Você Nunca me Encontrará
Original:You'll Never Find Me
Ano:2023•País:Austrália Direção:Josiah Allen, Indianna Bell Roteiro:Indianna Bell Produção:Josiah Allen, Indianna Bell, Jordan Cowan, Christine Williams Elenco:Brendan Rock, Jordan Cowan, Elena Carapetis, Angela Korng, Luca Trimboli, Finn Watson |
Um típico filme “Shudder“, daqueles que frequentam festivais e desaparecem em seu vasto catálogo. Ser “Shudder” não quer dizer que seja ruim, até porque muitas boas surpresas figuram na plataforma, como Oddity – Objetos Obscuros, O Mal que Nos Habita e até o Não Fale o Mal original. O que se espera, quando a nota é boa e festivais como Tribeca e o Fantastic Fest o colocam em seu cardápio, é um trabalho mais consciente, muitas vezes condicionado ao formato “horror elevado“. You’ll Never Find Me é bem isso, funcionando como uma peça de teatro, um experimento psicológico, que só irá agradar os infernautas mais pacientes.
Ele é composto de uma única ambientação, um grande trailer, posicionado em um local ermo durante um vendaval. E também há basicamente dois personagens em cena durante mais de 90% do filme, dialogando, desafiando e supondo, enquanto o espectador observa atentamente na busca por sinais que possam identificar quem está em perigo. Esses elementos constroem um cenário de ameaça, propõem perguntas e provocações, ao passo que explora detalhes pela câmera inteligente de Josiah Allen e Indianna Belle, além de visões das personagens.
Patrick (Brendan Rock, de Carnifex, 2022) mora sozinho nesse trailer, evidenciando um tom de tranquilidade e mistério. O primeiro frame, uma imagem externa, já dá uma pista sobre o fim do filme para os mais atentos. Bebendo álcool com um estranho frasco nas mãos, sua paz é interrompida por batidas fortes na porta às duas horas da madrugada. A tempestade intensa traz uma visita inesperada: uma moça (Jordan Cowan, de Wolf Creek 2, 2013) pede abrigo temporário para se proteger da chuva e a possibilidade de fazer um telefonema.
O anfitrião estranha que a moça esteja descalça e com vestuário de praia, mas oferece toalha, a chance de secar sua camisa no aquecedor e um banho. Ela insiste pela ligação, sendo informada que há apenas um telefone público além do parque, e ainda recebe algumas moedas. Ambos iniciam uma troca de olhares e destilam mentiras sobre o que estariam fazendo ali e sobre o passado. A chuva se intensifica com barulhos sendo ouvidos no teto, outras batidas na porta até a falta de energia consumir o ambiente de desconfiança. A fotografia alterna entre os personagens e objetos de cena, como os copos, a torneira e a fechadura. A visitante parece incomodada pelo que se esconde no fundo do trailer e, por vezes, confunde-se com visões de sangue, seja no chuveiro, na janela e até em um martelo notado algumas vezes.
Você Nunca Me Encontrará segue essa toada de mistério e dúvida. Deixa para o último ato as consequências de seus dois primeiros. A revelação muda a narrativa de seu horror psicológico para o sobrenatural involuntário até que as peças do quebra-cabeça do roteiro de Indianna Bell começam a fazer sentido. Não traz nenhuma grande surpresa para aqueles que estão acostumados com enredos similares, mas a forma como se apresenta, incluindo o sarcástico som final e as ótimas atuações, deixa uma impressão positiva.