Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (2024)

3.8
(5)

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo
Original:Ghostbusters: Frozen Empire
Ano:2024•País:EUA, Canadá, UK
Direção:Gil Kenan
Roteiro:Gil Kenan, Jason Reitman
Produção:Jason Blumenfeld, Ivan Reitman, Jason Reitman
Elenco:Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Kumail Nanjiani, Patton Oswalt, Celeste O'Connor, Logan Kim, Emily Alyn Lind, James Acaster, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts, William Atherton, Shelley Williams

Quando os Caça-Fantasmas retornaram oficialmente em 2021, sob o comando de Jason Reitman, citei em minha crítica dois fatos que me incomodaram no filme: a tímida participação do elenco original, uma vez que Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e Annie Potts tiveram menos do que cinco minutos em cena – Sigourney Weaver, então, fez uma pontinha discreta durante os créditos. E também critiquei a ambientação, em uma cidade pequena, diferente dos dois primeiros longas que se passaram em Nova York. Era divertido vê-los “salvando o mundo“, com a sirene do carro acionada em suas travessias pelas vias na missão de capturar fantasmas. Ambos foram sanados na nova aventura, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, ainda que a mudança não se justifique e o excesso de personagens não permita explorar a todos adequadamente.

Ghostbusters: Mais Além se passa em Summerville, Oklahoma, local para onde a filha de Egon Spengler e sua família se mudam devido a problemas financeiros, herdando sua casa decrépita. Ray Stantz (Aykroyd) disse em dado momento que o quartel dos bombeiros dos Caça-Fantasmas havia sido transformado em um Starbucks. Sem justificativas, o novo filme se passa em Nova York, no quartel de sempre, sem qualquer indicação de ter sido um restaurante, e é para lá que Callie (Carrie Coon), agora em relacionamento oficial com o ex-professor Gary Grooberson (Paul Rudd), Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace) se mudam. Como vivem financeiramente, se chegam a dizer que o serviço de caça aos fantasmas não é remunerado? É claro que não se pode exigir muita lógica de um filme fantástico, sobre armas abastecidas com energia, armadilhas que capturam assombrações e um rapaz com poderes pirocinéticos. E tem muito mais coisas inacreditáveis em Ghostbusters: Apocalipse de Gelo do que se poderia esperar.

O filme se passa três anos depois do anterior, já colocando em ação a família à caça de uma assombração, cruzando vias, quase causando acidentes, sem que em qualquer momento tenham problemas com trânsito parado e semáforos. Eles são ameaçados pelo agora prefeito Walter Peck (William Atherton) – já era uma pedra no sapato deles desde 1984 -, principalmente pelo envolvimento de uma criança na equipe. Phoebe ainda tem 15 anos, diferente de Trevor, que já fez 18. Afastada pela família, a garota conhece numa partida de xadrez a fantasma Melody (Emily Alyn Lind) e faz amizade.

Ray trabalha com o crescido Podcast (Logan Kim) na busca por objetos possuídos – não se sabe por que ele não entrou na equipe de caça-fantasmas e como também se mudou para Nova York, mesmo sendo menor de idade. E não foi o único! Lucky (Celeste O’Connor), o interesse de Trevor no primeiro filme, agora trabalha em um laboratório de pesquisa paranormal comandado por Dr. Lars Pinfield (James Acaster), tendo ocasionalmente a presença de Winston (Ernie Hudson), principalmente depois que Ray compra uma esfera poderosa de Nadeem Razmaadi (Kumail Nanjiani) e a leva ao local para estudos, imaginando se tratar de uma armadilha com magia apotropaica. O tal laboratório, que mantém uma boa tecnologia mas tem monitores oitentistas, mantém fantasmas presos para estudos e possui uma máquina que permite a extração das assombrações dos objetos.

A curiosidade sobre a origem da esfera faz com que Nadeem aparente ter algum poder que desconhece. A desculpa perfeita para Peter Venkman (Bill Murray, ainda em participação limitada) fazer seus testes até descobrir sua capacidade pirocinética. É claro que esse poder está diretamente relacionado à entidade que posteriormente será liberada, com a ajuda de Melody, a fantasminha camarada que quer rever a família. Ao pesquisar sobre a criatura presa na esfera, na Biblioteca Pública de Nova York, desde 84 administrada pela mesma pessoa, interpretado novamente por John Rothman, Ray, Phoebe e Podcast descobrem que se trata de um ser conhecido como Garraka, um deus que controla temperaturas baixas e tem a capacidade de liderar um exército de fantasmas. Curiosamente, durante a visita, Ray reencontra a fantasma da biblioteca do filme original, numa belíssima referência ao primeiro Os Caça-Fantasmas.

Também faz parte das referências a volta do “Geleia“, fantasma verde e gosmento que passou a ser o símbolo da franquia. Comilão, ele é o desafio particular de Trevor, ao descobrir que ele se esconde no sótão do quartel dos Caça-Fantasmas, precisando que ele desenvolva planos de captura. Como se imagina, Garraka conseguirá escapar da esfera, levando caos e um “apocalipse de gelo” a Nova York, necessitando que toda a equipe encontre uma forma de vencê-lo antes que fique forte o suficiente para dominar o mundo.

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é mais divertido e dinâmico que o primeiro. Realmente o excesso de personagens não permite o desenvolvimento de todos, limitando a algumas participações. E mais uma vez Mckenna Grace se destaca como uma promissora caça-fantasmas, substituindo Egon como o membro mais inteligente da equipe – além de reservar momentos dramáticos, desta vez com Melody, e outros estranhos, como quando extrai a própria alma. O filme também ganha pontos por ser a primeira continuação que consegue emular boa parte da atmosfera das duas produções oitentistas. Até mesmo os créditos iniciais, com o logotipo com o fantasminha, e a música-tema são resgatadas no longa, o que mostra um maior cuidado em dialogar com os fãs da franquia. Bons efeitos especiais, humor bem trabalhado, e assombrações curiosas como a que possui qualquer objeto, e até uma aterrorizante, com aparência sombria, mostrada no laboratório.

E o futuro da franquia? Quando Ghostbusters: Mais Além foi lançado, Dan Aykroyd chegou a dizer em entrevista que esperava pelo menos mais três continuações. Ivan Reitman faleceu em 2022, e a direção de Apocalipse de Gelo passou para Gil Kenan (da refilmagem de Poltergeist, o Fenômeno, 2015), que fez um ótimo trabalho nesse novo filme. Há o interesse da velha guarda, há uma boa bilheteria envolvida (se contar os três filmes sobre a temática, desde 2016, já passa de um bilhão de espectadores) e novos atores estão pedindo passagem para continuar capturando seres do além. Falta saber se saberão manter esse mesmo ritmo divertido e explorar melhor o elenco. E, por falar nisso, coloquem Sigourney Weaver nos próximos filmes!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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