Cemitério Maldito: A Origem
Original:Pet Sematary: Bloodlines
Ano:2023•País:EUA Direção:Lindsey Anderson Beer Roteiro:Lindsey Anderson Beer, Jeff Buhler, Stephen King Produção:Lorenzo di Bonaventura, Lorenzo di Bonaventura Elenco:Jackson White, Natalie Alyn Lind, Forrest Goodluck, Isabella LaBlanc, Henry Thomas, Jack Mulhern, David Duchovny, Samantha Mathis, Pam Grier, Christian Jadah, Steve Love, Karl Graboshas, Vincent Leclerc |
“Às vezes, estar morto é melhor.” é uma sentença que serve para experimentos de reanimação de cadáveres, invocação em sessões espíritas e franquias. Basta ver o quanto Jason Voorhees descansa tranquilamente nos fundos do Crystal Lake com sua série de dez filmes, um crossover e uma refilmagem, enquanto Pinhead, as crianças do milharal, o assassino canibal do Texas, o bicho-papão de Haddonfield, o brinquedo Good Guy…são sempre lembrados em novas séries e longas – a velha desculpa do reboot e “continuações oficiais”. Cemitério Maldito, adaptação da obra O Cemitério, de Stephen King, também jazia numa paz absoluta com seu filme de 89 e a continuação de 92 até a realização de uma nova adaptação em 2019. Até que fizeram um bom trabalho de releitura, alterando alguns conceitos clássicos e apresentando um final pessimista. Mas como o persistente Louis Creed (Dale Midkiff) nos ensinou na primeira versão: se você fez uma vez e deu quase certo, por que não tentar de novo?
Pouco antes da estreia da segunda versão, em março de 2019, o produtor Lorenzo di Bonaventura já acusava a possibilidade de realização de um prelúdio. Mesmo com a negativa de retorno dos diretores Kevin Kölsch e Denis Widmyer, em maio, com o sucesso de bilheterias – o filme custou U$21 milhões e arrecadou mais de U$110 milhões -, já havia conversas preliminares de como seria explorado o passado de Ludlow, de Jud, do cemitério indígena e as lendas por trás do retorno dos mortos. Em fevereiro de 2021, foi dada a luz verde para a realização, contratando em maio Lindsey Beer para dirigir e Jackson White para assumir o papel do jovem Jud. As filmagens tiveram início em agosto desse mesmo ano, mas o lançamento só aconteceu agora, dois anos depois, o que muitas vezes acende um sinal de alerta.
O roteiro, de Lindsey Beer e Jeff Buhler, é ambientado em 1969 mostrando o jovem Jud Crandall (White) e sua namorada Norma (Natalie Alyn Lind) planejando deixar sua cidade-natal Ludlow, no Maine, para morar em Michigan, onde pretendem se juntar ao Corpo da Paz. É uma idea que agrada seu pai, Dan (Henry Thomas), que não quer que seu filho se envolva com a Guerra do Vietnã, mexendo os pauzinhos para tirá-lo das listas de convocação. Na saída da cidade, o veículo atinge o cachorro de Bill Baterman (David Duchovny), e, ao levá-lo de volta ao dono, descobrem que o amigo de infância de Jud, Timmy (Jack Mulhern), retornou do Vietnã com “a pele pendendo de seus ossos, olhos frios e cinzentos, cheirando a morte.“, como é descrito no capítulo 39 de O Cemitério.
Quando Norma é mordida pelo cachorro, o casal é obrigado a ficar mais um tempo na região, descobrindo aos poucos que tanto o animal quanto Timmy foram enterrados por Bill em solo “azedo“. Jud se une a seu outro amigo de infãncia, Manny (Forrest Goodluck), e a busca por respostas conduz a descobertas que remontam a fundação da cidade, quando seus antepassados, incluindo o homônimo Ludlow (Noah Labranche), fizeram um pacto de proteção do local maldito. Além de Jud e Manny, circulam pelo elenco em papéis pouco inspirados Samantha Mathis, como Kathy, mãe de Jud, e Isabella LaBlanc, atuando como Donna, a irmã de origem Mi’kmaq de Manny. Há também uma Pam Grier armada para remeter levemente a seus personagens clássicos, Foxy Brown e Coffy, além do já mencionado David Duchovny, com uma aparência de cão sem dono.
A estreia de Lindsey Anderson Beer é tecnicamente eficiente. Desenvolve uma boa condução dramática, mas muito distante da atmosfera aterrorizante de Mary Lambert. Há muita enrolação, mortos exageradamente falantes e algumas ideias bobas do enredo como o do sequestro de Norma. Se a ideia do longa de 2019 foi a dos ressuscitados enterrarem uns aos outros para montar uma “família morta-viva“, aqui há zumbis comedores de carne humana e criaturas que não se decidem entre seres inteligentes ou bestiais. Aquele conceito interessante dos mortos terem raiva dos vivos, justificando seus atos de agressividade e assassinato, é deixado de lado pela tradicional batalha entre humanos e zumbis.
Desperdício de elenco e flashbacks que não trazem exatamente a origem do cemitério indígena, Cemitério Maldito: A Origem abraça O Exorcista – O Devoto como mais uma franquia que não devia ser cutucada em 2023. Jud sempre se mostrou um personagem obcecado, atormentado por erros do passado, e que justificam suas ações no futuro. O desta prequel ainda não extá muito próximo de justificar sua permanência na cidade como um vigilante do cemitério e nem muito menos para fofocar para Louis Creed sobre uma oportunidade de correção da ordem natural das coisas. Será que o filme foi feito já pensando em continuações?
Cemitério Maldito: A Origem teve uma passagem pelo Fantastic Fest em 23 de setembro, e chegou à plataforma da Paramount em 6 de outubro. Como aconteceu com o longa de 2019, ignorando críticas negativas e interesse do público, já existem realmente conversas sobre expansão da franquia, seja mostrando mais do passado de Jud e seu envolvimento com o cemitério e até a exploração do demônio que estaria por trás da volta dos mortos, com referência a Wendigo e a mitologia do povo Mi’kmaq. Parece que alguém anda enterrando franquias em cemitérios errados…
Me surpreendi, gostei mais do que o remake.