![]() Benção Mortal
Original:Deadly Blessing
Ano:1981•País:EUA Direção:Wes Craven Roteiro:Wes Craven, Glenn M. Benest, Matthew Barr Produção:Max A. Keller, Micheline H. Keller Elenco:Maren Jensen, Sharon Stone, Susan Buckner, Jeff East, Colleen Riley, Douglas Barr, Lisa Hartman, Lois Nettleton, Ernest Borgnine, Michael Berryman, Kevin Cooney |
Primeiro destaque entre os pequenos filmes de Wes Craven, Benção Mortal (Deadly Blessing, 1981) pode ser considerado também o pioneiro dos trabalhos de relevância do cineasta. É claro que os fãs de horror irão torcer o nariz ao lembrar que Craven já havia comandado Aniversário Macabro (The Last House on the Left, 1972) e Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), mas ambos os filmes tem realização praticamente independente sem o aporte financeiro necessário para uma realização mais caprichada. E, reforço aos narizes tortos, que ambos os trabalhos são problemáticos, embora amplamente cultuados.
E Benção Mortal traz outros acréscimos curiosos: ele conta com o lendário ator Ernest Borgnine (de O Destino do Poseidon, 1972) e traz a primeira participação, com papel oficial, de Sharon Stone, que ainda contava com um apoio de atuação nos sets de filmagem. Craven dizia que ter Borgnine em seu filme era uma experiência similar a que John Carpenter teve em relação a Donald Pleasance em Halloween – A Noite do Terror (1978), principalmente por se tratar de um vencedor do Oscar. Assim, o trabalho precisou de mais esmero, com um visual inspirado nos livros de Philip Wylie.
Os cuidados técnicos entraram em conflito com o roteiro de Glenn M. Benest, Matthew Barr e do próprio diretor. Há algumas ideias soltas ali como as galinhas que inexplicavelmente pulam de uma cova. Parece que muitas ideias foram desenvolvidas no decorrer das filmagens, além de soarem extremamente artificiais. Você não sabe se o cineasta está conduzindo um slasher, um giallo, um folk horror ou uma produção envolvendo um culto religioso, e muitas perguntas nem sequer são respondidas. Há um mistério sobre a identidade de um assassino em uma cidade pequena – um que utiliza luvas pretas e uma lâmina até a revelação final não fazer sentido -, com elementos sobrenaturais sendo pincelados até o último ato.
Em um ambiente rural, o casal Martha (Maren Jensen) e Jim Schmidt (Douglas Barr) vive tranquilamente, somente com preocupações a respeito de pichações da palavra “incubus” no celeiro. Assim como Jim, os habitantes locais são da religião fictícia hitita, com preceitos rigorosos na condução do líder Isaiah Schmidt (Borgnine), incluindo o obcecado William Gluntz (Michael Berryman), que gosta de espionar Martha trocando de roupa e irritar a jovem Faith Stohler (Lisa Hartman) com menção ao demônio de sedução.
Quem não pertence ou quer desmoralizar os hititas é considerado um “incubus“, como a própria Martha por ter desviado os interesses de Jim. Quando este sofre um acidente estranho, sendo atropelado pelo próprio trator, Martha recebe a visita das amigas Lana Marcus (Stone) e Vicky Anderson (Susan Buckner), querendo convencê-la a voltar para Los Angeles. Enquanto a viúva não decide sobre seu destino, acontece o assassinato de William, e Lana tem uma experiência estranha no celeiro, com as portas se fechando sozinhas e uma aranha. Aliás, nunca se justifica o fato das aranhas incomodarem tanto a jovem ao ponto de uma até cair em sua boca durante um pesadelo.
Vicky passa a flertar com John (Jeff East, de Verão do Medo e foi o jovem Clark Kent de Superman – O Filme), irmão de Jim, mesmo sabendo que ele é noivo de Melissa (Colleen Riley). E a aproximação rápida dos dois vai ocasionar uma das mortes mais idiotas do filme, quando o assassino irá colocar gasolina sobre o carro de Vicky e ela não vai fazer o mais simples que seria se afastar do veículo. E outros ataques acontecerão como a sequência que depois inspiraria Wes Craven a refazê-la em A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984): uma cobra é colocada na banheira de Martha, com o ângulo da câmera na mesma posição que irá aparecer a luva de Freddy Krueger.
Com a boa trilha de James Horner e uma revelação que seria copiada por um certo slasher de 1983, Benção Mortal antecipa uma ideia que também estaria em Pânico (Scream, 1996) e reserva para o acorde final uma segunda surpresa, uma aparição sobrenatural que mostra que os hititas não estavam tão errados em seus temores. Mesmo que você termine o filme com um certo interesse, não vai ter todas as dúvidas esclarecidas: por que sangue em uma caixa de leite? Quem fez a brincadeira do espantalho na porta? Por que somente agora que o assassino resolveu agir, se até então não havia acontecido uma ameaça sequer?

Ainda assim, Benção Mortal é superior a outros trabalhos do diretor feitos na época. Uma direção mais acertada, atuações mais convincentes e a fotografia bem utilizada. Há uma narração inicial e outra no encerramento, a cargo de Percy Rodrigues, que não acrescenta nada; e um certo efeito de maquiagem na principal surpresa que pode parecer risível hoje em dia. Craven já mostrava um certo domínio na confecção de slashers ao ponto de marcar sua carreira com realizações no estilo. É uma pena que o filme tenha uma trama tão boba e de pouca profundidade, e não saiba se decidir entre os vários estilos que o envolvem.