Irmã Morte (2023)

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Irmã Morte
Original:Hermana Muerte / Sister Death
Ano:2023•País:Espanha
Direção:Paco Plaza
Roteiro:Paco Plaza, Jorge Guerricaechevarría
Produção:Pablo Cruz, Enrique López Lavigne
Elenco:Aria Bedmar, Maru Valdivielso, Luisa Merelas, Chelo Vivares, Sara Roch, Olimpia Roch, Almudena Amor, Sandra Escacena, Consuelo Trujillo

Será que ter o título de “criança santa” é mesmo uma benção ou apenas uma maldição disfarçada? Esse é o empurrão inicial de Hermana Muerte, mas que pouco volta à pauta no longa de Paco Plaza. Em uma Espanha pós guerra, Narcisa (Aria Bedmar), que teve uma infância com visões sagradas, decide abraçar seu dom como destino, tornando-se freira. Passa a lecionar num antigo convento transformado em escola. Apesar de sua conexão com o sobrenatural, eventos bizarros começam a acontecer e aterrorizam não apenas nossa protagonista, como também as crianças e outras freiras ali presentes.

Com os primeiros sustos, o filme inicialmente parece apenas mais um terror sobrenatural envolvendo religião, mas acaba se tornando um thriller um pouco mais investigativo. Tudo de ruim que acontece está conectado para mostrar a Narcisa sobre o passado do convento, desenterrando segredos. E são esses segredos que a fazem entender e ter respostas sobre o presente.

A tensão construída é bem aproveitada num jogo de câmera e transições entre o momento presente vivido pela personagem passando para suas visões. Momentos de “simples” silêncios com objetos se movendo sozinhos já causam um bom impacto mediante o cenário e ambientação.

Nossa protagonista começa a ter dúvidas sobre seu chamado religioso. Ao mesmo tempo que confessa e questiona se aquilo que via quando criança era realmente verdade, ela também acredita fielmente em suas visões atuais. Mesmo sem entendê-las, sabe que existe algo além acontecendo naquele local com aquelas pessoas.

As outras freiras, que a enalteciam pelo seu passado milagroso quando criança, agora tentam descreditar suas visões atuais, inclusive dizendo ser artimanhas do demônio. E até parece que o demônio está envolvido, já que as visões de Narcisa são cheias de sangue, violência, morte e cenas horripilantes. Sim, são sempre suas visões que causam maior interesse e atenção de quem assiste.

E são essas cenas que funcionam muito bem para o ritmo do filme, que é lento (e não que isso seja necessariamente um defeito, até fazendo sentido para o contexto geral dessa obra em específico). Sem jumpscares desnecessários com imagens saltando e som alto, mas com transições de cena certeiras e maquiagem muito convincentes agregadas como uma forma de enriquecer, mesmo que um pouco, a narrativa misteriosa e sobrenatural. É visualmente atraente com elementos gráficos coerentes, mesclando a pureza imagética religiosa com o medo do desconhecido e bizarro.

Os flashbacks são bem executados, os sonhos e participação das crianças são incluídos naturalmente tornando um filme até que fluido de se assistir. A atmosfera de tensão que percorre seus 89 minutos cresce com rapidez conforme vamos entendendo melhor o mistério e chegando à resposta final para o plot. Mas não uma tensão suficiente para fazer você sentar na ponta do sofá e endireitar a coluna.

Paco Plaza é diretor de outros ótimos filmes de terror, como a franquia original de [REC], o que pode deixar a expectativa alta para Hermana Muerte. Apesar dos elementos de terror utilizados, podemos classificá-lo mais como um thriller investigativo sobrenatural com o seu desenvolvimento. O filme se passa muitos anos antes de Verónica, outro filme do diretor, mas que podem ser assistidos independentes, sem estragar a experiência para quem não viu um ou outro.

Além de um tom sobrenatural, Hermana Muerte aponta temas como a destruição pós-guerra, injustiças e diversas formas de abuso. Os espanhóis geralmente sabem usar bem as imagens católicas em seu horror. Mas aqui faltou horror. Tem um estilo visual muito atraente, começando principalmente pelo belíssimo pôster promocional.

Sem uma premissa inovadora, mesmo cheio de bons momentos, é um filme capaz de cair no esquecimento. Não causa grandes impactos e nem cenas muito memoráveis. Todas as personagens apresentadas são pouco desenvolvidas, mas cheias de potencial. Interações rasas e que parecem se perder aos poucos durante o longa.

Até que ponto uma boa estética e técnica por trás das câmeras são o suficiente para sustentar uma história corrida e rasa? Para um thriller pode até funcionar, mas aqui, se tivesse abusado ainda mais do sobrenatural, do gore e das imagens religiosas, talvez causasse um impacto um pouquinho menos esquecível.

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Natalia Malini

Final girl nas horas vagas e psicóloga nas horas não vagas que não nega convites para cafés e jogos de tabuleiro. Mãe de pet integral de dois chihuahuas, fã de punk rock e musicais da broadway. Escreve contos de terror publicados em antologias e uma newsletter sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Residente de São Paulo que ainda acredita em conexões da vida real por meio do online. Bissexual consumidora assídua de obras criadas e protagonizadas por mulheres.

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