A Pena Mágica de Gwendy (2022)

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A Pena Mágica de Gwendy
Original:Gwendy’s Magic Feather
Ano:2022•País:EUA
Autor:Richard Chizmar•Editora: Suma

Com uma história aparentemente simples que esconde uma narrativa preciosa, A Pequena Caixa de Gwendy encantou diversos leitores por misturar dilemas da vida real com magia e momentos sombrios. O final não parecia deixar portas abertas para uma continuação – parecia até mesmo desnecessário –, entretanto, alguém pensou diferente. Stephen King concebeu a história de Gwendy e Richard Chizmar, coautor do livro, ajudou a desenvolvê-la e a criar forma. Para King, a jornada de Gwendy já tinha sido contada da forma como ele gostaria, portanto, ao receber a mensagem de Chizmar dizendo que gostaria de desenvolver mais a história da garota que foi guardiã de uma poderosa caixa, não hesitou em dar seu voto de confiança e passar a bola – ou a pena – totalmente para ele, tornando-o o único e principal autor dessa continuação e contribuindo apenas com sua introdução.

Já adulta, casada e agora uma respeitada congressista que mora em Washington, Gwendy tem uma vida com a qual sempre sonhou. Com sua rotina agitada, mal pensa naquele verão, tantos anos atrás, quando um estranho homem vestido todo de preto deixou com ela uma caixa com poderes inimagináveis. Às vezes, pensa que foi apenas sua imaginação de criança que deu importância a um objeto tão simples, mesmo uma vozinha lá no fundo de sua cabeça dizendo que foi tudo real, e não apenas um pesadelo louco. Imaginação ou não, é um segredo que mais ninguém sabe, nem mesmo seus pais ou marido.

Em um de seus habituais dias agitados, antes do recesso de final de ano, Gwendy recebe um pacote em sua sala, a poucos momentos de voltar para Castle Rock. Para sua surpresa, é a fatídica caixa de botões. Tomada por uma crise de pânico, ela procura loucamente quem deixou aquilo ali e, claro, não encontra ninguém, nenhum dos funcionários viu nada. Já em sua cidade natal, Gwendy se vê dividida entre proteger a caixa e não deixar seus poderes a afetarem – nem mesmo para pegar os deliciosos chocolatinhos mágicos que saem da gaveta – e ajudar o xerife local a resolver o desaparecimento de duas garotas. No meio disso tudo, ela se pergunta: o quanto de sua vida foi mérito próprio e o quanto foi graças à pequena caixa mágica?

Acompanhar toda a evolução da garotinha insegura do primeiro livro a essa mulher forte e confiante em sua sequência é um tanto gratificante. Gwendy pode ter se tornado bem sucedida e ter êxito em praticamente tudo que faz, mas jamais deixou de lado sua essência sensível, dedicada, gentil e preocupada com tudo e todos. Chizmar teve todo o cuidado de manter a personagem fiel aos seus princípios, sem modificá-la drasticamente ou fazê-la tomar atitudes incoerentes com sua personalidade. Reconhecemos a Gwendy criança na mulher adulta, especialmente quando ela começa a questionar suas conquistas. Outro ponto positivo foi o modo como o autor retratou Castle Rock, com diversas referências a obras de Stephen King ao longo do livro.

A história continua simples e direta, o que faz a leitura ser agradável, apesar de diferenças consideráveis de seu antecessor. Em A Pena Mágica de Gwendy, quase não há a presença de qualquer magia ou elementos fantásticos, salvo sabermos que a caixa tem seus poderes misteriosos a um botão de distância e alguns outros momentos. O enredo parece não avançar e, mesmo sendo satisfatório acompanhar uma personagem tão carismática quanto a protagonista, falta um pouco da emoção presente no livro anterior. Em outras palavras, não é tão emocionante quanto A Pequena Caixa de Gwendy.

O mistério das garotas desaparecidas é uma boa adição à trama, porém, nada tem a ver com a caixa, além de ter um desenvolvimento que poderia ser melhor explorado. Parece que a cidade está mais interessada no Natal do que no desaparecimento de duas adolescentes, e há meses a polícia não chega a lugar algum até que Gwendy apareça para ajudar. Fica aquela sensação de que é assim por pura conveniência de roteiro, e não algo mais bem trabalhado.

Em seus capítulos finais, enfim temos a presença de elementos sobrenaturais e até mesmo alguns momentos levemente assustadores, mas fica a sensação de algo estar faltando.  Enquanto o livro anterior escondia reflexões maiores, sua continuação é mais morna, não tão encantadora, e nos deixa com um certo ponto de interrogação sobre o motivo do título, visto que a tal pena faz uma tímida aparição.

A Pena Mágica de Gwendy é uma sequência razoável, de leitura rápida e agradável, mas que poderia ser algo ainda maior se Richard Chizman tivesse ousado um pouco mais.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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