Bone Orchard Mythos: The Passageway (2022)

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Bone Orchard Mythos: The Passageway
Original:Bone Orchard Mythos: The Passageway
Ano:2022•País:EUA
Páginas:Autor:Jeff Lemire•Editora: Image Comics

Um longo título para uma história tão curta.

Antes que me entendam mal, há duas formas de avaliar esta obra: uma pelo perfil de um fã de longa data dos universos de Gideon Falls e Primordial, e a outra pelo olhar de uma graphic novel autocontida – inclusive com acabamento premium de capa dura e outros detalhes luxuosos -, que poderia contar sem muita penalidade uma história que conduziria o leitor para dentro deste universo compartilhado. Tomei o caminho do segundo, afinal Gideon Falls e Primordial são duas daquelas obras que ficam em sua pilha de leitura do ano de 202X (complete aqui o ano que você escolher) e, mesmo figurando como indispensáveis, perdem a oportunidade para desventuras da vida.

Bone Orchard Mythos: The Passageway conta a passagem de John Reed, um geólogo que foi enviado para um farol em uma ilha isolada a fim de investigar um poço aparentemente sem fundo.

Uma curta descrição, sem grandes revelações que possam estragar sua experiência. Mas honestamente, isso não faria muita diferença! The Passageway é um historieta comparável a um conto com suas aproximadas noventa e seis páginas, que se deixa levar pelos simbolismos e abstrações tal qual alguns filmes de baixo orçamento apresentados com suposições óbvias e outras não.

A Ilha é pastoreada por Sally “Sal” Yandle, uma eremita de palavras tão duras quanto as formações rochosas ao redor, mas que parece carregar mais do que os diálogos abruptos possam revelar. Aparentemente um dos únicos acessos e caminho para a ilha está na mente e nas mãos de habilidosos pescadores como Doug, que guiou John até ali. Ele preenche o estereótipo e maneirismos de um rudimentar com habilidade social questionável.

E novamente de volta à Ilha, da qual o Farol não funciona mas cumpre o papel de um personagem à parte, daqueles que você sente o sabor do sal de tão espesso e lúgubre é o firmamento como se a própria luz tivesse ido para lá cometer suicídio. Não para menos são as cores de Dave Stewart, que tem entre seus trabalhos de destaque os quadrinhos de Mignola, melhor dizendo, Hellboy. A cor pesa nos vultos, nos sulcos mais profundos do rostos, nas manchas e silhuetas, nas sobreposições da arte, e nos tons pastéis que ele usa em uma expressão de retratos emudecidos, desbotados em três tonalidades que dão aos quadrinhos uma sobriedade constante e aquela sensação de pesar, incluindo uma liberdade poética com disforme pilha orgânica grotesca de onde o branco e o vermelho ressaltam um par de olhos e nervos como uma pitada de condimento no molho.

As cores de Dave brilham, ou melhor dizendo, obscurecem a viçosidade da vida no mundo, mas não em contradição e sim em complemento ao traço de Sorrentino, onde se destacam duas características interessantes na sua transição de painéis – por vezes páginas completas – de um traço caricato para, em seguida, termos sequência de um traço com anatomia realista e ambos se entrelaçarem perfeitamente. A outra característica é sua inventiva e engenhosa capacidade de criar panoramas diferentes de painéis com formatos e composições que fazem sentido para a narrativa e por vezes até “soam” como ornamento burlesco (em suas outras obras como Velho Logan ou o Arqueiro Verde), e nesta usando das formas primitivas de painéis mais estreitos em altura, o que dá a sensação de uma composição mais cinematográfica.

Quanto à história, Jeff Lemire dispensa apresentações, obviamente, mas vêm no excesso de abstrações os convites para suposições daquilo que não é mostrado ou narrado visualmente de forma bem limitada. Os personagens possuem motivações críveis, ao menos parecem mostrar que sim. Isso em um filme funciona muito bem porque há outros elementos na mídia que contribuem para essa narrativa, como o som e o próprio movimento.

Considerando que é uma graphic novel, onde a história deveria ser auto contida nas páginas que compõem a obra, foram deixadas muitas questões. Mesmo sabendo que faz parte de um universo maior e compartilhado, ela não cumpriu o papel de nos contar uma história completa mas ao menos despertou curiosidade para voltar à pilha da Gideon Falls (publicada no Brasil pela Editora Mino) e da Primordial.

The Bone Orchard Mythos: The Passageway é um primor em seus quesitos gráficos, acabamento de luxo pela Image, e faz parte de uma iniciativa maior de um universo compartilhado entre Gideon Falls e Primordial, com o pontapé inicial com o quadrinho distribuído gratuitamente no Free Comic Book Day em 2022, com o título The Bone Orchard Mythos: Prelude. A obra peca um pouco em não entregar uma história completa, ainda que, assim como os contos literários não precisam ser extensos, há um significado dentro do tempo em que se dispôs a apresentar. Faz-se então necessário avisar que a obra terá seu maior impacto nos fãs de longa data dos anteriores na qual derivou, mas para o leitor ocasional, esperando imergir com esta graphic novel, apenas poderá deixá-lo faminto.

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Ed "Toy" Facundo

Cearense nascido e criado na capital, apaixonado pela ideia de dar vidas aos seus brinquedos ou resolver intrigantes configurações do lamento - talvez esteja em um copo de cerveja - e vocalista da banda de death/thrash metal Human Heritage. Veio à Newcastle (Upon Tyne) em busca daquilo que traumatizou Constantine e sobrando tempo para exercer sua profissão de desenvolvedor de jogos.

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