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As Uvas da Morte
Original:Les raisins de la mort
Ano:1978•País:França
Direção:Jean Rollin
Roteiro:Jean-Pierre Bouyxou, Christian Meunier, Jean Rollin
Produção:Claude Guedj
Elenco:Marie-Georges Pascal, Félix Marten, Serge Marquand, Mirella Rancelot, Patrice Valota, Patricia Cartier, Michel Herval, Brigitte Lahaie

O pesticida que despertou os mortos de Jorge Grau também foi responsável por envenenar as uvas de Jean Rollin. É claro que se trata de uma brincadeira, mas é interessante imaginar o quanto a preocupação ecológica servia para alimentar o gênero fantástico. Rollin, que já tinha uma carreira envolta em perversidade, promoveu com o seu As Uvas da Morte (Les raisins de la mort, 1978) a produção considerada a pioneira do gore na França, embora os primeiros tratos do roteiro envolveriam apenas um filme com crítica social e desastre ecológico.

Foi realizado em 78, mesmo ano do segundo filme de zumbis comedores de carne humana de George A. Romero, porém sem voracidade, ainda que o sangue escorra de maneira generosa. Tem como principal aspecto a ambientação: suas gravações aconteceram em Causse du Larzac, o planalto do sul do Maciço Central, na França, com campos grandiosos, vilarejos e ruínas. Nada mais adequado para proporcionar um terror atmosférico apocalíptico, tendo como protagonista uma mulher perdida na região, sem ter em quem confiar.

Trata-se de Élizabeth (Marie-Georges Pascal), que estava em viagem ao vinhedo de Roublès em um trem para encontrar seu noivo Michel (Michel Herval), tendo como única companhia a jovem Brigitte (Evelyne Thomas). Elas não imaginam que no veículo deserto também está um trabalhador de uma vinícola onde pouco tempo atrás foi utilizado um pesticida que afetou sua saúde, fazendo inicialmente sentir dores no pescoço, para depois surgirem feridas pustulentas, até afetar sua capacidade de compreensão. Ele mata Brigitte, e parte para cima de Élizabeth, que aciona os freios do trem e foge pelos campos em busca de ajuda.

O infectado nem se atreve a ir atrás, mas o horror proposto pela perda da companheira de viagem conduz a moça até uma moradia, habitada por Pierre (Patrice Valota) e sua filha “prisioneiraAntoinette (Patricia Cartier). Notando as mãos cheias de feridas do homem e a atitude passiva da filha, Élizabeth encontra a mãe da garota morta no andar superior, e planeja fugir dali, no momento em que Pierre perde a razão, assassina a filha com um forcado, e depois pede que ela o atropele para não sofrer mais com a doença.

Novamente, Élizabeth está em busca de ajuda. É atacada no veículo que pegou de Pierre por um homem com úlceras evidentes, descobrindo no porta-luvas um revólver. A sequência do ataque a ela, com a quebra da janela do carro, remete ao começo de A Noite dos Mortos-Vivos. A jornada de Élizabeth ainda a fará conhecer a cega Lucie (Mirella Rancelot), provavelmente fugida de Terror nas Trevas, e chegar a um estranho vilarejo. Lucie é decapitada por seu amado Lucas (Paul Bisciglia) – em uma sequência bem interessante em que o zumbi carrega a cabeça da moça – e a protagonista ainda irá conhecer mais alguns personagens peculiares, como uma loira insana (a atriz pornô Brigitte Lahaie, que já havia trabalhado com Rollin) e os caçadores Paul (Félix Marten) e Lucien (Serge Marquand), além de seu noivo Michel, responsável pela produção do pesticida.

Como boa parte da cinegrafia de Rollin, há muitas coisas que acontecem e não fazem sentido. A própria fuga de Élizabeth, sem ter ninguém em seu encalço e sem procurar apoio do maquinista, acontece de maneira sem lógica. O fato de Antoinette nem tentar fugir do pai, sendo que a porta vive aberta e ele assassinou a mãe dela; e até a aparição da doida com seus cães, trocando de roupa a cada cena e proporcionando uma nudez gratuita; e os dois caçadores, que parecem estar fugindo dos zumbis, mas então por que resolveram entrar em uma comunidade morta?

E não é apenas a limitada Brigitte Lahaie, que aparece nua. Patricia Cartier e Mirella Rancelot também nos fazem lembrar que estamos vendo um filme do diretor Jean Rollin pela exposição gratuita de seus corpos. Mas, pelo interesse comercial, As Uvas da Morte destoa de seu legado onírico e mensagens poéticas, sendo mais “tradicional e quase convencional“, como disse o cineasta em entrevista. Embora tenha alguns aspectos dos mortos de Romero, os zumbis de Rollin não se alimentam de carne humana, não são mortos-vivos, mas pessoas vítimas de um estado de loucura crescente.

Graças à interpretação de Marie-Georges Pascal, aos trabalhos de efeitos especiais e à fotografia de Claude Bécognée, o longa fez até um certo sucesso comercial. Teve baixo custo e um bom retorno financeiro, o que tornou Jean Rollin conhecido e permitiu que trabalhasse em mais projetos autorais, como Fascinação, lançado em 79. É provável que se o diretor não tivesse tantas contas a pagar, realizando inúmeras produções pornográficas, ele poderia ter feito muito mais filmes importantes em sua filmografia.

Ainda que o gore seja contido, As Uvas da Morte diverte pelos próprios defeitos. Sem apresentar muita novidade para o cinema fantástico, é o filme pé-no-chão de Jean Rollin, sem profundidade até mesmo para falar de problemas ecológicos. Neste ponto, Grau se saiu muito melhor com o seu Não se Deve Profanar o Sono dos Mortos. De todo modo, é um longa até bem realizado e vale a pena conhecer. As Uvas da Morte está disponível no box Zumbis no Cinema Vol. 5, da Versátil, ao lado de Os Canibais do Apocalipse (Apocalypse Domani, 1980), Os Predadores da Noite (Virus, 1980) e Zumbi 3 (Zombie 3, 1988).

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