4.3
(10)

O Olho do Diabo
Original:Eye of the Devil
Ano:1966•País:UK
Direção:J. Lee Thompson
Roteiro:Robin Estridge, Dennis Murphy
Produção:John Calley, Martin Ransohoff
Elenco:Deborah Kerr, David Niven, Donald Pleasence, Sharon Tate, David Hemmings, Edward Mulhare, Flora Robson, Emlyn Williams

O Olho do Diabo, ou 13, como também é conhecido, é um desses filmes que, não se sabe bem por que, podem facilmente se perder na vastidão dos arquivos online caso não seja referenciado constantemente pelos vasculhadores de plantão. O que é uma pena por que, além de muito bem executado, conta com muitos nomes de peso em uma narrativa que se mostra atemporal, e que merece ser vista e discutida (ou seja, é um clássico).

Baseado no romance Day of The Arrow, de Robin Estridge (sob pseudônimo Phillip Loraine) e publicada em 1964, O Olho do Diabo, produção britânica, conta a história de uma família centenária, cujo cultivo de uvas para produção de vinho mantém toda uma comunidade, igualmente centenária, viva, no interior da França. (spoilers à frente) A fartura, no entanto, tem um alto preço para a família, pois envolve a oferta de sangue humano à terra a partir de sacrifícios rituais que devem acontecer de tempos em tempos.

A trama se inicia quando Catherine de Montfaucon (Debora Kerr) vê seu marido, o marquês Phillipe de Montfaucon (David Niven) ser convocado para resolver um “problema” na produção de uvas na vinícola da família. Principal herdeiro da propriedade, ele pede que esposa e filhos pequenos o esperem, pois não sabe quando ou se volta. Insatisfeita, a esposa o segue da sua casa em Paris até a imensa propriedade (o Château de Hautefort, um castelo medieval incrível, anterior ao século XVII e localizado na área rural de Dordogne, França), para averiguar os motivos para a mudança de comportamento do marido.

Chegando lá, a atitude estranha do marido é percebida também no restante da família, nos funcionários do castelo, e até nos moradores das vilas que cercam a propriedade – e que dela dependem. Todos agem como se estivessem esperando uma atitude de Philippe de Montfaucon, e como se a presença de sua esposa na propriedade viesse a atrapalhar o que deve ser feito. O contato com um estranho culto, que logo se descobre ser de uma religião primitiva da região, só torna a estada de Catherine no castelo ainda mais assustadora.

A narrativa segue uma espiral de tensão em torno de Catherine. A estrutura medieval (econômica, religiosa, social) passa a ser percebida como o epicentro, o “olho”, o vórtice de um “mal” (se assim considerado, pois há um elemento cultural em questão, uma discussão tão complexa quanto delicada) muito primitivo capitaneado pelos líderes religiosos locais, e que envolve toda a comunidade e seus diversos setores, sendo, assim, irreversível.

O que temos aqui é um suspense muito bem realizado, até elegante, e uma direção que valoriza os magníficos cenários e as possibilidades de mensagens que podem ser transmitidas através deles. O diretor J. Lee Thompson acabava de sair de um de seus trabalhos mais bem sucedidos, Os Canhões de Navarone, e talvez a expectativa e a temática, pra lá de controversa, tenha contribuído para a baixa receptividade do público para esse Olho do Diabo.

O elenco pesudo – Debora Kerr, David Niven, Donald Pleasence (num papel sensacional), Flora Robinson, David Hemmings, e Sharon Tate (em seu primeiro papel creditado no cinema e, olha, logo em que filme!) – também levanta interrogações sobre o porquê de esse filme não ter decolado em sua época. Há algo de pioneiro na representação dos assuntos expostos em cena, e um roteiro como esse, abordando tantos assuntos que não se resolvem (até hoje), geram alguns quilos de mal estar ao espectador – o que é bom, sendo um produto direcionado para o público de terror.

Seus respingos podem ser sentidos de diversas formas até os dias hoje, em exemplos mais ou menos elaborados que vão do incrível O Homem de Palha (1973) até o hypado Midsommar (2019), duas produções alto nível, mas que perdem muito de sua força se você viu esse Olho do Diabo antes (e vice-versa, preciso dizer). Enfim, filmão, pra bugar nossa moral, hehe.

PS: O Olho do Diabo não está disponível nas plataformas de streaming, e sim nos torrents. Quem souber de outras referências anteriores com essa mesma temática, deixa a indicação aí nos comentários. A casa agradece! =D

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5 Comentários

  1. Na verdade, “O Olho do Diabo” é um filme pretensioso que mais promete do que entrega e se torna rapidamente previsível, como na sequência final, na qual vemos o filho “herdando” o lugar do pai na seita de fanáticos. Nada de novo e, como eu já disse, muita pretensão. Melhor mesmo é ver Déborah Kerr em “Os Inocentes” (1961) de Jack Clayton- esse sim um suspense de alto nível- e David Niven ao lado de Marlon Brando em “Dois Farristas Irresistíveis” (1964) de Ralph Levy, comédia que foi o único filme que motivou Brando a acordar todos os dias com vontade de ir filmar – o único filme- palavras do próprio Brando na entrevista à Playboy em 1979 e que ele reafirmou na sua autobiografia de 1994, “Canções que Minha Mãe me Ensinou”. Já a infeliz Sharon Tate era belíssima, mas totalmente inexpressiva (como disse um crítico na época do lançamento de “O Olho do Diabo”)

  2. Na verdade, “O Olho do Diabo” é um filme pretensioso que mais promete do que entrega e se torna rapidamente previsível, como na sequência final, quando o menino “herda” o lugar do pai na seita de fanáticos. Melhor é ver David Niven ao lado de Marlon Brando em “Dois Farristas Irresistíveis” (1964) e Deborah Kerr em “Os Inocentes” (1961) – esse sim um clássico do suspense. Já a infeliz Sharon Tate, apesar de belíssima, era mesmo inexpressiva (como apregoou um crítico da época).

  3. O filme está disponível no catálogo do streaming Belas Artes “À La Carte”.

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