A Tribo (2009)

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A Tribo
Original:The Forgotten Ones
Ano:2009•País:EUA
Direção:Jorg Ihle
Roteiro:Jorg Ihle
Produção:Wallace Balboa
Elenco:Jewel Staite, Justin Baldoni, Marc Bacher, Nikki Griffin, Kellan Lutz, Helena Barrett, Terry Notary

A Sétima Arte promove situações curiosas, e muitas delas são até mais interessantes que o filme em questão. Um caso pouco conhecido envolve o horror A Tribo, lançado em 2009 com dois títulos diferentes, The Forgotten Ones e After Dusk They Come. Na época, a série Lost era uma das produções mais populares da TV, com mistérios e perguntas que se acumulavam a cada novo e intrigante episódio. Parecia claustrofobicamente atraente  contar outras histórias fantásticas em ilhas, e The Forgotten Ones, filmado no Brasil, poderia atrair os fãs a partir de uma premissa parecida. Mas, não foi o que aconteceu. O filme foi lançado inicialmente fora da América do Norte, e a crítica, desde suas exibições-testes, não gostou do que viu, levando os produtores a refazê-lo por completo. Sem a disponibilidade do elenco e equipe, tiveram que contratar outros atores e até mesmo diretor e roteirista, lançando no ano seguinte uma nova versão, intitulada The Lost Tribe – no Brasil, saiu em DVD como A Tribo 2. Para não descartar o material original e ter problemas contratuais, a primeira versão finalmente saiu nos EUA, mas com o título After Dusk They Come. Conseguiu acompanhar?

Isto é, há dois filmes sobre a mesma história, lançados em 2009 e 2010, com equipe toda diferente, ambas lançadas por aqui com os títulos A Tribo e A Tribo 2. Será que a primeira versão é tão ruim assim para motivar o desenvolvimento de uma nova? E será que a nova resultou em algo tão bom para justificar a refilmagem? Não para ambas as perguntas. A Tribo é um terror simples, com múltiplos clichês e muitas falhas no enredo, mas não é tão feio quanto pintam. O enredo é bem simples: um grupo de amigos parte em uma viagem de barco para uma ilha afrodisíaca. Estão nessa enrascada: Liz (Jewel Staite) e o namorado Peter (Justin Baldoni), além do casal Ira (Marc Bacher) e Lauren (Nikki Griffin), e o amigo Jake (Kellan Lutz). A tentativa de tridimensionar os personagens é mostrada nos primeiros minutos: Liz perdoou uma traição de Peter, enquanto ele pretende pedir a mão dela em casamento durante o passeio. Jake namorava Lauren, mas devido às “saidinhas” dele, a garota terminou o relacionamento para tentar algo novo com Ira. Como já sabe, em alguma página da cartilha do gênero, triângulos amorosos e viagens com o ex não costumam dar certo.

Perdidos no mar, devido à distração de Peter, eles sofrem um naufrágio – muito mal filmado, aliás – e acordam numa ilha. Sabe-se lá como foram parar lá, sem se afogar, mas não se trata de um sonho ou argumentos do tipo “todos estão mortos“, como o que martelou a cabeça dos fãs de Lost. Mesmo tendo resgatado um bote, resolvem usar um radiocomunicador para pedir ajuda. Um amigo de Peter anuncia que irá buscá-los, mas Liz percebe que existe algo na floresta, a partir de vultos estranhos, e sugere uma partida imediata. Peter pede Liz em casamento, e o clima parece agradável até o momento em que chega a noite. No dia seguinte, Peter desapareceu, deixando um rastro de sangue. Liz, que queria ir embora, resolver adentrar a mata atrás do agora noivo, sendo seguida pelos demais. Realmente há algo sinistro escondido em cavernas no local, e eles serão atacados.

Uma tribo de monstrinhos habita a ilha. São parecidos como os Morlocks do clássico A Máquina do Tempo, de H.G. Wells, com bastante agilidade na movimentação e cegos, diferindo pelo interesse em carne humana. A caracterização é bem interessante: são muitos e com aparências distintas como um raça, com destaque para o líder. Até ai tudo bem, e a direção de Jorg Ihle contribui para as cenas de perseguição e confrontos, impedindo que se percebam falhas técnicas. Porém, não se pode dizer o mesmo sobre seu roteiro. Peter está vivo. Foi levado para dentro da floresta e largado com um ferimento na perna em meio a uma relva. Não há explicações para isso. Por que largaram ele ali, se os demais são levados para as cavernas ou simplesmente devorados de imediato? Por que ele está com um ferimento na perna, mas cenas depois consegue correr como um esportista?

Outra crítica que se faz à obra envolve a cópia de umas ideias de Predador, de 1987. Em dado momento, Liz cai em um pântano e fica com o corpo tomado por uma substância viscosa, o que lhe garante uma camuflagem. Como os animais são cegos e caçam pelo cheiro, isso a ajuda a se esquivar na sequência em que está cercada por vários deles. Aliás, há bons episódios de tensão envolvendo essa luta dos personagens para se livrar dos monstros, mas em situações já vistas antes, o que enfraquece o roteiro.

Ainda que tenha suas limitações – e o próprio elenco contribui para isso -, o filme A Tribo não incomoda. É fraco pela proposta óbvia, e muitas coisas ali poderiam ser melhoradas, mas é possível que você se divirta pela sensação de claustrofobia e insegurança proporcionada por uma tribo de criaturas agressivas e famintas, sem mistérios ou fumaça preta.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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