A Cela (2000)

4.7
(3)

A Cela
Original:The Cell
Ano:2000•País:EUA, Alemanha
Direção:Tarsem Singh
Roteiro:Mark Protosevich
Produção:Julio Caro, Eric McLeod
Elenco:Jennifer Lopez, Vince Vaughn, Vincent D'Onofrio, Colton James, Dylan Baker, Marianne Jean-Baptiste, Gerry Becker, Musetta Vander, Patrick Bauchau, Catherine Sutherland, James Gammon, Jake Weber, Dean Norris, Tara Subkoff

Eu teria medo do que alguém poderia encontrar dentro da imensidão dos meus pensamentos… E você?

Em A Cela, obra que mescla os gêneros de ficção científica, suspense psicológico e terror e que recebeu o Oscar 2001 de melhor maquiagem e penteados, acompanhamos Jennifer Lopez como uma terapeuta adepta de uma nova tecnologia experimental e um serial killer brilhantemente interpretado por Vincent D’Onofrio.

O assassino Stargher mata ritualisticamente suas vítimas, afogando-as lentamente em celas de tortura e realizando modificações bizarras com seus corpos. Quando os agentes finalmente conseguem rastrear o notório assassino em série, este entra em um coma irreversível, o que significa que não pode confessar para onde levou sua última vítima antes que ela morra.

Um agente do FBI (Vince Vaughn) recorre à psicoterapeuta Dra. Catherine Deane, pioneira em uma avançada tecnologia transcendental que adentra a mente de pessoas catatônicas com o intuito de ajudá-las a retornar à realidade. Assim, inicia a corrida contra o tempo para explorar a mente distorcida do assassino e localizar o paradeiro do seu último alvo antes que seja tarde demais. Porém, a personalidade danificada de Stargher apresenta perigos maiores do que as suas ações no mundo real.

Essa é a premissa de um filme visualmente impactante. Colorido e sinistro, bizarro e belo, tudo envolvido em perfeita sincronia! O diretor Tarsem Singh, que até então só havia dirigido comerciais de tevê e videoclipes (entre eles “Losing My Religion“, do R.E.M., vencedor do Video Music Awards da MTV em 1991), teve uma série de inspirações para compor a paisagem onírica que mapeia o desejo distorcido e o trauma, como por exemplo a cena das três mulheres com bocas abertas para o céu que é baseada na obra Dawn, do pintor norueguês Odd Nerdrum. E a cena da perseguição na entrada de pedra, baseada na obra Schacht, do surrealista artista plástico H. R. Giger.

A falecida figurinista japonesa Eiko Ishioka, que ganhou o Oscar de melhor figurino na edição de 1992 por Drácula de Bram Stoker e diversas premiações por suas composições para o Cirque du Soleil, também foi a responsável por ajudar a compor o mundo de dark fantasy. A estranha variedade de visuais e sons, a fotografia que praticamente elimina a necessidade de diálogo, a trilha sonora assustadora e a atmosfera perturbadoramente sexual, misturados, realmente dão a impressão de que o espectador possa estar preso dentro de um pesadelo, o que faria até mesmo Tim Burton chorar.

A película apresenta uma viagem mental muito bem executada graficamente; realmente somos instigados pela cacofonia de cenas e imagens dissonantes a refletir sobre os limites da sanidade e os horrores que podem transformar uma criança comum em um monstro desumano. O maligno Rei Stargher é a figura que domina os corredores escuros e perigosos de um sonho febril, rivalizando com a figura inocente da criança que representa as memórias de anos de abuso infantil que o personagem sofreu nas mãos de seu pai sádico e de sua educação angustiante. D’Onofrio entrega uma interpretação tão perturbadora que até mesmo nos faz lembrar quando Anthony Hopkins arrepiou o público como um assassino canibal. O que acaba sendo algo verdadeiramente triste quando não se pode dizer o mesmo da inexperiente Jennifer Lopez, com uma insossa e rasa interpretação, e do roteiro, que prioriza o estilo sobre a substância.

Que Hollywood sempre foi fascinada por assassinos em série não é novidade para ninguém, vide Psicose (1960), Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995), Zodíaco (2007) ou até mesmo as franquias de Jogos Mortais (2004), Halloween (1978) e Sexta-Feira 13 (1980). Porém, por focar nos elementos visuais e no abstrato, The Cell que é a perfeita mescla entre Jung e Dalí – talvez funcionasse melhor hoje em dia do que há 22 anos, já que o horror estético e surrealista se tornou mais aceito ao longo ao longo do tempo, como um ótimo exemplo recentemente lançado: Crimes do Futuro, de David Cronenberg.

Mesmo que A Cela tenha sido unanimemente elogiado pelos críticos por apresentar visuais impressionantes, falta aquele aprofundamento que gera a excelência de clássicos como O Silêncio dos Inocentes (1991) ou Hannibal (2001), de Ridley Scott. Embora a narrativa explore a perseguição e a captura de um serial killer, sua intenção é explorar suas motivações de forma abstrata, remetendo até mesmo à onda de filmes de realidade virtual, como Matrix, lançado dois anos antes. Me rendeu boas reflexões nas sessões de psicoterapia. Mesmo gerando aquela decepção pela escolha de elenco e porque poderia ser melhor explorado, vale a pena pelas bizarrices visuais que garantem aquele lugarzinho na memória.

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Bianca Bezerra

Fotógrafa, escritora e estudante de produção audiovisual que precisa de doses diárias de cinema e Heavy Metal para manter a sanidade. Não dispensa uma história sinistra, sobretudo se for em uma boa e velha campanha de RPG! É apenas um ser humano qualquer, feito de carne e ócio.

One thought on “A Cela (2000)

  • 22/01/2023 em 15:03
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    Lembro-me de assistir a esse filme no SBT no início dos anos 2000, bons tempos…

    Resposta

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