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(10)

The Passenger
Original:The Passenger
Ano:2023•País:EUA
Direção:Carter Smith
Roteiro:Jack Stanley
Produção:Jason Blum, Paige Pemberton, Jeremy Gold, Jennifer Sciarra, Chris McCumber, Lauren Downey, Chris Dickie
Elenco:Johnny Berchtold, Kyle Gallner, Liza Weil, Billy Slaughter, Matthew Laureano, Jordan Shelley

O que um trauma pode representar pelo resto da vida de alguém? Eventualmente podemos superar o evento completamente, deixando-o no passado. Na grande maioria dos casos, aprendemos a lidar com a experiência (em maior ou menor grau) e seguimos em frente. Mas algumas vezes o trauma é tão impactante que ressignifica toda a vida de um indivíduo, sendo essa a principal discussão trazida em The Passenger, novo thriller da Blumhouse, que vai em uma direção bem distinta do horror comercial e simplório que marca muitos filmes da produtora.

A narrativa se inicia com o jovem Randy (Johnny Berchtold, Snow Falls) acordando de um pesadelo sobre sua infância, envolvendo uma mulher gritando e sangrando em profusão. É visível que ele não possui planos para o futuro e tem receio de assumir o controle da própria vida, sendo inclusive obrigado a comer um hambúrguer fora da validade por um bully no trabalho. É a gota d’água para seu colega, Benson (Kyle Gallner, Sorria), que busca uma espingarda no carro e fuzila todos os presentes, com exceção de Randy, que é sequestrado. Inicia-se assim uma roadtrip que mudará a vida dos dois para sempre.

A palavra que melhor define The Passenger é tensão. A direção de Carter Smith é bastante eficiente em gerar desconforto pela constante imprevisibilidade do que vai acontecer em seguida, o que também passa pela atuação perturbadora de Kyle Gallner. Os traumas na vida dos dois colegas, que desenvolvem uma amizade inusitada, vão escalonando em uma crescente que prega o espectador na cadeira até o final.

ATENÇÃO: SPOILERS LEVES A SEGUIR, PROSSIGA POR SUA CONTA E RISCO

O final também me agradou bastante, mostrando que por um lado Benson não estava no controle (ou “no banco do motorista”) em toda a sua vida, o que é evidenciado pela figura da girafa; por outro lado, Randy obtém sua redenção, se tornando o protagonista de sua própria vida. Ele não é apenas mais um passageiro, em mais de um sentido.

Eleito um dos 10 melhores filmes de horror (ou quase isso) de 2023 pelo Letterboxd, The Passenger é um golpe no estômago, seja pelo desconforto gerado, pela tensão ou pela reflexão. Se é um dos dez melhores do ano é papo para outro texto, mas é uma bela produção e com certeza vale a conferida.

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Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 10

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2 Comentários

  1. “The Passenger” é aquele filme que começa despretensioso como um thriller, mas que termina levantando aquela reflexão popular tão conhecida: “De boas intenções, o inferno está cheio”. Posso até falar que seu intuito de existir seja apenas como um entretenimento, direcionado talvez a um espectador que ainda nem se preocupa em ler e saber sobre as notícias do mundo atual. Mas olhar para ele dessa forma acaba se tornando impossível com tudo o que ele carrega (e o que também NÃO carrega).

    Diferente de “Coringa” (2019) que ao meu ver soube mexer num vespeiro e ao mesmo tempo não machucar ninguém pela sensibilidade de um roteiro até meio alarmista, em “The Passenger” o alarme que soou foi no sentido oposto. Aqui, aconteceu algo muito parecido com o que achei no filme brasileiro “Bacurau” (2019), que até vemos consequências reais, mas que chegam a soar como “justificação”, pra não dizer “solução”. A diferença é que na história de “Bacurau” e de seu “cangaço”, a polícia não estava lá para fazer o seu papel.

    O roteiro em alguns momentos chega a culpabilizar uma família desestruturada (quando seres humanos procriam antes da hora e sem amor) e mesmo que isso possa ser algo que a assistência social esteja bem ciente, o problema é a forma como isso é traçado em paralelo à vida e ações do personagem de Kyle Gallner, que mesmo sendo um vilão surtado e armamentista, o roteiro insiste em flertar com a moral da história, fazendo-o assumir um papel de quem veste uma bandana da justiça na luta contra o bullying e as coisas mal resolvidas da vida.

    Até certo ponto, “The Passenger” consegue sustentar sua violência e surtos dentro de um enredo aparentemente inofensivo, mas a falta de aprofundamento no personagem de Kyle Gallner e a forma como tudo acaba, é o que nos faz voltar a pensar sobre responsabilidade social. Para piorar, a confusão de personalidade em que se encontra seu “companheiro de aventuras” (personagem de Johnny Berchtold) chega a beirar o romântico, mesmo que tudo não saia do que seria apenas banal.

    Não sei como a Blumhouse deu respaldo em produzir. Por via das dúvidas, mesmo “The Passenger” carregando esse lado bem inconsequente e problemático, olhando-o apenas como um filme…também não passa de ser algo mais do mesmo.

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