser humano, e não um experimento de laboratório, e faz de tudo para tentar compreender o estado atual do rapaz. Ele, por sua vez, passa a reagir perto de Kathy, comunicando-se com ela por sinais, até desenvolver uma estranha obsessão pela nova amiga (que já é alvo de interesse romântico de dois homens, entre os quais se divide, no filme). É nesse ínterim que Patrick começa a revelar para Kathy seus absurdos poderes telecinéticos, e o uso fatal que faz deles.

Agora retomando a primeira parte do texto, Patrick parece ficar dentro da primeira e satisfatória categoria de filme que mencionei, mesmo com algumas ressalvas. Apesar da charmosa fotografia setentista e da atmosfera criada pelos realizadores, a narrativa sofre com seu ritmo lento, que torna as quase duas horas de reprodução longas demais – longas demais para uma trama em que a ação muitas vezes se concentra mais nas idas e vindas da enfermeira Kathy entre seus dois namorados que na obsessão de Patrick por ela (às vezes parece, inclusive, que ela é que é obcecada por ele!) e na manifestação de seus poderes.

A abordagem do roteiro sobre a telecinesia de Patrick, no entanto, é interessante, ao passo que tenta apresentar as possibilidades daquele tipo de manifestação, partindo das condições físicas ali apresentadas. Aqui, o discurso que embasa toda a trama se assemelha bastante ao que o Brian de Palma vinha fazendo em seus filmes (A Fúria, Carrie).

O filme é de violência moderada, sendo o próprio Patrick o mais violentado o tempo inteiro, não por algum outro personagem, mas pela ética científica, que o vê com interesse e ambição, e usa das técnicas mais brutais com o paciente para obter seus resultados

O saldo final de Patrick é positivo, mas deixa no ar uma sensação de que “poderia ser mais”. O filme ganhou uma sequência italiana não oficial em 1980 chamada “Patrick vive ancora” (Patrick Still Lives), do diretor Mario Landi, e um, ao que parece, bem sucedido remake pelas mãos do diretor australiano Mark Hartley, chamado Patrick e lançado em 2013. Fica a recomendação para os fãs das produções da década de 1970.

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