Godzilla Minus One (2023)

4.9
(42)

Godzilla Minus One
Original:Godzilla Minus One / Gojira -1.0
Ano:2023•País:Japão
Direção:Takashi Yamazaki
Roteiro:Takashi Yamazaki
Produção:Gô Abe, Kazuaki Kishida, Keiichiro Moriya, Kenji Yamada
Elenco:Ryunosuke Kamiki, Minami Hamabe, Sakura Ando, Kuranosuke Sasaki, Munetaka Aoki, Rikako Miura, Michael Arias, Sae Nagatani

O bom monstro à casa torna. E não apenas um retorno ao Japão, sob o domínio da Toho Studios, mas também à época pós-Segunda Guerra Mundial que traçou a origem da gigantesca criatura. De 1954 para cá, o monstro apareceu nas telas grandes do Japão em trinta e três oportunidades, seja em produções solo ou confrontando outros “kaiju“, em refilmagens, animações e remakes, trazendo com sua agressividade e destruição a mensagem sobre os efeitos devastadores da guerra, principalmente as que envolvem armas nucleares. Desta vez, o cenário proposto já é desolador, envolto em medo e pessimismo.

Desde Shin Godzilla (2016), Takashi Yamazaki já demonstrava interesse em fazer seu próprio filme de Godzilla, mas teve que esperar até depois de 2020 devido ao contrato com a Legendary Pictures. Com o COVID 19 atrasando a realização, Godzilla Minus One finalmente foi rodado em 2022, com a promessa de um retorno às origens, algo que dialogasse com o original. Tendo uma boa campanha de marketing, iniciada em junho de 2023, o longa atiçou o público pela estreia nos cinemas com teasers, lançamento de brinquedos, imagens, entrevistas e trailers. O filme teve sua première japonesa em 18 de outubro, chegando aos cinemas em 3 de novembro, depois de uma exibição no encerramento do 36º Festival Internacional de Cinema de Tóquio. No Brasil, a estreia aconteceu em 14 de dezembro, sendo a última vez em que o monstro em sua versão japonesa tinha chegado às telas brasileiras havia ocorrido somente em 1975, com A Fúria dos Monstros.

Sucesso absoluto de público e crítica. Não somente os japoneses, mas até mesmo os americanos se renderam à qualidade técnica e de roteiro da mais recente aparição do monstro gigante. Por aqui, não deve ser diferente. Como fã de Godzilla, tendo resenhado filmes e animações, posso afirmar que nenhuma me trouxe tamanho impacto visual ao ponto de, ao sair do cinema, eu já me referia à produção como “a melhor estreia nos cinemas de 2023“. Passado o êxtase pós-exibição, ainda mantenho a opinião sobre não ter visto nada que chegasse próximo da dimensão e entretenimento do longa de Takashi Yamazaki, que provavelmente deverá conquistar alguma indicação no 96º Premiação do Oscar.

Mas o que teria de diferente esse novo filme, além de Godzilla surgindo do mar para destruir Tóquio? A começar pelo covarde personagem principal, Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), piloto kamikaze, que finge problemas em seu avião para aterrissar na Ilha Odo – local mencionado no filme de 54 -, com a farsa sendo notada pelo mecânico Tachibana (Munetaka Aoki). Naquela mesma noite, o monstro irá aparecer na ilha, em uma versão menor, causando a morte de todos os locais, numa aparição bem realizada, tendo Kōichi a oportunidade de atacá-la com o arsenal que dispõem no avião, mas se acovardando novamente, congelado de medo.

Quando retorna para casa, Kōichi descobre uma Tóquio destruída por bombardeios, que culminaram com a morte de seus pais. Carregando a culpa pela covardia, sendo assombrado por pesadelos, ele ajuda uma moça fugitiva, Noriko Ōishi (Minami Hamabe), carregando uma bebê órfã, e depois arruma emprego como “Minesweeper” ou “caça-minas” em uma embarcação de madeira. Notícias de 1946 indicam que testes nucleares no Atol de Bikini pelos americanos deram um fortalecimento à criatura, vista em imagens de documentário, destruindo navios de guerra, sem o apoio da União Soviética pela tensão desenvolvida na Guerra Fria.

Godzilla, em toda a sua imponência, é visto em direção a Tóquio, necessitando das ações do barco caça-minas para atrasá-la, mas a chegada e destruição são inevitáveis, ainda mais quando a criatura utiliza sua poderosa arma nuclear, trazendo mais lembranças da guerra, principalmente em Ginza. Numa das melhores cenas, Noriko está retornando do trabalho no trem, e, em uma homenagem ao original, Godzilla ataca o veículo, mordendo-o. Um Japão já afetado pelas consequências da guerra, proibido pelos EUA de uso bélico, talvez precise contar com a força da população local para encontrar uma forma de deter um monstro capaz de se regenerar após explosões e investidas militares, e que pode levar o país a uma condição “menos um” de destruição.

Com mais de duas horas, Godzilla Minus One chegou próximo de ser uma obra-prima. E suas qualidades vão além dos aspectos técnicos – e pensar que só teve um orçamento de US$15 milhões de dólares, não pagando nem o almoço de Tom Cruise em Missão Impossível -, uma vez que o enredo traz um interessante contexto pós-Guerra, mostrando o início da reconstrução do Japão, sendo diversas vezes devastado por um monstro que não quer que eles se esqueçam dos efeitos das batalhas entre nações. É claro que, como filme de monstro, é provável que a pouca aparição da criatura – fica cerca de dez minutos em cena contando todas as aparições – possa decepcionar a parcela do público que somente quer ver Godzilla esmagando pessoas e derrubando prédios com sua cauda, mas ainda assim há muitas grandiosas sequências de destruição, com barcos e veículos sendo atirados para longe, queda de edifícios e ele nadando e ativando sua cauda radioativa.

É claro que há algumas facilitações do roteiro, personagens que se encontram em meio ao caos de uma população em fuga, e a surpresa óbvia de seu final, porém são situações justificadas pela necessidade de agradar também ao público mais sensível e que poderá até se emocionar com o melodrama proposto. Como disse o diretor em entrevista sobre o final: “Não é apenas para que uma sequência possa ser feita, é também para que os personagens sejam mantidos vivos no coração do público.

De toda forma, Godzilla está de volta em boa forma. É, sem dúvida, o melhor filme com o monstro em muitas décadas – pode-se incluir toda a bagagem americana desde 1998, incluindo Godzilla (2014), Godzilla II: O Rei dos Monstros (2019) e Godzilla vs. Kong (2021). Em 2024, será lançado Godzilla e Kong: O Novo Império, continuação do longa de 2021, com direção de Adam Wingard. Takashi Yamazaki também já demonstrou interesse em dirigir mais um filme de Godzilla após Minus One, simbolizando o monstro como uma maldição que persegue o Japão, e dando início a uma possível nova série. De todo modo, é uma prova de que a criatura está eternizada como um personagem de absoluta importância para o cinema, desta vez representada de maneira extremamente eficiente e emocionante.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.9 / 5. Número de votos: 42

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Godzilla Minus One (2023)

  • 24/12/2023 em 11:56
    Permalink

    Godzilla Minus One É uma obra prima. Sucesso absoluto de crítica e público. Melhor filme neste fim de ano. E um dos melhores filmes de Godzilla, senão o melhor. Nota 10 !

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *