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Á Beira da Loucura
Original:In the Mouth of Madness
Ano:1994•País:EUA, Canadá
Direção:John Carpenter
Roteiro:Michael De Luca
Produção:Sandy King
Elenco:Sam Neill, Julie Carmen, Jürgen Prochnow, David Warner, John Glover, Bernie Casey, Peter Jason, Charlton Heston, Frances Bay, Wilhelm von Homburg, Kevin Rushton, Conrad Bergschneider in À Beira da Loucura (1994) Conrad Bergschneider, Marvin Scott, Dennis O'Connor, Hayden Christensen

Uma obra baseada em H.P.Lovecraft, mas não escrita por ele. Tudo em À Beira da Loucura (In the Mouth of Madness, 1994) transpira a produção do autor americano, conhecido pelo horror cósmico e as “descrições indescritíveis“. E, claro, é absolutamente intencional: o próprio título original, referencia a obra “At the Mountains of Madness“, publicada em 1936; assim como outros títulos mencionados como parte da literatura do autor macabro fictício Sutter Cane, na ótima interpretação de Jürgen Prochnow; além da temática, da cidade pequena envolta em um horror apocalíptico e das criaturas horrendas, com tentáculos, que perturbam o investigador de seguros John Trent (Sam Neill).

Ele dá o ponto de partida na trama de Michael De Luca, sendo arrastado com muita resistência e em surto psicológico a um hospital psiquiátrico. Ao ser interrogado pelo Dr. Wrenn (David Warner) sobre os motivos que o conduziram a essa degradação mental, John, que riscou as paredes de sua cela e o próprio corpo com cruzes – sabe-se lá porque deram um lápis preto a um paciente insano -, começa a contar sua história, em um formato narrativo comum a Lovecraft, podendo ser visto, por exemplo, em “Dagon“. Ele diz que foi contratado pela editora Arcane, comandada por Jackson Harglow (Charlton Heston), para descobrir o paradeiro do autor mais vendido atualmente, superior até mesmo aos best-sellers de Stephen King.

Após lançar sua última obra, Sutter Cane desapareceu, deixando um rastro de loucura por parte de seus leitores – outro tema lovecraftiano -, obcecados pelo seu trabalho. Um deles chega a atacar John nas ruas, antes que ela descubra que se trata do editor de Cane. Juntando partes da capa, o investigador compõe o que parece ser um mapa, um possível acesso à cidade fictícia de Hobb’s End, em New Hampshire, mas acredita que se trata de um golpe publicitário, uma ação da editora para atrair ainda mais leitores. Para sua jornada ao local, Jackson pede que ele seja acompanhado da editora de Sutter, Linda Styles (Julie Carmen).

No percurso, situações estranhas acontecem, sendo testemunhadas apenas por Linda: um jovem de bicicleta depois é visto como um homem idoso, e a estrada desaparece, como se o veículo estivesse flutuando, numa concepção de horror cósmico. Após atropelarem o idoso e ele se levantar normalmente, logo Linda atravessa com o carro um túnel à noite, alcançando o outro lado à luz do dia, com a placa anunciando Hobb’s End. Eles se estabelecem em um hotel, administrado pela esquisita Sra. Pickman (Frances Bay), que mantém o marido nu algemado a sua perna, e são atraídos por um quadro, em que um casal muda de posição ou se movimenta como se estivesse vivo, mais uma vez somente testemunhados por ela.

John percebe que as descrições de Sutter constroem o cenário que encontram na cidade, como uma enorme igreja com cúpulas em forma de cebola. Linda ainda nota crianças bizarras correndo atrás de cães por diversos momentos até chegarem à entrada da igreja, construída antes da humanidade e sendo um local que abriga dor e sofrimento. Os moradores armados aparecem em vários veículos, exigindo o retorno de seus filhos, mas são recebidos por uma criança, que depois se revela o próprio Sutter Cane, e são atacados por dobermans.

Linda até admite que o desaparecimento do escritor partiu de uma ação forjada, mas todo o resto não. E os acontecimentos testemunhados em Hobb’s End fazem parte do último livro de Sutter Cane, “In the Mouth of Madness“, que será o “começo do fim“. A partir daí John Trent é envolto pelos eventos estranhos da cidade, enxergando pessoas deformadas, Sra. Pickman com tentáculos e até uma abertura para uma dimensão de monstros e seres aterrorizantes. Como o infernauta já sabe qual será o destino do investigador, resta a ele acompanhar a sua descida gradual ao Inferno em mais momentos de visões perturbadoras.

Na época de sua realização, À Beira da Loucura não foi muito bem recebido pela crítica e público. Foi um fracasso nas bilheterias, com opiniões mistas dos jornalistas, enaltecendo boas atuações e efeitos especiais, mas apontando problemas no roteiro. O argumento foi escrito no final dos anos 80, com a proposta de Michael De Luca para que John Carpenter assumisse a direção. Outros diretores ficaram próximos de assumir o filme, como Tony Randel e Mary Lambert, até as filmagens serem adiadas para a agenda do diretor de Halloween – A Noite do Terror (1978).

Carpenter considera este o terceiro filme de sua trilogia apocalíptica, precedido por O Enigma de Outro Mundo (1982) e Príncipe das Sombras (1987). Faz um bom trabalho de condução, sem exageros em sua performance, sabendo acompanhar discretamente a loucura do protagonista. O elenco pode ser considerado estelar ao ter a presença lendária de Charlton Heston, além de David Warner, o próprio Sam Neill e Julie Carmen, a vampira de A Hora do Espanto 2 (1988). Há outros rostos conhecidos como o de John Glover (Os Fantasmas Contra-Atacam e Gremlins 2), Peter Jason (que fez o fortão de Eles Vivem, falecido recentemente), Wilhelm von Homburg (o quadro Vigo de Os Caça-Fantasmas 2) e Frances Bay (Veludo Azul, Criaturas 3).

Como muitas produções da época, À Beira da Loucura foi se tornando cult e mais valorizada com o tempo. Está entre os ótimos trabalhos de John Carpenter, e deve ser visto como uma ode à literatura macabra, principalmente à escrita de Lovecraft. Mesmo com efeitos já ultrapassados, continua um filme curioso e com momentos assustadores como a cena em que Linda anda como uma aranha, numa sequência que até hoje me traz arrepios!

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