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Sobreviva a Noite
Original:Survive The Night
Ano:2022•País:EUA
Autor:Riley Sager•Editora: Alta Novel Books

Imagine que no meio de um dia pacato você passe a viver momentos de sua vida dentro de um filme, de gêneros e períodos variados. A única coisa em comum é que você faz parte de outra história que não a sua. Parece um sonho, não é? Ter o nosso próprio James Cameron, ou Stanley Kubrick a postos para nos tirar do tédio do dia a dia em roteiros imaginativos e imersivos. Porém, e se eu te disser que para nossa protagonista essas viagens são um grande pesadelo e que podem inclusive custar sua vida?

Nesse livro do autor Riley Sager, conhecido pelo thriller de sucesso As Sobreviventes e A Última Mentira que Contei, conheceremos Charlie Jordan, uma jovem que cursa cinema numa universidade americana e vive seus dias de maneira comum, até que sua melhor amiga é assassinada de maneira brutal por um serial killer intitulado de Assassino do Campus. Sua saúde mental, que já dava indícios de quebra devido a traumas pessoais, piora a ponto de ela tomar a medida drástica de abandonar seu curso e voltar para a sua cidade natal às pressas. É nesse retorno à casa que encontramos o plot inicial da história e também a própria fragilidade da trama, pois Charlie decide viajar quilômetros de madrugada com um completo desconhecido que ela achou num programa de carona voluntária entre os universitários.

Esse homem tão solícito e misterioso é Josh Baxter, um rapaz claramente mais velho, mas de sorriso confiante e que acima de tudo é o único disposto a viajar às pressas na véspera da noite de Ação de Graças. O terror dessa história se inicia quando Charlie, já dentro do carro do desconhecido e no meio da estrada, começa a ter suas alucinações vívidas oscilando entre filmes noir e filmes de terror oitentista. Isso se inicia nesse momento, pois os seus “filmes” sempre rodam quando ela se sente acuada e tensa, e conforme ela vai conversado com Josh no carro, ela percebe que muitas das histórias que ele contou a ela, antes deles estarem na estrada, não batem.

Sem saber o que é real e o que é imaginação, conforme a estrada escura os engole, uma sensação de alerta se instaura na mente de Charlie, pois é certo que Josh não é quem diz ser, mas poderia então ela estar viajando com o Assassino do Campus? Se for o caso, como fugir de uma situação em que claramente o controle, tanto da sua mente, quando do veículo onde eles estão, não está nas suas mãos?

Inicio minha crítica ao dizer que, para um fã de terror e suspense, principalmente na literatura, é uma grande alegria ver que editoras novas estão apostando no gênero, e a Alta Novel Editora mostra a que veio, trazendo títulos de impacto por aqui, como o livro Palhaço no Milharal, do autor Adam Cesare, ganhador do prêmio Bram Stoker Awards em 2020, e o Nunca Estivemos Aqui, de Andrea Bartz, romance de sucesso internacional e com adaptação da Netflix já confirmada, e que sairá ainda nesse semestre. Em Sobreviva à Noite temos mais um caso atrativo, com uma sinopse vigorosa e original, uma capa que consegue dar o tom slasher necessário à trama e que lembra cartazes de filmes como Wolf Creek, e por fim com um autor que já nos mostrou anteriormente que sabe conduzir uma história de sucesso, que é o caso de Riley Sager. Entretanto, a qualidade de um livro vai além da sua capa, da sua sinopse e até mesmo do próprio criador que nos apresenta a trama: assim como num filme, o que importa no final é o roteiro.

A protagonista não tão confiável é algo corriqueiro na literatura, mas aqui o autor consegue imprimir sua identidade ao trazer esse elemento da fuga cinematográfica como um suspiro narrativo. Para fãs do cinema, referências não irão faltar, pois em meio à viagem Charlie lembra de filmes, artistas e cenas icônicas do cinema. Por sua vez, se você não é tão fã de cinema assim, essas passagens podem soar enfadonhas. O fato da história ser narrada em primeira pessoa e nem sempre essas passagens do real para o imaginário serem perceptíveis também funciona para nos colocar com a protagonista, duvidando daquilo que acabamos de vivenciar, mas o cenário restrito de um carro fechado que serve como base para as cenas de tensão mostra a sua limitação ao não trazer o tom de perigo necessário à história. Isso, aliado a ações bem inocentes, para não dizer idiotas da protagonista, acabam puxando o freio de uma trama que tinha potencial para ser bem mais veloz.

Aqui fica claro o quanto o autor é fã do gênero terror e do cinema de modo geral, pois há cenas e situações recicladas de vários filmes, funcionando muitas vezes para alimentar as paranoias de Charlie ou até mesmo para trazer a tão aguardada e iminente tensão à história, porém o excesso de reciclagem de referências acaba criando nós nas curvas da trama, que posteriormente se mostram bem difíceis de desatar.

O livro usa o artificio narrativo de mudanças de vozes, pois é escrito em primeiras pessoas, iniciando com a narração de Charlie e nos surpreendendo com outras vozes pelo caminho, e isso funciona bem na primeira vez, trazendo uma reviravolta inesperada e que me deixou tenso, mas já na segunda, na terceira e nas próximas vezes, o uso desse elemento acabou se mostrando frágil. Imagine um bolo lindo e atrativo sendo exposto, agora imagine que o mesmo bolo na primeira garfada revela que tem 12 recheios de sabores diferentes e muitos não combinando uns com os outros.

Por fim, não posso deixar de lado a originalidade da história, pelo menos na literatura, porém esse é o nítido caso onde menos seria muito mais e com essa sinopse, cortando seus excessos, ouso dizer que ele conseguiria realmente ser um livro tenso à la Taylor Adams (autor dos livros Sem Saída e Ponte do Medo).

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