3.6
(5)

Krampus 2 - O Retorno do Demônio
Original:Krampus: The Devil Returns
Ano:2016•País:EUA
Direção:Jason Hull
Roteiro:Jason Hull, A.J. Leslie
Produção:Darin Foltz, A.J. Leslie
Elenco:Shawn C. Phillips, R.A. Mihailoff, Melantha Blackthorne, Jason Hull, Robbie Barnes, Johnny Stevenson, Tiffani Fest, Richard Goteri, Darren Barcomb, A.J. Leslie, Paul Ferm, Michael Mili, Ben Berlin, Daniel James

Como parte das mitologias de terror natalinas – Jack Frost, Grinch… – servindo para alimentar o imaginário infantil com moralismo e regras de conduta, Krampus é a maçã podre da família do “bom velhinho“, não trazendo presentes, apenas torturando crianças que não se comportaram bem durante o ano. Foi retratado de maneira pavorosa no terror independente Krampus: O Justiceiro do Mal, uma produção que transborda defeitos em todos os aspectos. Mesmo com uma das notas mais baixas do IMDb, 1.6, Jason Hull resolveu dar à luz uma continuação, alcançando o mesmo grau de avaliação. E uma das obrigações dos críticos de cinema de terror é também alertar seu público sobre ruindades cinematográficas. Considere este meu presente para você.

No primeiro filme, o policial Jeremy Duffin (A.J. Leslie) diz ter dedicado sua vida profissional à busca de uma entidade que o sequestrou quando criança. Na cena inicial, ela aparece carregando-o em um saco até deixá-lo em um buraco permitindo a fuga de um garoto que parece estar se divertindo pela presença em um filme, distante de uma expressão aterrorizada. Casado com Rebecca (Erica Soto) e pai da jovem Heather (a inexpressiva Samantha Hoepfl), ele segue para o trabalho, depois de receber uma orientação de sua esposa (“Só peço que volte para casa.“).

Encontra seu chefe, o capitão Gil Farabee (Richard Goteri), já o aguardando ao lado de um mapa com as indicações do ataque do sequestrador. Jeremy também tem um mapa das ações da criatura e planeja no boteco de Harry (Michael Mili) convocar dois agentes para uma perseguição próximo ao local onde fora deixado na infância. Por que não fez isso antes, se dedicou a vida profissional a isso? Boa pergunta. Diálogos artificiais, com cada ator aguardando para dizer sua fala decorada, cenários clichês, má iluminação e atuações horrendas divertem os fãs de bagaceiras que devem acreditar em Papai Noel a um produto tão ruim.

Contudo, além do monstrinho sequestrador, o bandido Brian Hatt (Bill Oberst Jr., o único rosto conhecido do elenco) saiu da prisão “por uma ação de advogado” e pretende visitar a casa de Jeremy para se vingar. Até chegará a tempo, mas terá a esposa morta pelo bandido e a filha sequestrada pela entidade, que conduz suas vítimas a uma caverna, onde fica se “deliciando” com uma jovem nua e não dá a menor indicação sobre o que faz com suas vítimas. Come, mata, tortura, faz churrasco? Há também a figura do próprio Papai Noel (Paul Ferm), que ajuda na montagem da lista do irmão e age como um fanfarrão, até mesmo em suas funções básicas.

O filme é uma tortura à Sétima Arte, como se Jason Hull quisesse fazer o papel do mau cineasta de maneira proposital. Infelizmente, não é. Dentre todas as falhas, a que se destaca negativamente é, sem dúvida, toda a mixagem de som. Dublagens toscas, trilha incidental mal escolhida e efeitos sonoros perdidos até em barulhos comuns como o do disparar das armas, do soco de um personagem (cada luta é pessimamente coreografada), dos golpes com faca e até gritos e gemidos das crianças. E nem é preciso comentar sobre a caracterização de Krampus, com uma máscara imóvel, voz gutural que não combina com nada, até mesmo porque ele atua em segundo plano.

Ainda assim, O Retorno do Demônio foi lançado em 2016, resgatando elenco e falhas técnicas, principalmente nas lutas corporais e efeitos sonoros. No enredo (ou devo dizer “horrendo“?), depois que perdeu a esposa e a filha, Jeremy está recluso, desta vez com cabelo e barba para expressar um descuido no visual. Como nem sequer enfrentou direito a criatura, ela continua atuando, mas com mais frequência do que antes, de acordo com o chefe de polícia. Não tem muita dificuldade para convencer a volta do policial que, embora saiba onde o monstro estava, nem pensou em explodir o local, mandar o exército, sei lá.

No entanto, Krampus mudou de moradia. Agora reside numa casa mesmo, e tem um visual completamente diferente, parecendo um vilão do Spectreman, com menos mobilidade na boca e outra voz. O Papai Noel é o mesmo, visto em locais onde verifica como as crianças são para colocá-las na lista. Jeremy ainda acredita que a filha esteja viva, e quando encontra um bracelete dela na floresta, passa a achar ainda mais. Mesmo colocado na lista do Krampus e tendo fugido duas vezes, a criatura opta pela espera do policial ao invés de buscar uma vingança. Mas ela nem está aí para isso.

Como no anterior, há outro vilão na história. Stuart (o Leatherface do terceiro filme da franquia original, R.A. Mihailoff) é irmão de Brian e juntou um grupo, incluindo Natasha (Melantha Blackthorne), para também buscar uma vingança do tipo “quero ele vivo“. Quando consegue sequestrá-lo, ao invés de matá-lo de uma vez, resolve torturá-lo até a chegada de reforços, incluindo Amy Baker (Robbie Barnes), que também teve uma criança sequestrada, o ex-barman Harry, e Rob Sanderson (Shawn C. Phillips), Gil e o amigo Monk (Johnny Stevenson).

Tiros mal dublados, confrontos toscos resgatam a ruindade do primeiro. Há uma produção levemente melhor, com um elenco um pouco mais expressivo e cenas menos artificialmente montadas, mas continua ruim e desnecessário. Como no anterior, Krampus é mero coadjuvante, sem muita importância. Desta vez, crianças são vistas levando cintadas até morrerem – modus operandi detected -, e outra moça completa uma cena de nudez.

Chega ao fim a contribuição de Jason Hull à temática, sem nenhum mérito ou justificativa para uma conferência – na verdade, essa produção encerra a carreira cinematográfica do cineasta, o que é um bom sinal. Até mesmo os fãs de bagaceiras e produções trashes não terão motivo para assistir a essa bomba, disponível no catálogo da plataforma Looke, juntamente com a primeira parte e mais duas bombas. Se quiser conhecer a trajetória do demônio, opte pelo filme de Michael Dougherty, lançado em 2015, com o diretor já mais conceituado, dirigindo Godzilla e King Kong.

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