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(7)

Almas Mortas
Original:Strait Jacket
Ano:1964•País:EUA
Direção:William Castle
Roteiro:Robert Bloch
Produção:William Castle, Dona Holloway
Elenco:Joan Crawford, Diane Baker, Leif Erikson, Howard St John, John Anthony Hayes, Rochelle

Você imagina como seria a relação com a sua mãe, uma assassina convicta, reaparecendo em sua vida 20 anos depois de ser presa? William Castle, nome conhecido por filmes de terror e suspense nas décadas de 40 a 60, apelidado carinhosamente (e com razão) de “o Alfred Hitchcock dos filmes B”, dirige esse longa que é inclusive roteirizado pelo escritor de Psicose, Robert Bloch.

Voltando de uma viagem, Lucy (Joan Crawford) flagra o marido com uma ex-namorada na cama e decapita ambos com um machado. Culpada pelo homicídio duplo, é presa e internada num hospício por vinte anos. Ela retorna para sua filha (Diane Baker) agora adulta e uma completa desconhecida. Um clima estranho começa a se tornar mais denso com o passar do tempo e essa reunião tão esperada. Intensificado inclusive por ser um longa em preto e branco.

Com a dupla por trás da construção da história e ambientação, temos uma fórmula bem conhecida que pode ser encontrada em vários outros filmes da época (e até atuais). Uma silhueta de assassino não revelado. Uma arma em foco nas cenas de morte (aqui no caso, um machado). E a empatia pelas protagonistas. Que são fatores que funcionam muito bem para o mistério, a dúvida e a paranoia. Os elementos focais se tornam condutores narrativos essenciais nos momentos de aguçar o medo de quem assiste. A trilha sonora também transmite bem os sentimentos das personagens, influenciando os nossos.

Lucy assume seu feitio e acredita estar mudada. Sua filha Carol foi testemunha do assassinato quando criança, mas acredita que é possível se reaproximar da mãe que esteve ausente durante toda sua criação. Morando com os tios e estando noiva de um homem rico, Carol tenta incluir a mãe em sua rotina atual. Porém novos assassinatos começam a acontecer próximo as duas, aguçando nosso modo investigativo e de desconfiança.

O espectador é constantemente colocado em cena para questionar a sanidade de Lucy. Ela tem pesadelos sobre seu passado, a repercussão de tudo o que aconteceu e quando é confrontada sobre, se mostra perturbada numa luta interna que só a atuação “exagerada” e já conhecida de Joan Crawford consegue traduzir com maestria. Em seus sonhos vemos cabeças decapitadas e machados sangrentos. Será que ela realmente se recuperou? Será que é possível se livrar das tendências homicidas mesmo após décadas de tratamento e reclusão?

Além de decapitações com machado, o filme aborda temas como a consequência de vivenciarmos situações traumáticas, como devemos tirar de um pedestal inalcançável as relações familiares e a “não santificação” do papel social de mãe. Somos humanos e lidamos de maneiras diferentes com os horrores que vivenciamos ao longo da vida.

Cheio de cenas desconfortáveis, existem momentos que podem nos arrancar algumas risadas constrangidas. Nas interações entre mãe e filha temos diálogos que explicitam que, mesmo com uma ligação consanguínea tão direta, não há como forçar uma intimidade tão rapidamente com um completo estranho. Mesmo que esse estranho seja sua mãe.

Lucy, como personagem principal, consegue ter o seu desenvolvimento de um modo muito justo e claro que acompanha seu estado mental. Fazendo o possível em 93 minutos de filme, Strait Jacket também quebra um pouco o padrão de mulher louca/megera assassina apresentado em tantos filmes de sua época. Lucy ao retornar para a filha, tem comportamentos bem “domados”, uma mulher quieta, extremamente educada e contida nas suas ações. É uma mulher que já não sabe mais quem é, além de ter sido resumida ao seu crime por grande parte de sua vida. A nova oportunidade de liberdade também é uma fase de autodescoberta para a protagonista. Mas se descobrir nem sempre é um processo fácil.

Em termos mais técnicos, jogos de luz e sombra ajudam muito na atmosfera agoniante que nos é apresentada. Porém temos algumas falhas de edição que deixam um pouco a desejar. Como cortes de cena e mudanças de ambiente que parecem soltas e jogadas, sem uma transição muito coerente e às vezes deixando passar algumas informações que poderiam contribuir para costurar um pouco melhor a história durante, e não apenas no final.

Não é nada novo, e se você está acostumado com filmes na mesma pegada lançados nessa época, pode ser até que descubra o plot antes da grande revelação. Mesmo não tão surpreendente assim, é um momento que deve trazer à tona uma emoção ou outra. Um choque ou um “eu já sabia”, mas que consegue ser entregue em uma ótima atuação. Os momentos finais amarram todas as pistas que nos foram jogadas ao longo do filme, onde voltamos mentalmente para encaixar as peças faltantes. Porém, se considerarmos a época em que foi lançado, em 1964, os slashers ainda não estavam em sua época de ouro. Podemos chamá-lo de predecessor?

Strait Jacket foi um filme importantíssimo na carreira de Joan Crawford que já tinha uma idade considerada de “descarte” para os padrões hollywoodianos da época. O seu auge já havia passado e William Castle foi certeiro ao chamar a atriz como protagonista. Crawford se entrega ao papel e abraça a oportunidade. Inclusive gostou tanto de trabalhar com o diretor que voltou a participar de outro longa no ano seguinte.

O título em português, Almas Mortas, nada tem a ver com a trama; uma tradução literal de “camisa de força” seria bem mais interessante a quem o encontrasse nos streamings por aí. De qualquer forma é um filme que em sua totalidade dá uma sensação de “bem aproveitado” e vale a pena ser assistido.

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