Mergulho na Escuridão - Five Nights at Freddy’s: Pavores de Fazbear 1
Original:Into the Pit – Five Nights at Freddy’s: Fazbear Frights 1 Ano:2024•País:EUA Autor:Scott Cawthon, Elley Cooper•Editora: Intrínseca |
Desde o lançamento do primeiro jogo, em 2014, Five Nights at Freddy’s rapidamente se tornou um fenômeno mundial e muito elogiado pelo público e críticos especializados. Não apenas sua jogabilidade foi apontada, como também seu design e os sustos inovadores, especialmente por se passar em um ambiente no qual muitos jogadores estão familiarizados – os restaurantes estilo o famoso Chuck E. Cheese, com os bizarros animatrônicos dançando e cantando enquanto famílias comem suas pizzas -, o que causou maior identificação e imersão no game de survival horror. Basicamente, sua missão no jogo é, como segurança noturno da pizzaria Freddy Fazbear, não ser morto pelos animatrônicos que ganham vida à noite e andam livremente pelo local e, não é preciso dizer, não são nem um pouco amigáveis com quem não é um animal gigante feito de metal e pelúcia. Não demorou para FNaF virar uma franquia de sucesso, contando com nove jogos da série original, spin-offs, livros e, mais recentemente, uma produção cinematográfica.
Os livros são escritos pelo criador do game, Scott Cawthon, e a editora Intrínseca já publicou anteriormente no Brasil a trilogia de livros de Five Nights at Freddy’s, onde a história se passa dez anos após os assassinatos que ocorreram na pizzaria Freddy Fazbear e apresenta novos personagens. Agora, a Intrínseca enfim traz a nova série de livros baseado no universo de FNaF e tão pedida pelos fãs brasileiros, intitulada Pavores de Fazbear. A coletânea contará com doze livros, cada um com três histórias independentes entre si, e não possuem continuidade direta com a trilogia original.
O primeiro volume, Mergulho na Escuridão, começa com o conto que dá nome ao livro. Aqui, conhecemos Oswald, um garoto de apenas 10 anos que mora em uma cidade decadente e falida, com pais que fazem o possível para sobreviverem e pagarem as contas. Seu melhor amigo não mora mais ali, os melhores estabelecimentos fecharam a tempos, então resta a Oswald passar suas férias indo à biblioteca de manhã e comer uma fatia de pizza na estranha Pizzaria Jeff’s no almoço até seu pai ir buscá-lo. Os dias passam e são sempre iguais, até o jovem fica entediado e com raiva de sua família, da cidade, de tudo, e decide que seu pai merece uma lição. Oswald pretende se esconder na imunda e insalubre piscina de bolinhas do Jeff’s para que seu pai vá atrás dele. Após o mergulho, quando volta à superfície se vê em um lugar totalmente diferente, cheio de vida, cores, gente e animatrônicos dançando e cantando. Certamente não era a mesma pizzaria que ele conhecia, e muito menos a mesma época. Logo a empolgação dá lugar a um terror que se apossa de cada osso de seu corpo e, ao tentar fugir, é perseguido por um assustador coelho amarelo gigante que fará cada minuto de seu dia cheio de pavor.
O conto é certamente o melhor deste primeiro volume, fazendo alusão direta à pizzaria do jogo e, é claro, a um de seus animatrônicos. Apesar de não ser uma história longa, o desenvolvimento é bem trabalhado, mostrando como é o relacionamento de Oswald com os pais, os motivos de ainda morarem ali e toda a dinâmica do seu dia-a-dia. Também possui um horror mais prolongado, mesmo que seja mais juvenil. Vemos o garoto apavorado, e com razão, por mais de um motivo, e isso não acaba rapidamente. A sensação que fica é que estamos ali com ele, com medo de andarmos na nossa própria casa ou de estarmos enlouquecendo. O desfecho também é satisfatório, sem ser corrido ou com pontas soltas.
A segunda história, Ser Bonita, acompanha Sarah, uma jovem na pré-adolescência que odeia sua aparência e sonha em ser impecável como as meninas populares da escola. O tempo inteiro Sarah reclama de seu corpo e rosto e enaltece as Beldades – como chama as meninas bonitas do colégio -, praticamente afirmando que faria de tudo para ser igual a elas. Um dia, voltando da escola, encontra uma linda boneca de metal jogada no ferro-velho, e decide leva-la para casa. Após limpar a robô e tenta liga-la, porém, nada acontece. Passados alguns instantes, a boneca ganha vida e começa a conversar com Sarah, dizendo se chamar Eleanor e estar muito agradecida pela menina ter salvado ela do lixo e, por isso, poderia desejar o que quisesse. É claro que seu desejo era ser bonita e, para sua surpresa, foi atendido. Com o passar dos dias, a menina estava cada dia com uma aparência melhor e mais confiante. Mal sabia ela que seu fútil desejo se revelaria seu pior pesadelo.
Essa história, apesar de aparentemente não ter elemento algum da franquia original além de uma boneca feita de metal, e ser um tanto mais boba, tem um desfecho muito mais macabro do que Mergulho na Escuridão. Diferente da história anterior, o ápice da narrativa vem todo de uma vez e logo acaba. Claro, é possível imaginar que não vem coisa boa por aí, afinal uma boneca que fala com você à noite já parece horrível o suficiente, mas o horror de fato só é concretizado nas últimas páginas.
No último conto, Contar os Modos, conhecemos Millie, uma adolescente gótica e depressiva que não tem amigos, escreve poemas sobre adorar a morte, mora com o avô enquanto os pais estão em outro país e se sente profundamente incompreendida e insatisfeita com a vida. Basicamente, uma adolescente na sua fase mais irritante. No colégio, sempre almoça sozinha, pois julga todos os outros alunos como superficiais e não tem interesse nenhum em manter uma conversa com qualquer um deles. Até que chega um aluno novo, fã de H.P. Lovecraft, que desperta seu interesse. Então temos a velha ladainha: garota conhece garoto, garota se apaixona por garoto, garoto não sente o mesmo, garota fica triste e revoltada. No caso de Millie, volta a querer sumir da face da terra, afinal, ninguém se importaria mesmo. Em pleno natal, anuncia que não comemorará essa data comercial e mesquinha, e decide se isolar na oficina de seu avô até todos irem embora. Ali, no meio de diversas tralhas, encontra um urso de metal gigante e decide se esconder dentro dele. Ela só não esperava que seu maior desejo estaria prestes a se realizar naquela noite de natal.
Contar os Modos possui uma narrativa um pouco diferente das histórias anteriores, começando com Millie em um momento de confusão e terror e intercalando com os acontecimentos que levaram a garota a ir parar naquela situação. Aqui, temos um final em aberto, o que pode ou não abrir margem para que a personagem apareça futuramente. Também temos uma atmosfera um pouco mais sombria, já que a jovem tem uma personalidade mais densa e obscura. Mesmo assim, é uma história mais fraca, com pouco desenvolvimento e uma personagem sem carisma. Também é a que possui menos elementos aterrorizantes.
No final do livro, o epílogo traz uma parte de uma nova história, Aparição de Sutura, que será revelada aos poucos em cada um dos volumes.
Apesar de ser um spin-off, o autor afirmou em um fórum que as histórias presentes nos doze volumes de Pavores de Fazbear irão auxiliar a resolver mistérios presentes em jogos futuros. Em nota traduzida:
“Muito poucas pessoas provavelmente irão se sentir completamente satisfeitas, já que simplesmente há várias suposições canônicas lá fora e tantas ideias brilhantes sobre onde a história poderia ir, mas eu acho que há várias coisas boas a ser encontradas por pessoas que estão procurando. Tudo que eu posso fazer é dizer que algumas perguntas serão respondidas; mesmo não sendo sempre a resposta que vocês queriam. Sejam pacientes. Permitam-me dizer isto: os jogos futuros olharão para frente; mas olhem para os romances para preencher algumas lacunas do passado!”
Pavores de Fazbear: Mergulho na Escuridão é uma leitura divertida que remete muito a Goosebumps, de R. L. Stine: com um terror mais juvenil (mas nem sempre), histórias fechadas com momentos assustadores e lições de moral um tanto arrepiantes. Não é necessário ter jogado a franquia para entender as histórias, porém, é um complemento interessante para os fãs de FNaF.
O segundo volume, Caçador, já está à venda e, ainda esse ano, a Intrínseca deve lançar os volumes 3 e 4.