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Viagem para o Inferno
Original:Hell Trip
Ano:2018•País:África do Sul
Direção:Patrick Garcia
Roteiro:Patrick Garcia, George Garcia
Produção:George Garcia
Elenco:Clayton Boyd, Jay Anstey, Jonathan Boynton-Lee, Stevel Marc, Ivan Nedeljkovic, Ryan Flynn, Candice Weber, Graham Clarke

A busca por alguma produção interessante para assistir nos streamings pode ser mais perigosa do que a viagem a um resort africano. Você pode se deparar com uma capa chamativa, o título sonoro Viagem para o Inferno, e recordar das boas experiências que teve com o australiano Wolf Creek. Contudo, dificilmente irá passar dos primeiros cinco minutos, se for exigente. Ir adiante numa selva fechada, com psicopatas à solta, parece não significar nada para os cinéfilos corajosos que tentarem chegar ao fim do longa de Patrick Garcia. E o que dizer de alguém que tenha feito uma primeira tentativa tempos atrás e desistido, mas resolveu dar uma segunda oportunidade, como se o restante do filme fosse salvá-lo de sua condição desprezível?

Foi o que eu aconteceu comigo. Tinha tentado há alguns anos, quando o Prime Vídeo nem sequer havia se estabelecido, e ele ainda era apenas conhecido pelo título original. Ao reencontrá-lo numa zapeada de streaming, fiquei com a certeza de que havia visto-o em algum outro momento, mas não me lembrava de muita coisa. Não ter crítica no Boca do Inferno poderia levar outros descuidados a conferi-lo, e certamente culpar a página pela falta de um aviso. Nesse ponto, o site funciona como o Crazy Ralph dos dois primeiros Sexta-Feira 13, que tentou alertar os jovens sobre crimes na região de Crystal Lake.

A única boa notícia é que Viagem para o Inferno se passa na África. A má é que não faz a menor diferença. Se fosse filmado em qualquer quintal americano, teria o mesmo resultado. Patrick Garcia mostra imagens no começo de diversos animais, como girafas, leões, veados, zebras, elefantes e até hienas como se fosse o Parque dos Dinossauros, intercalando-os com um avião que por vezes é trocado por um exemplar digital. O IMDb aponta locações em Debengeni Waterfall, em Tzaneen, África do Sul, mas, mesmo que seja, por que não foi melhor explorado? Por que não interagiu esses animais com os personagens para dar mais aspectos curiosos ao seu filme?

Desse bimotor, desce um grupo de jovens em busca de descanso. O piloto do Bush Air nem espera o veículo que irá buscá-los chegar e logo vai embora. “Pessoal, por que ele está com tanta pressa?” Deve saber que o roteiro é ruim e teme ficar preso num loop eterno, revivendo atuações canastronas como a do “nerdãoJames (Ryan Flynn), que passa mal assim que chegam ao solo por não ser muito fã de voar. Além dele, há as irmãs Mia (Michelle Van Der Nest) e Sarah (Jade Hubner), namorada de William (Clayton Boyd), a aparente esperta Emily (Jay Anstey) e os idiotas Bobby (Stevel Marc) e o fortão Logan (o terrível Ivan Nedeljkovic) – estes últimos já são apresentados numa competição de cuspe à distância.

Horas de espera, chega a van com o guia turístico Adam Shaw (Jonathan Boynton-Lee) e o motorista Sipho (Mpho Diloro). Logo o veículo sofre uma pane, e o grupo opta por caminhar o resto do viagem a pé. Assim que se afastam, como o tiozinho no prólogo, Sipho é assassinado totalmente offscreen, com apenas o sangue jorrando no veículo. Atravessam a mata, passam por uma cachoeira, cruzam com um nativo (Keletso Mophuthing), até trinta minutos depois chegarem à hospedagem, completamente deserta. Mia é morta no chuveiro, sem exploração de nudez ou referência a Hitchcock, tendo a garganta cortada. Como ela é solteira e não quis compartilhar o quarto com James, demora para repararem seu sumiço.

Assim que seu corpo é descoberto, começa a perseguição, desconfiança sobre a identidade do assassino, que utiliza um facão e armas de fogo, além de vestir roupas de militar. Como em Pânico, há mais de um assassino, mas um deles não usa máscara – e a identidade é muito fácil de descobrir. Encontram Evelyn (Candice Weber), uma moça sobrevivente do massacre no local, com poucos minutos em cena, e os que sobrarem terão que enfrentar esses inimigos com vivência de combate se quiserem voltar para a América do Norte vivos.

Como se nota, Viagem para o Inferno é bem mal feitinho, com jeitão amador. Ambientação pouco explorada em prol de perseguição e ataques, sem que a violência possa se considerar um mérito da produção. E há muitos clichês. Aos baldes. Há até a cena em que um personagem é preso e ouve o assassino explicar toda a motivação e sofrência, enquanto liquida outra pessoa, dando tempo para o ouvinte encontrar uma forma de escapar. E a justificativa dessa motivação é das mais capengas, apresentada em um notebook encontrado facilmente aberto no local, com fotos e reportagens. A internet de difícil acesso, com aspectos primitivos, logo se mostra adequada para o computador.

Enfim, não vale a pena falar muito. Depois deste, Patrick Garcia ainda comandou mais dois filmes, Last Sacrament (2019) e Red Cargo (2023), ambos com ótimas avaliações no IMDb. E o nome dele está envolvido em mais sete produções, algumas já concluídas ou em pós-produção, além de duas em pré. Quem sabe ele tenha aprendido com os erros cometidos em Viagem para o Inferno e passou a acertar a mão?

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