Secta Siniestra (1982)

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Secta siniestra
Original:Secta siniestra / Bloody Secta
Ano:1982•País:Espanha
Direção:Ignacio F. Iquino
Roteiro:Juan Bosch, Ignacio F. Iquino, Juliana San José de la Fuente
Produção:Juliana San José de la Fuente
Elenco:Emma Quer, Carlos Martos, Concha Valero, Juan Zanni, Henry Ragoud, Diana Conca, Sylvia Alain

A ruindade quase absoluta do espanhol Secta Siniestra, do diretor Ignacio F. Iquino, torna a experiência em assisti-lo muito melhor. Não há sequer uma única razão para conferir essa pérola, envolta em referências aos clássicos do gênero, que não seja a de juntar amigos para dar risada. As falhas percorrem a produção de ponta a ponta em um legítimo trash com T maiúsculo, conduzido e realizado de maneira séria pelos envolvidos, sem consciência de suas limitações. Efeitos ruins, atuações absurdamente canastronas, direção de novela e um enredo pavoroso, cometido pelo próprio Iquino, além de Juliana San José de la Fuente e Juan Bosch, completam o pacote de equívocos. Ainda assim, vale uma conferida simplesmente pela possibilidade de testemunhar o que não se deve fazer em uma produção de horror ou em qualquer afronta à Sétima Arte.

Frederick Payne (Carlos Martos) é um ex-mercenário que mantém a esposa louca trancafiada, enquanto se diverte com a amante Helen (Emma Quer). Em uma noite de tempestade, a apaixonada Helen faz mais uma visita, culminando em intimidades na própria morada, sem saber que a empregada acidentalmente, ao levar alimentos para Elizabeth (Diana Conca), permite que ela escape do quarto, pegue um atiçador de lareira e fure os olhos de Frederick – nada que possa se dizer “chocante“. Cego e desanimado por acreditar que Helen o abandonará, ele recebe olhos de vidro, enquanto Elizabeth é presa pela polícia. Tempos depois, sem especificar quanto exatamente, Helen e Frederick estão casados, lamentando o fato de não poderem também ter filhos.

O casal resolve, então, fazer inseminação artificial em uma clínica, sem imaginar – e quem imaginaria? – que no local também trabalha um satanista (Henry Ragoud). O procedimento é feito, sob o olhar canastrão-maquiavélico do vilão, atentando-se às consequências do período de gravidez, uma vez que uma vítima anterior não suportou a dolorosa gestação e efetivou um aborto, sendo eliminada pelo culto. Como se espera, Helen também passa a ser atormentada por dores insuportáveis e ainda adquire erupções na face (lê-se massa corrida no rosto), até confirmar com a visita dos asseclas do Diabo que se trata de uma tentativa de trazer à Terra o Anticristo, que deixam no local uma ajudante para evitar qualquer tentativa de retirada do feto. Para piorar, Elizabeth ainda vai conseguir escapar da cadeia – com as mesmas roupas e maquiagem de meses atrás – para também perpetuar sua vingança.

Se você pensou em filmes como O Bebê de Rosemary e até A Profecia, já notou as rasas referências. Agora é só imaginar esses filmes sendo feitos no quintal da tua casa, sem elenco experiente, sem recursos e quase sem vontade. O resultado não chega próximo do que propôs Secta Siniestra. Elenco feminino com maquiagens fortes, exploração do corpo de Emma Quer e satanistas com poderes paranormais, que conseguem mover objetos e causar terremotos fajutos, morcegos de pano presos a linhas no teto e uma boneca se passando por um bebê do diabo. Dentre todas as pérolas, a minha preferida é, sem dúvida, o ataque dos morcegos ao Frederick numa sequência incrivelmente ruim, culminando em um dos “bichinhos” esmagados na porta, dando detalhes de sua confecção de estudantes da quinta série.

Quando se menciona as péssimas atuações, você não faz ideia do quão ruins elas são. Personagens chegam a ameaçar o outro com murrinho no ar e olhar esbugalhado; isso sem falar das expressões de dor, gritos e outras bizarrices. Em dado momento, surge um menino, filho da doutora que fez a inseminação. A empregada maldita tem uma ideia ótima para matar o pentelho: ao levá-lo de carro, ela finge que deu pane no motor e pede que o garoto vá até a frente do carro pegar uma pedra grande – sem razão para que isso resolva o problema do veículo -, somente para em seguida tentar atropelá-lo. O menino não apenas conseguirá fugir como chegará à casa onde sua mãe está e irá atrapalhar os planos malignos do culto satânico.

Secta Siniestra, também conhecido como Bloody Secta, é um show de horrores. Impossível uma conferida não provocar no infernauta um festival de risadas involuntárias. É um cinema classe Z, divertido por todos os seus defeitos, e ruim pra diabo.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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