5
(7)

“Os tempos podem ter mudado, mas a natureza do mal não.” (Timothy Howard, American Horror Story)

Festa no Inferno na nossa comemoração de 22 anos! Todas as criaturas indizíveis de Lovecraft já estão guardando a entrada do tapete vermelho-sangue, enquanto cenobitas estacionam os veículos fúnebres do Tall Man. Michael Myers foi um dos primeiros a chegar, acompanhado de Laurie Strode em um belíssimo vestido branco que até a morte a convidaria para dançar; Jason Voorhees abre caminho na multidão endemoniada com seu facão afiado, sendo ofuscado pelas reluzentes lâminas da luva de Freddy Krueger, que retira seu chapéu em reverência a Elvira. Uma horda de zumbis de Romero parece salivar com a aproximação de Hannibal Lecter despontando ao lado de Sadako, atenta ao chão onde Billy conduz sua bicicleta e Chucky manda beijos para Annabelle. Um espaço do corredor é disponibilizado às bestas, permitindo que sejam identificados um lobisomem americano e um gosmento Pumpkinhead – o Predador talvez esteja ali também camuflado. Logo que atravessam a Boca do Inferno, as luzes se apagam para as apresentações especiais.

É com grande orgulho que completamos mais um ano de existência, agradecendo aos infernautas que sempre nos prestigiam com suas visitas. Desde o nosso último festejo, em maio do ano passado, o site cresceu em seu acervo de críticas, na realização de podcasts, foram criadas sessões especiais para postagens diárias (Terror de Segunda, LiteraTERROR, Quinta Série, SexTERROR) e tivemos a nona edição do Festival Boca do Inferno, realizado entre o final de março e começo de abril no Cine Bijou. Novos membros da equipe se consolidaram, cada um a seu estilo, participamos de pré-estreias, cabines de imprensa e eventos diversos. Mas o mais importante: continuamos com o compromisso de divulgar o horror em todas as suas vertentes, através do site e das nossas redes sociais.

O caminho continua difícil. A falta de apoio daqueles que produzem terror ou se oferecem como espaços culturais ainda é imensa. Existem dentro deste meio aqueles que veem o Boca do Inferno e o festival como adversários ou concorrentes, o que justifica a marginalidade do gênero. No entanto, ainda enxergamos razões para continuar esquentando a internet de vocês com textos e notícias e divulgando até mesmo quem não nos divulga, pois ainda acreditamos no mais importante. Até quando teremos força para manter essa estrada de tijolos sangrentos do inferno disponível? Não sabemos.

O terror mudou muito de 2001 para cá. Vieram nomenclaturas como “found footage“, “torture porn” e até “pós-horror” para denominar o que já existia, expressões como “zumbis maratonistas” e “edição de videoclipe“, além do estrangeirismo “jumpscare” na substituição do antigo “pulo do gato“, começaram a pipocar nas críticas de cinema. Os efeitos em CGI se tornaram mais frequentes, diminuindo o impacto realista das maquiagens e próteses, além de mais cenas gravadas em tomada única. Não houve mais tanta preocupação em atores mais velhos interpretarem adolescentes nos filmes de horror, e consequentemente a ousadia deixou de ser peça rara. Mas houve uma ampliação dos clichês, repetição de fórmulas e subgêneros e quase nenhum “novo clássico” – [REC], Atividade Paranormal, Jogos Mortais, Invocação do Mal caminham para o título.

Os cinemas, agora com poucos “de rua” e mais comuns em shoppings, começaram a numerar seus assentos. Abriram as portas ao Cinemark e outras empresas estrangeiras que passaram a trazer mais produções americanas, com menos espaço às nacionais. Os VHS perderam força para os DVDs; depois vieram os blu-rays; e, por fim, as plataformas de streamings. Sites e blogs de download ganharam força, com torrents no lugar dos emules.. E o Youtube se desenvolveu como janela de visualização de trailers e filmes, assim como se popularizaram as redes sociais (Orkut, Facebook, Instagram…).  Mudanças que afetaram bastante o cinema, mas principalmente o de horror.

E foi esse cinema que perdeu grandes nomes como Wes Craven, George A.Romero e José Mojica Marins. Tivemos perdas significativas em vários segmentos, assim como amigos que foram determinantes para o surgimento e manutenção do Boca do Inferno como Adriano Siqueira, do Adorável Noite.

Poderíamos falar sobre literatura, quadrinhos, games, música….todas as vertentes do gênero sofreram gigantescas mudanças. Assim como também as pessoas. Sejam as que trabalham no site, com entradas e saídas de críticos e colaboradores, como a sociedade em geral, envolta em política, saúde e futebol.

Por isso, é importar mostrar o quanto 22 anos representa uma vida. E o Boca do Inferno esteve aqui, atravessando crises, guerras, pandemias, mudando de visual, de linguagem de programação (html para wordpress), resistindo a ataques e “cancelamentos“. Estar em constante mudança é comum, mas se manter firme e forte é para poucos.

E toda essa força se deve pela idealização de seus realizadores, que alternam suas rotinas profissionais com postagens e dedicação à página, e pelas visitas de vocês!

Por isso, todos serão sempre convidados a comemorar conosco, atravessar o tapete vermelho-sangue, se esquivando das aberrações que desejam a sua carne. Peguem suas taças de vinho e venham brindar conosco!

Parabéns a todos nós!

 

 

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 7

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

6 Comentários

  1. Parabéns ao Boca! E que venham mais 22 anos como o site referência para quem curte todas as vertentes do universo do terror!

      1. No8, site fantástico! Conheci os melhores filmes através de vocês! Muito obrigado!

  2. Parabéns à todos os envolvidos pelos 22 anos infernais de muita dedicação, suor e sangue.

    Vida longa ao Boca do Inferno.

    Cheers!

  3. Parabéns pelos 22 anos!!
    E pensar q acompanhei laaaaaa atrás, no comecinho… E que, de certa forma, graças a isso tô casada com o melhor marido do mundo.
    E que venham mais 22, 35, 40 anos… Pra estarmos juntos no asilo e eu perguntando: Marceeeelo, já teve atualização no site?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *