Lázaro
Original:Lázaro Ano:2022•País:Suécia Autor:Lars Kepler•Editora: Alfaguara |
Segundo a Bíblia, um homem que estava morto e sepultado há quatro dias foi ressuscitado por Jesus, e seu nome era Lázaro. Dito isso, a frase escrita na capa do livro – além do nome do mesmo – escrito por Lars Kepler (com tradução de Renato Marques) basta para temos uma minúscula ideia do que está por vir: “O passado nem sempre permanece enterrado”.
Lars Kepler é o pseudônimo do casal sueco, que escreve em conjunto, Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. Seu primeiro livro, chamado O Hipnotista, foi um grande sucesso na Suécia e sua sequência – O Executor – nos apresenta o investigador Joona Linna. Foi apenas no quarto livro, O Homem de Areia, que Lars Kepler ganhou o mundo, sendo aclamado em diversos países, incluindo o Brasil. Lázaro é o sétimo livro da série Joona Linna, entretanto, assim como acontece com Harlan Coben e seus livros envolvendo o ex-astro do basquete Myron Bolitar, as histórias podem ser lidas de forma independente sem que isso comprometa sua compreensão.
Em Lázaro, Joona Linna volta à ativa após um tempo afastado, ao mesmo tempo que diversos assassinatos brutais acontecem ao redor da Europa. Um dia, o detetive recebe uma ligação da polícia alemã pedindo que ele vá, com urgência, até a cena de um crime que aconteceu no país. Lá, é informado que a vítima foi um perigoso criminoso e, em uma cena de crime aterradora, descobre que essa morte, de algum modo, tem ligação com ele. Desesperado e desconfiado de quem poderia ser o autor dos crimes, Joona se vê num beco sem saída, chegando a ficar paranoico devido aos eventos recentes. A única que pode ajudá-lo é Saga Bauer, sua antiga companheira da força policial.
Saga, porém, tem outros problemas em mente, e acha que o detetive está exagerando. Tudo não deve passar de uma terrível coincidência, afinal, não há nada que ligue vários assassinatos, com diferentes modus operandi, em múltiplos países. Tarde demais, Saga e todas as pessoas próximas ao detetive descobrem que um terrível passado foi desencavado e está de volta para assombrá-los da pior forma possível.
Não é novidade que escritores suecos de suspense e relacionados têm a fama de escreverem histórias violentas e bem gráficas, a exemplo da trilogia original Millenium, de Stieg Larsson, e não é diferente com Lars Kepler. Cabeças em refrigeradores, corpos açoitados e desmembrados e tentativas de suicídio são alguns exemplos do que pode ser encontrado nessa leitura, portanto, fica o alerta para leitores com algum tipo de gatilho.
Não tem como falar mais sobre a trama principal, que é surpreendente de muitas formas. É preciso ler e descobrir pouco a pouco o que está à espreita. São tantas reviravoltas arrepiantes de tirar o fôlego que simplesmente só dá para dizer: coloque Lázaro na sua lista.
De uma forma eletrizante, Lars Kepler prende o leitor desde a primeira até a última página, sendo quase impossível largar a leitura. Os capítulos alternam a visão dos personagens, sendo recheados de ação e conjecturas. Por serem relativamente curtos, são dinâmicos e instigantes e nos deixam ansiando por mais informações sobre esse mistério, sobre o que se passa com cada personagem, sobre qual será o próximo passo de cada um. Além de alternarem, os capítulos encerram em momentos angustiantes ou importantes daquele determinado personagem da vez, o que nos faz ler cada vez mais apenas para descobrir o que aconteceu e, quando nos damos conta, já se foram inúmeras folhas, mal dá pra sentir as mais de 500 páginas passarem. É impressionante a capacidade narrativa do casal, que ora nos faz acreditar que Joona Linna está sendo exagerado e inconveniente, ora nos faz achar que ele está absolutamente certo em tomar todas as precauções possíveis.
Apesar de Joona ser o protagonista, a estrela do livro é, sem dúvidas, Saga Bauer. Uma personagem complexa, cheia de camadas a serem destrinchadas, imperfeita e com seus próprios demônios – que não são poucos – para lidar. Aos poucos vamos conhecendo mais do passado da policial, de sua personalidade e motivo de suas escolhas durante a trama, alternando sentimentos entre raiva e empatia pela mesma.
Outro personagem extremamente bem trabalhado é o principal assassino – cujo nome não vou citar para não estragar a experiência. Frio, inteligente e calculista, sempre um passo à frente da polícia. Até aí, nada diferente de outras histórias. Mas sua crueldade e imprevisibilidade são sem precedentes. Muito além de assassinatos abomináveis e desmembramentos violentos (ações que acontecem em detalhes), o terror psicológico que inflige em seus alvos antes de abatê-los é muito mais assustador do que o banho de sangue que ele deixa por onde passa, fazendo todas as coisas horríveis que faz com uma calma e bom humor macabros. Dificilmente ele perderá a compostura e habilidade para análises profundas da mente das vítimas, e é isso que o faz tão inescrupuloso.
Como já dito, não é preciso ler as obras anteriores para fazer a leitura de Lázaro, embora, é claro, o leitor terá uma visão mais abrangente caso leia a saga completa. De qualquer modo, pequenos detalhes de acontecimentos anteriores são explicados aqui e, conforme a história avança, é possível entender as motivações e tudo que levou até ali sem maiores dificuldades.
Lars Kepler soube criar toda uma atmosfera de suspense e tensão causando incredulidade e horror a quem está assistindo – ou no caso, lendo – de camarote as coisas desandarem rapidamente em uma sequência brutal e chocante de eventos. Em Lázaro não há espaço para respirar, descansar e se recuperar de uma desgraça antes de outra acontecer, sendo um excelente thriller pesado e alucinante que nos deixa ávidos por mais. Certifique-se de que seus monstros realmente estão bem enterrados e sem chance de serem ressuscitados antes de relaxar.