A Tribo II (2010)

4.4
(8)

A Tribo II
Original:The Lost Tribe
Ano:2010•País:EUA
Direção:Roel Reiné
Roteiro:Mark E. Davidson
Produção:Mohit Ramchandani
Elenco:Emily Baldoni, Nick Mennell, Marc Bacher, Brianna Brown, Hadley Fraser, Maxine Bahns, Ryan Alosio, Lance Henriksen, Terry Notary

Não dá para culpar a distribuidora por nomear The Lost Tribe como A Tribo 2. Esse filme não é uma continuação de A Tribo (The Forgotten Ones aka After Dusk They Come), lançado em 2009, mas poderia ter sido. Na verdade, este segundo filme é uma refilmagem do longa original, depois que testes de exibição desanimaram os realizadores. Crentes que a ideia é genial – talvez porque a série Lost ainda estava em exibição na época -, resolveram refazer o longa com um enredo mais completo, com menos personagens estúpidos, uma presença ilustre no elenco (Lance Henriksen) e quase uma equipe toda nova. É uma daquelas bizarrices que envolve o cinema e que servem de curiosidade para você contar aos amigos ao mesmo tempo em que ri da proposta ridícula. E é só isso.

Jorg Ihle, que escreveu e dirigiu A Tribo, ficou de fora. O novo tem a direção de Roel Reiné, que comandou várias continuações (Corrida Mortal 2 e 3, Busca Explosiva 2, O Escorpião Rei 3, Os Condenados 2, O Alvo 2, 12 Rounds 2…), além de filmes do subgênero homem vs natureza (Perseguidos, Wolf Town). Já o roteiro foi escrito por Mark E. Davidson, que depois só trabalharia com curtas. No elenco, há o retorno de Marc Bacher, que atuou como o irritante Ira em A Tribo e agora encarna o mais sério Joe; e Terry Notary, que em ambos os filmes fez o papel da criatura Alpha. E há, claro, a volta de alguns produtores executivos e profissionais da equipe técnica estabelecendo uma conexão direta entre as duas produções.

Com essas mudanças e retornos, será que a trama é a mesma? Basicamente. Um grupo está no iate de Joe numa expedição de negócios, envolvendo acesso a internet de banda larga na Ásia: Chris (Hadley Fraser) e Tom (Nick Mennell) e sua namorada Anna (Emily Foxler) parecem satisfeitos em enganar Joe e sua namorada Alexis (Brianna Brown), fazendo-o assinar um cheque de alto valor ainda na viagem. Numa versão marítima do remake O Massacre da Serra Elétrica (2003), eles encontram um homem perdido no mar, sobrevivente de um naufrágio. O estranho tenta a todo custo impedir que o barco prossiga em seu percurso, sabendo o que eles irão encontrar pelo caminho, mas acaba permitindo o choque com uma rocha e, como no original, mais um naufrágio mal filmado acontece.

Eles alcançam uma praia, exceto o estranho que não sobrevive, e tentam contato com a Guarda Costeira, que anuncia o resgate. Enquanto aguardam, Tom desaparece na mata para desespero de Anna, que havia recebido a proposta recente de morarem juntos – assim como o casal do outro filme. Na busca pelo desaparecido, o grupo percebe que não está sozinho na mata, pois há uma tribo de criaturas carnívoras à espreita para caçá-los um a um. A tal tribo pode ajudar a explicar a evolução humana, algo que pode contrariar os interesses da Igreja ao ponto dela contratar o padre assassino Gallo (Henriksen) para não deixar vestígios das descobertas que podem trazer questionamentos – é sério!

Diferente de A Tribo, as criaturas aqui somente irão realmente aparecer depois de mais de cinquenta minutos de filme. Serão envoltos em sombras, com movimentos ágeis nos saltos entre árvores, e serão acompanhados de sons que deixam a entender uma comunicação própria. O visual delas está bem melhor, principalmente com o acréscimo de ossos como uma máscara. Contudo, se o primeiro já tinha copiado a ideia principal de Predador (1987), nesta a relação é absoluta. Não são cegos, mas possuem uma limitação visual que permite que enxerguem as pessoas pelo calor. Logo, além da visão “predador“, há mais uma vez a ideia da jovem que se banha de alguma meleca e se torna invisível aos seres.

Como visto no primeiro, ela também terá a oportunidade de reencontrar o namorado, mas este ainda está vivo, para alguns momentos de tensão e emoção. Ela terá que encontrar meios de sair dali sem ser percebida, para alcançar a praia para buscar ajuda. Terá o apoio de um cachorro, e ainda enfrentará Gallo e o líder da tribo, resultando em algo similar ao que fora visto no longa de 2009. Ainda que aconteçam alguns bons momentos, é clara a sensação de deja vu, como se o infernauta estivesse vendo o mesmo filme duas vezes, o que deveria render algumas reclamações de Jorg Ihle.

O elenco está razoavelmente bem, destacando mais uma vez a figura carismática de Lance Henriksen. Ele tem poucas cenas, não aparecendo mais do que cinco minutos na tela, mas chama a atenção pelo modo como se envolve com o personagem. Ainda que a razão de sua presença seja completamente desnecessária – se tirasse o personagem, não faria falta -, é sempre bom vê-lo interpretando mais um vilão, com sua carranca séria e ameaçadora.

Mesmo com todos os esforços, A Tribo 2 está no mesmo nível que o anterior. Há alguns acertos aqui e ali, mas nada que justifique a sua refilmagem. Voltar à ilha e reencontrar a mesma tribo em situações parecidas não parece uma escolha muito acertada dos envolvidos. Felizmente, não houve mais nenhuma intenção de visitá-la.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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