V/H/S/Beyond
Original:V/H/S/Beyond
Ano:2024•País:EUA Direção:Jay Cheel, Jordan Downey, Christian Long, Justin Long, Justin Martinez, Virat Pal, Kate Siegel Roteiro:Evan Dickson, Christian Long, Jordan Downey, Mike Flanagan, Justin Long, Justin Martinez, Virat Pal, Kevin Stewart, Benjamin A. Turner, Oleg Vdovenko Produção:Josh Goldbloom, James Harris, Brad Miska, Nehal Pal, Brian Robertson, Michael Schreiber Elenco:Brian Baker, Trevor Dow, Gerry Eng, Mitch Horowitz, Thom Hallum, James C. Burns, Jolene Andersen. Tyler Andrews, Vas Provatakis, Phillip Andre Botello, Michael J. Sielaff, Dane DiLiegro, Namrata Sheth, Ashwin Mushran, Rohan Joshi, Virat Pal, Bobby Slaski, Rhett Wellington, Jerry Campisi, Bix Krieger, Hannah McBride, Skip Howland, Dominique Star, Jared Trevino, Matt Tramel, Mike Ferguson, Libby Letlow, Matthew Layton, Braedyn Bruner, Kevin Bohleber, Alanah Pearce |
Dentre os temores que assombram a sociedade, os alienígenas ocupam um lugar de destaque. Se fizer uma pesquisa entre fãs de horror ou numa conversa entre amigos, vai ter aqueles que dizem que não gostam de produções com naves espaciais, enredos de abdução e invasão alienígena. O cinema, a literatura e até a rádio tiveram uma parcela significativa de desenvolvimento desse medo, assim como a evolução das viagens espaciais e relatos de avistamentos. O temor também está associado ao fascínio, à curiosidade pela exploração e teorias de conspiração – um cardápio que pode ou não ser alimentado pelo sétimo filme da franquia V/H/S, com o subtítulo Beyond.
O longa estreou no Fantastic Fest em 20 de setembro, e depois chegou ao Shudder em 4 de outubro, com produção do site Bloody Disgusting. Traz histórias curtas dirigidas por Jay Cheel, Jordan Downey, Virat Pal, Justin Martinez, Christian Long, Justin Long e Kate Siegel, abordando abduções, encontros com alienígenas hostis, androides e até um enredo bizarro nos mesmos moldes de Tusk: A Transformação (Tusk, 2014), e que foi dirigido exatamente por Justin Long, ator no filme de Kevin Smith. Parece que a temática de transformação de pessoas em animais, de maneira “centopeiahumana“, interessa ao ator, sempre lembrado pelo papel em Olhos Famintos (Jeepers Creepers, 2001).
Jay Cheel comanda a linha narrativa que conduzirá os segmentos da antologia. “Abdução” traz o depoimento de Mitch Horowitz, falando sobre duas fitas de vídeo que supostamente trazem evidências de um encontro alienígena, o que ele chama de “santo graal” das pessoas que duvidam ou têm curiosidade sobre a existência de seres de outros planetas. O próprio Jay Cheel teria recebido por e-mail imagens digitalizadas das fitas, com gravações ambientadas na Farrington House, que apresenta uma lenda urbana canadense sobre um grupo de pesquisadores, nos anos 2000, liderados por Mitch, que teria visto uma forma cinza. Antes de explorar as gravações, tem início o primeiro causo, uma espécie de [REC] com alienígenas.
“Stork” (Cegonha) traz uma unidade policial chamada W.A.R.D.E.N., na invasão a uma casa em ruínas onde haveria relatos sobre bebês terem sido sequestrados e levados ao local. Como todo “found footage” que se preza, as filmagens são feitas por Segura (Phillip Andre Botello), com a companhia de um dos pais que teve o filho sequestrado e é apelidado de E.T. (Vas Provatakis). No local são constantemente atacados por zumbis, chamados por eles de “Brooders“. A ronda pela casa, em combates violentos e bem realizados com motosserra, machado, facadas, rostos explodidos, desmembramentos, conduz a um local onde parece ter ocorrido a entrada de um meteoro, berços estranhos com bebês monstrinhos até o encontro com a criatura-título. Um episódio sensacional, dirigido por Jordan Downey (de The Head Hunter, 2018), e que poderia render um longa sangrento como o de Jaume Balagueró e Paco Plaza.
Depois de mais um trecho de “Abdução“, o segmento seguinte, “Dream Girl“, de Virat Pal (do curta Night of the Bride, 2023), se passa em Mumbai, na Índia, e mostra dois paparazzi, Arnab (Sayandeep Sengupta) e Sonu (Rohan Joshi), tendo a missão de fazer registros próximos e até uma possível entrevista com a cantora e sensação de Bollywood Tara (Namrata Sheth). A proximidade traz uma revelação impressionante: Tara não é humana, é uma espécie de androide, que rouba a face das pessoas e adquire sua identidade. Um episódio com fins apocalípticos e também bastante sangrento, com direito a entranhas à mostra e raios disparados pela criatura. Traz uma mensagem social sobre busca de identidade, sucesso e idolatria.
“Live and Let Dive” tem o comando de Justin Martinez, que dirigiu o segmento “10/31/98” do primeiro V/H/S. Tem uma trama que inicia de maneira criativa: na comemoração do 30º aniversário de Zach (Bobby Slaski), sua esposa Jess (Hannah McBride), seu melhor amigo Logan (Rhett Wellington) e outros resolvem fazer um salto de paraquedas. No avião, eles avistam uma nave sendo perseguida por caças, até que os seres se aproximam o suficiente para obrigá-los a saltar, caindo em um laranjal. No local, são perseguidos pelas criaturas, fazendo registros com câmeras no capacete de Zach. Apesar de levemente bem feito, o episódio poderia ser melhor se fosse filmado à noite, pois a luz do dia revela os efeitos digitais. Outra falha se deve à burrice dos personagens, correndo de um lado para outro ou simplesmente assistindo o ataque da criatura antes de procurar abrigo e fugir.
Justin Long e seu irmão Christian dirigem o segmento “Fur Babies” (algo como “bebês peludos“). Ativistas de um grupo de direito dos animais, Stuart (Matthew Layton), Angela (Braedyn Bruner), Miles (Kevin Bohleber), Pat (Cameron Krugman) e Christina (Jenna McCarthy), pretendem desmascarar uma tal Becky (Libby Letlow), que administra uma creche de cães e que parece estar desenvolvendo experimentos de taxidermia e maltratando os animais. Stuart e Angela fingem estar levando o cãozinho deles para conhecer o local e tentam distrai-la para descobrir seus segredos. Ela mora com seu estranho irmão Bo (Phillip Lundquist) e mantém em seu porão o resultado de seus testes, além de pessoas que “perguntam demais“. Quem assistiu Tusk deve imaginar do que se trata. Trama boba, com elementos Frankenstein, e que abusa de um humor desnecessário apesar da temática bizarra.
A última trama, “Stowaway“, de Kate Siegel (esposa e atriz das séries e produções de Mike Flanagan, responsável pelo roteiro), traz a curiosa Halley (Alanah Pearce), que deixou para trás marido e filho para se aventurar em um registro sobre aparições alienígenas no deserto de Mojave. Ela segue uma luz e adentra uma nave, descobrindo um ambiente sinistro onde pequenas moléculas realizam curas de ferimentos até se confundir com os DNAs dela com o de uma aranha, resultando em uma estranha mutação que remete A Mosca, de Cronenberg. Segmento interessante e claustrofóbico, e a moça demonstra muita ousadia em seu documentário, mesmo já tendo material suficiente para comprovar suas teorias. Bons efeitos especiais e criatividade conduzem o episódio, bem dirigido por Siegel.
Cada episódio é intercalado pelo documentário sobre “Abdução“. Mostra que uma família de imigrantes chineses adquiriu a tal Farrington House na década de 80, restando apenas um filho. Após sentir presenças durante a noite, ele instala câmeras acreditando que a casa seja assombrada. Antes de mostrar o resultado da gravação, novamente os documentaristas relatam outras investigações sobre alienígenas, mencionando o livro “Comunhão“, de Whitley Strieber, escrito em 1987. Horowitz entra em contato com os realizadores do canal Corredor Digital, do Youtube, Niko Pueringer e Sam Gorski, para analisar o material, relembrando o episódio da leitura de “Guerra dos Mundos“, por Orson Welles, e que algo similar aconteceu com os youtubers numa brincadeira que fizeram. Outros dois youtubers, do canal The Superstitious Times, também assistem à fita, com seu final por fim revelado, mostrando uma criatura adentrando o quarto do chinês numa conclusão menos interessante que o fora mostrado parcialmente até então.
V/H/S/Beyond diverte como um bom produto da franquia. Não é tão assustador quanto poderia ser, e tem em seu primeiro segmento, “Stork“, a melhor história, com mais dinamismo com a câmera em primeira pessoa conduzindo o espectador como em um videogame. Com quase duas horas, os episódios sci-fi devem divertir os fãs de produções de ficção no formato “found footage“, ainda que não tenham explorado outras temáticas como viagem no tempo e loop temporal. Pode ser que esses temas sejam explorados no próximo filme: na New York Comic Con 2024, foi anunciado que V/H/S/8 já está em desenvolvimento e será lançado em 2025. Talvez esse “8” do subtítulo possa ter algo a ver com “infinito“, ou apenas é uma identificação do oitavo filme. Aguardaremos com ansiedade!