Oddity - Objetos Obscuros
Original:Oddity
Ano:2024•País:Irlanda Direção:Damian Mc Carthy Roteiro:Damian Mc Carthy Produção:Katie Holly, Evan Horan, Mette-Marie Kongsved, Laura Tunstall Elenco:Carolyn Bracken, Johnny French, Steve Wall, Joe Rooney, Gwilym Lee, Tadhg Murphy, Caroline Menton, Ivan de Wergifosse |
Tarde da noite, sozinha em casa, Dani Timmins (Carolyn Bracken) escuta batidas na porta da frente. Através de um visor na entrada, ela percebe um estranho, com um rosto de expressão desesperada, insana, que tem apenas um olho. Logo o visitante inesperado, Olin Boole (Tadhg Murphy), um dos pacientes psiquiátricos assistidos por seu marido, o Dr. Ted Timmis (Gwilym Lee), revela o motivo de sua aflição: em uma distração da anfitriã, um intruso invadiu a moradia e está ali dentro com ela. Dani está sem seu telefone, e para alcançar o seu veículo, precisaria passar pelo louco, que continua insistindo para que ela abra a porta. Essa nova configuração da lenda urbana do “assassino do banco de trás” é o ponto de partida do sensacional novo horror de Damian Mc Carthy, Oddity.
Havia um potencial criativo no trabalho do cineasta em seu longa anterior, Caveat. Ainda que a realização tenha apresentado problemas no ritmo e desenvolvimento de personagens, a mistura de elementos e a atmosfera se mostraram promissoras. Em Oddity, Mc Carthy não somente corrigiu seus percalços como construiu algo maior e mais assustador, mesmo que seja fácil identificar alguns dos rumos de sua narrativa como uma determinada surpresa final. Até mesmo a falta de linearidade de seu enredo não traz complicações, enquanto a principal ameaça se mostra inerte, mas presente a todo momento.
O conflito inicial resulta no assassinato de Dani. E nem dá tempo de qualquer julgamento sobre as ações do intruso, quando este logo é encontrado pelo colega de quarto da instituição psiquiátrica, Declan Barrett (Johnny French), totalmente dilacerado, restando apenas o olho de vidro. Um ano depois, a irmã gêmea de Dani, a sensitiva cega Darcy Odello (Bracken, novamente), proprietária de uma loja de objetos amaldiçoados – que deve ser rival do Museu dos Warren -, recebe de Ted o olho de vidro para compor sua coleção.
O viúvo agora está em um relacionamento com a jovem Yana (Caroline Menton) e a trouxe para morar com ele na mesma casa onde Dani fora assassinada. Logo, eles receberão uma pesada caixa, com um boneco de madeira em tamanho proporcional ao de um ser humano, advinda de Darcy, que ainda resolve fazer uma visita no aniversário da morte da irmã. Assim uma situação constrangedora se estabelece, com a saída necessária de Ted para trabalhar: Yana terá que passar algumas horas com Darcy, sentindo a todo momento que o local é assombrado por Dani e que aquele boneco parece ter vida.
Parece mais um enredo de vingança sobrenatural, e realmente é isso. O diferencial, além da atmosfera e ambientação peculiares, está no reaproveitamento do mito do Golem, comumente associado ao judaísmo. O boneco, em um grito de horror, traz uma grande parcela de desconforto em Yana e no espectador. Traz uma expectativa sombria e um gosto amargo pela retaliação como a do boneco de madeira do conto “Old Chief Wooden Head“, de Creepshow 2 (1987). Soma-se a isso as espetadas claustrofóbicas de uma ambientação erma, os aspectos de thriller e as assombrações que preenchem o imaginário do público em ânsia.
Mc Carthy ainda ousa em suas referências ao apresentar uma loja que parece ter sido herdada de Peter Cushing em Vozes do Além (1974). Desperta a curiosidade pelo sino de um carregador de malas fantasma e resgata o boneco coelho maldito de Caveat, entre outros adereços malignos. É provável que tenha se identificado com a proposta de James Wan em Invocação do Mal ao espalhar elementos que vão além de bruxas e uma árvore medonha, mas sem que precise de novos filmes para o desenvolvimento de seu próprio universo macabro. Oddity já deve ser por si só o objeto de curiosidade do espectador.
Carolyn Bracken faz um duplo papel de camadas próprias, alternando da assustada Dany para a madura Darcy com muita precisão. Mas deve-se enaltecer também a atuação de Caroline Menton pela capacidade de trazer sentimentos dúbios no espectador em momentos distintos. Com essa força feminina de expressão, a proposta de um horror sólido, envolto em suspense e tensão, é mais absoluta. Assim, Oddity se beneficia por um conjunto de acertos técnicos, efeitos criativos e belíssimas interpretações, do mesmo modo que seu enredo aterrorizante se mostra eficaz ao ponto de promover calafrios e uma constante sensação de insegurança.