![]() Girassol Vermelho
Original:Girassol Vermelho
Ano:2025•País:Brasil Direção:Eder Santos, Thiago Villas Boas Roteiro:Mônica Cerqueira, Eder Santos Produção:André Hallak, Barão Fonseca, Bia Flecha, Monica Cerqueira Elenco:Chico Diaz, Daniel de Oliveira, Luah Guimarães, Luiza Lemmertz, Mariano Mattos Martins, Bárbara Paz, Vinicius Meloni, Aury Porto, Michelle Castro, Renato Parara, Fernanda Rodrigues, Carlos Magno |
Em Girassol Vermelho, acompanhamos uma jornada em busca por liberdade do protagonista Romeu (Chico Diaz), que, após o trem em que estava parar inesperadamente, acaba explorando outras faces de uma realidade distópica e fantástica.
Seu desembarque culmina em uma cidade cinzenta, cheia de monitores e névoa. Ele então é preso e torturado, descobrindo que está num regime onde é proibido fazer perguntas e questionar as autoridades.
Durante o filme todo presenciamos diálogos (e às vezes até monólogos) filosóficos com personagens diversos, em sua maioria passageiros, que estão ali mais para levantar questionamentos do que para movimentar a trama em si.
A ambientação do longa, ao mergulhar no realismo fantástico, também possui uma estética que flerta com o cyber/solarpunk e utiliza de muitos elementos conhecidos quando falamos de distopias. Inclusive lembra muito 1984 de George Orwell. Além disso, temos cenários que advém de uma montagem teatral, mesclando visualmente diversas maneiras para expor uma poesia imagética que também funcionaria muito bem como uma peça do tipo. Algumas cenas até lembram quadros e pinturas em suas composições.
Sendo vigiado o tempo todo pela “máquina”, Romeu passa o tempo todo dizendo que não é quem estão procurando. Enquanto é interrogado por oficiais, ambos os lados insistem em suas próprias causas. Vemos outras personagens em contraponto que também são questionadas, mas têm suas respostas dúbias, claramente respondendo exatamente aquilo que é esperado delas.
Expondo uma crítica à ditadura e sistemas opressores, a própria “máquina” enclausura Romeu e ambos não parecem chegar a lugar algum. A atuação de Chico Diaz é o ponto alto do longa, estando sozinho com suas expressões e conseguindo transparecer sentimentos a quem assiste em contraste à ambientações mais simplistas e cenográficas. Outros nomes como Bárbara Paz e Daniel de Oliveira compõem o elenco com passagens sutis e quase despercebidas.
Questionando o livre arbítrio e a hipocrisia, o longa faz uma grande alegoria que pode representar o Brasil atual. A máquina em si não quer que a população seja informada e questionadora, e isso pode trazer punições. E é dito que a própria máquina é quem escreve a história de Romeu, dando uma ambiguidade para seus outros momentos em cena como o trem em que estava e sua interação com Luah Guimarães, que o seduz logo antes de ser preso.
Apesar das referências e flertes com o onírico, o roteiro acaba se repetindo e patinando num ritmo poético que parece se estender para além do necessário. O exagero do excesso de sua beleza é extremamente coerente com o tom artístico proposto da obra, porém pode não funcionar tão bem quando falamos de um impacto emocional para atingir ao público.
Para evidenciar a mudança e o ápice do terceiro ato, os cenários são opostos e bem iluminados. Vemos amarras literais, e, o que deveria ser sufocante, só acompanha o ritmo lento desde o início do filme. E acaba tão aberto a interpretação como muitos de seus momentos.
Girassol Vermelho é um filme que evoca muitas perguntas, mas infelizmente carece de respostas, direcionamentos, elucidações e aprofundamentos. Seus significados são tão pontos de interrogação quanto a conexão da fluidez de sua narrativa.
O diretor Eder Santos baseia sua obra na escrita de Murilo Rubião, conhecido pelo realismo fantástico. O filme foi escolhido para abrir a Mostra Tiradentes de 2025, e fará parte de uma trilogia de cores vermelho, verde e azul, que representam a base da formação de imagens digitais. Deserto Azul (2014) está incluso e o terceiro filme está em desenvolvimento.
O filme chega hoje os cinemas brasileiros e pode agradar aos entusiastas do onírico, realismo brasileiro e teatral. Uma obra que diz muito sobre a mão artística de seu diretor e suas fontes, e que vale a pena ser conferida, apesar de seus apesares, e receber todo o apoio nosso por ter sido feita por um de nós.