![]() Quadrilha de Sádicos 2
Original:The Hills Have Eyes Part II
Ano:1984•País:EUA, UK Direção:Wes Craven Roteiro:Wes Craven Produção:Barry Cahn, Peter Locke Elenco:Robert Houston, David Nichols, Virginia Vincent, James Whitworth, Susan Lanier, Tamara Stafford, Kevin Spirtas, John Laughlin, Willard E. Pugh, Peter Frechette, Penny Johnson Jerald, Janus Blythe, Lance Gordon, Martin Speer, Edith Fellows, Michael Berryman |
Por razões financeiras, Wes Craven achou que a colina devia ter olhos novamente. Na verdade, até 1984, o diretor vinha com uma filmografia B, com produções mais cultuadas do que promissoras. Há quem considere Aniversário Macabro (The Last House on the Left, 1972) como algo digno de nota, embora seja apenas o veja um exploitation mal realizado, com atuações canastronas e um roteiro irregular; há quem venere o primeiro Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), que, apesar da violência e da ousadia, também peca na realização, sendo apenas medíocre. Os demais filmes cravenianos foram produções para a TV em nível razoável, pendendo para avaliações negativas. O cineasta começou realmente a mostrar a que veio com o inventivo A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984), mesmo ano em que desenvolvia Quadrilha de Sádicos 2.
Em uma realidade alternativa, Craven poderia ser condenado a um diretor de bagaceiras, com algumas boas realizações perdidas entre inspiração no clássico A Fonte e a Donzela e canibais, vítimas de testes nucleares. Enquanto dirigia Michael Berryman, dando uma sobrevida improvável ao seu personagem Pluto, nos bastidores, o cineasta tentava vender o roteiro de A Hora do Pesadelo para estúdios como Disney, Paramount e Universal, tendo a recusa de todos. Quando convenceu a New Line Cinema, que não tinha nenhum grande sucesso em seu portfólio, ainda assim precisava de dinheiro para bancar um projeto que precisaria superar a casa de US$1 milhão para se aproximar de seu conceito. Assim, o diretor justifica a ruindade de Quadrilha de Sádicos 2 como algo feito de qualquer jeito e inacabado.
Antes mesmo de concluir as filmagens, Craven já estava trabalhando no longa original de Freddy Krueger. Para atingir a metragem de 86 minutos, foi preciso acrescentar flashbacks, resgatar cenas do primeiro filme. A realização ficou tão ruim que o diretor renegou a produção e nem se interessou em um lançamento comercial; Quadrilha de Sádicos 2 foi lançado em poucos cinemas em 1985 para depois chegar ao mercado de vídeo. É claro que os críticos defenestraram seu conteúdo, colocando o longa com justiça entre as piores partes 2 do cinema de horror ao lado de O Exorcista II – O Herege (Exorcist II: The Heretic, 1977) – eu até colocaria O Massacre da Serra Elétrica 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2, 1986) nesse balaio, mas é questão de opinião.
Entre os absurdos que permeiam o filme, há a volta de um personagem numa ponta que poderia colocá-lo atipicamente numa lista dos mais inteligentes dos filmes de terror – já falo sobre isso – e as sequências de flashbacks que incluem até a de um cachorro. Sim, o pastor alemão Fera, que fazia par com Bela no primeiro, tem um momento de recordação de seus feitos no deserto, quando atacou canibais. Os resgates ao passado não trazem os exageros de Natal Sangrento 2 – Retorno Macabro (Silent Night, Deadly Night Part 2, 1987), que ocupam meio filme, mas são desnecessários e estão lá para dar mais uns dez minutos de projeção. E há problemas na fotografia de David Lewis, extremante escura; e até na trilha incidental de Harry Manfredini, que repete sons que utilizou na cinessérie Sexta-Feira 13.
Ambientado oito anos após os eventos do primeiro massacre no deserto, o sobrevivente Bobby Carter (Robert Houston) revela a seu psiquiatra (David Nichols) o pesadelo vivenciado por sua família durante uma travessia por uma zona perigosa – a conversa que depois vocês iriam ver em A Hora do Espanto 2 (Fright Night Part 2, 1988) no relato de Charley Brewster (William Ragsdale) e até Pânico VI (Scream VI, 2023) por Sam Carpenter (Melissa Barrera). Como Bobby possui uma equipe de competição de motocicletas ao lado de Rachel (Janus Blythe), que foi a mocinha canibal Ruby no anterior e foi socializada, ele está aterrorizado a ter que voltar ao deserto para testar o novo super combustível que produziu. E aí está o meme do “se os personagens dos filmes de terror fossem inteligentes“: ele simplesmente não vai ao deserto e sua participação no filme termina aí, com os flashbacks e alguns choros em cena.
Os demais da equipe, incluindo Ruby Rachel, vão em um ônibus vermelho para a expedição, tirando vários sarros sobre o que aconteceu no passado, como se fosse uma história inventada. Caramba, eles têm entre eles duas testemunhas oculares, sendo que uma está até traumatizada, e mesmo assim acham que se trata de uma lenda. É claro que até então eles desconheciam o passado de Rachel, e aparentemente sabiam pouco sobre os familiares de Bobby. A equipe é composta pela cega Cass (a péssima atriz Tamara Stafford, que abandonou a carreira depois deste desastre) e seu namorado Roy (Kevin Spirtas), que tenta assustar a namorada com uma máscara de monstro no início, esquecendo do fato dela ser cega, os idiotas Harry (Peter Frechette) e Hulk (John Laughlin), além de Foster (Willard E. Pugh), sua namorada Sue (Penny Johnson Jerald) e Jane (Colleen Riley, que esteve também em Benção Mortal de Wes Craven antes de sumir). Levam na bagagem o cão Fera, que agora pertence a Rachel.
Depois de uma “wrong turn“, pegando um atalho após se perderem na região, eles param o veículo numa fazenda de mineração devido à queda do combustível do ônibus. Alguém até sugere que utilize nele o super combustível, mas Foster avisa que isso poderia destruir o motor do veículo. E é nessa fazenda que acontecerão os ataques de Pluto, que sobreviveu às mordidas de Fera no anterior, e do grandalhão The Reaper (John Bloom, que foi Gor, O Monstro Sanguinário e a Criatura de Frankenstein na bagaceira Drácula Vs Frankenstein), que é irmão do líder dos canibais morto no anterior, Júpiter (James Whitworth).
Serão atacados, mas nada como a chocante invasão do trailer do primeiro filme. Haverá perseguição de motos por ambientes estreitos nas colinas, ataque com pedra, lança e facão, demorando uma eternidade para alguns personagens descobrirem o que está acontecendo. Metade do elenco desapareceu, mas alguns só notam nos dez minutos finais quando os corpos começam a aparecer em cenas copiadas de Sexta-Feira 13. Já a cega Cass tem uma audição incrível e um olfato capaz de distinguir odores a distância – há até um personagem que diz que ela é sensitiva por prever as coisas dez minutos antes de acontecerem -, mas não sente cheiro dos animais mortos na fazenda, precisando também tatear cadáveres. Aliás, o diretor devia ter dito à atriz que pessoas cegas podem não olhar nos olhos das pessoas, mas elas têm noção de onde vem o som: na cena em que dois dos motoqueiros brincam de luta ela fica sorrindo para o outro lado somente para deixar claro sua condição.
Confrontos mal coreografados, violência contida e zero ousadia, Quadrilha de Sádicos 2 é uma tranqueira desgovernada. Até as cenas de suspense e perseguição não trazem emoção alguma; e os personagens são muito idiotas para que o espectador crie alguma empatia, queira vê-los resistir aos canibais. A ideia maquinada por Roy para enfrentar The Reaper é cheia de possibilidades de dar errado e ainda necessita de uma ação de Cass, cega, precisando correr até um poço para empurrar algo extremamente pesado! A mesma moça que anda tateando tudo e não tem sequer uma bengala ou algo que a oriente precisa atravessar uma labareda para chegar ao local certo no combate ao vilão! E Wes Craven quis culpar os flahsbacks toscos e a falta de dinheiro, sendo que o roteiro é absolutamente dele? Então, tá.
Não foi preciso muito esforço de Alexandre Aja para fazer uma versão melhor que o original em Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006); e nem para Martin Weisz desenvolver uma continuação melhor em O Retorno dos Malditos (The Hills Have Eyes II, 2007). Craven já tinha mostrado o que não fazer no que se refere a canibais no deserto. Quadrilha de Sádicos 2, inclusive, deveria ser exibido nos estúdios quando estiverem planejando a continuação de qualquer coisa, mesmo que a justificativa envolva apenas pagar contas. Pelo menos o cineasta entendeu isso quando realizou A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (A Nightmare on Elm Street Part 2: Freddy’s Revenge, 1985) e Pânico 2 (Scream 2, 1997).
Deve ser uma das histórias mais refilmadas dos filmes de terror! XD