Crocodilos: A Morte te Espera (2020)

4.3
(6)

Crocodilos - A Morte te Espera
Original:Black Water: Abyss
Ano:2020•País:Austrália, EUA
Direção:Andrew Traucki
Roteiro:John Ridley, Sarah Smith
Produção:Pam Collis, Neal Kingston, Michael Robertson
Elenco:Jessica McNamee, Luke Mitchell, Amali Golden, Benjamin Hoetjes, Anthony J. Sharpe, Louis Toshio Okada, Rumi Kikuchi

Depois de duas amostras do quanto um filme de terror pode ser construído por sua atmosfera e criatividade, com os eficientes Medo Profundo (Black Water, 2007) e Perigo em Alto Mar (The Reef, 2010), Andrew Traucki falha novamente ao explorar o mesmo terreno. Na verdade, está bem distante dos mangues e podia até mesmo não receber o título Black Water – só pelo rio ou um crocodilo voraz -, mas a relação com um filme mais bem conceituado poderia pelo menos atrair curiosos. O resultado é uma falsa continuação, um longa feito com mais recursos e menos ousadia, e que diverte sutilmente pela proposta claustrofóbica.

Tem início com uma cena de morte. Um casal de turistas, em viagem pela Austrália, Akito (Louis Toshio Okada) e Miyuki (Rumi Kikuchi), encontram sem querer uma caverna subterrânea e são atacados por uma criatura rastejante. Depois, surgem os jovens da vez: os amigos Eric (Luke Mitchell), sua namorada Jennifer (Jessica McNamee), Viktor (Benjamin Hoetjes) e sua companheira Yolanda (Amali Golden), grávida de Eric, adentram cavernas subterrâneas com o apoio do guia Cash (Anthony J. Sharpe). São surpreendidos por uma forte tempestade que os prende em um local quase submerso em companhia de um faminto crocodilo.

Depois que Viktor é atacado e sobrevive, precisando de cuidados médicos, o grupo percebe que precisará encontrar um jeito de sair dali para ajudá-lo antes também que o nível de água suba, tendo que atravessar passagens submersas – pelo menos não precisarão saltar entre árvores – ou outro caminho que leve à saída. Depois de um longo período de inatividade, o crocodilo irá aparecer até demais, pelos recursos, e o enredo terá poucas surpresas sobre quem vive ou morre.

A ideia de “namorada grávida” já havia sido explorada em Medo Profundo. Aqui, a traição de Eric traz algumas semelhanças com o terror de Abismo do Medo, mas sem apontar inimigas mortais ou monstrinhos do submundo. Mas, o Cinema, principalmente o de horror, já mostrou que relações indevidas são um banquete para assassinos, ameaças sobrenaturais e até criaturas da natureza, como se fosse uma “justiça divina” agindo contra os infiéis. Será que Crocodilos: A Morte te Espera – que título nacional horrível é esse? – também trará seu momento de ensinamentos?

Além dessa autocitação, esse segundo filme repete outros conceitos do longa original. Amigos partindo em expedição, curtindo em um bar, um guia, um revólver tendo papel importante, diferenciando apenas pela quantidade de vítimas do crocodilo voraz. Troca-se a ambientação aberta por uma subterrânea, mas sem explorar um dos melhores elementos do primeiro filme: a escuridão. Se o diretor tivesse feito uso de uma iluminação real, de repente com câmeras sendo usadas para a mínima observação, Black Water: Abyss teria mais sucesso. Pelo menos o som de alguém sendo mastigado não foi esquecido.

Não será um Abismo do Medo encontra Medo Profundo, se era essa a intenção. Trata-se de uma produção mais bem feitinha, dirigida e editada, com melhores atuações e mais diálogos, com mais profundidade e um pouco mais de crocodilo em cena. Sem o boneco do Cebolinha, mas com mais mortes e corpos destroçados, Crocodilos talvez seja mais bem avaliado pelos fãs de produções movimentadas e claustrofóbicas. Aos demais, é apenas mais um exemplar do subgênero “homem vs natureza” em que o animal, mesmo em seu habitat, é sempre visto como o vilão ou o mediador de conflitos de relacionamento.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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