![]() Invocação do Mal 4: O Último Ritual
Original:The Conjuring: Last Rites
Ano:2025•País:EUA, UK Direção:Michael Chaves Roteiro:: Ian Goldberg, Richard Naing, David Leslie Johnson-McGoldrick Produção:James Wan, Peter Safran Elenco:Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mia Tomlinson, Ben Hardy, Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy |
Por Maria Belafronte Pasin
Pode-se dizer que os filmes de Invocação do Mal são a base para o “invocaverso”, uma vez que o Invocação do Mal (2013) é o precursor desse universo cinematográfico e que grande parte dos vilões posteriormente explorados em spin-offs, como Annabelle (2014) e A Freira (2018) foram introduzidos por eles. Por isso é fácil imaginar o peso que o último filme desse título carrega. O ponto em questão é: será que ele faz jus à expectativa?
A coisa mais fácil de notar sobre Invocação do Mal 4: O Último Ritual é uma tentativa de retorno às origens. Um movimento compreensível se levarmos em conta a recepção negativa do público e da crítica diante de Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, no qual o roteiro se distancia das histórias clássicas sobre grandes famílias vivendo em casas assombradas e flerta com um terror de tribunal. No caso do quarto filme, a aposta é abraçar a tradição e se reaproximar do estilo presente no primeiro e no segundo longa.
Contudo, da mesma forma que o fracasso do terceiro filme da franquia não pode ser inteiramente creditado à mudança narrativa, Invocação do Mal 4 não consegue se igualar aos primeiros dois filmes, mesmo que referencie o legado deles.
A primeira metade da obra faz um bom trabalho, subdividindo a trama em dois eixos distintos: de um lado, temos a família Smurl e seu contato com o sobrenatural e, do outro, temos os Warren, vivenciando a aposentadoria e a relação com a filha, Judy (Mia Tomlinson).
Os Smurls são convincentes em sua dinâmica interna, ao ponto de que as manifestações sobrenaturais que os afetam também afetem o público, tanto por simpatia pelos personagens quanto por uma boa construção nas cenas de horror. Ao mesmo tempo, a trama em torno do casal Warren e sua relação com Judy é apresentada de maneira igualmente interessante.
A relação entre Ed e Lorraine Warren em si, já é um dos marcos da franquia. Seus intérpretes, Vera Farmiga e Patrick Wilson, possuem uma química inabalável que, não de se surpreender, continua funcionando bem. A filha do casal também não é novidade para o “invocaverso”, mas agora a personagem possuí mais destaque e sua narrativa pessoal ganha camadas que a tornam mais palpável e intrigante como uma figura de destaque na história.
O filme adquire problemas mais nítidos quando as duas narrativas paralelas se chocam e as famílias passam a contracenar. A história não consegue manter um equilíbrio entre os dois núcleos e pende descaradamente para o lado dos Warren, deixando a família Smurl na sombra. É, novamente, compreensível (e até esperado) que a família dos demonologistas se sobressaia, afinal, Ed e Lorraine são as caras e alma do universo e merecem uma despedida digna. Entretanto, o desequilíbrio é tanto que a presença da família Smurl passa a se assemelhar com uma muleta, presente apenas para que os minutos iniciais do filme não percam o carteirinha de “baseado em fatos“.
Outro ponto controverso é a construção do vilão principal da história. O peso de ser o último embate dos Warren contra o sobrenatural e a frequente promoção da história como “o caso que acabou com tudo” atribui a essa figura uma grande expectativa que não é suficientemente contemplada pelo filme. Não defendo que as motivações e a origem de todos os demônios e assombrações presentes na história sejam minuciosamente dissecadas em tela, porém, nesse caso em específico, a complexidade narrativa atribuída à grande força maligna do enredo é praticamente nula. Em detrimento disso, o roteiro opta por um apelo para a nostalgia ao acrescentar aparições de antagonistas antigos que de pouco servem para a trama em geral.
Em suma, Invocação do Mal 4 causa uma sensação mista, com uma boa construção inicial que sofre drasticamente com a perda de ritmo na metade final. Não se iguala ao legado dos primeiros dois filmes, mas apresenta uma melhora considerável em relação ao terceiro capítulo da franquia. Ao menos, o filme entregou a Ed e Lorraine Warren um final digno de sua grandiosidade no ”invocaverso”.