![]() Segredos Malignos
Original:Proxy
Ano:2013•País:EUA Direção:Zack Parker Roteiro:Zack Parker, Kevin Donner Produção:Faust Checho, Zack Parker Elenco:Alexia Rasmussen, Kristina Klebe, Alexa Havins, Joe Swanberg, Adam Stephenson, Erika Hoveland, Shayla Hardy, Jim Dougherty, Faust Checho, Mark A. Nash, Angel Kerns |
Segredos Malignos (Proxy, 2013) aparece como exemplar de um subgênero conhecido como “mumblegore“, uma variação de “mumblecore“, apadrinhado por Andrew Bujalski, a partir de sua estreia cinematográfica com Funny Ha Ha (2002). Trata-se de um estilo que possui resquícios na década de 70 e são caracterizados por produções realizadas com baixo custo, cenários reais e diálogos improvisados em excesso. O estilo naturalista e uso de atores não profissionais para se aproximar de uma atmosfera real logo se misturariam com o horror para desenvolver filmes como A Casa do Diabo (2009), Você é o Próximo (2011), O Último Sacramento (2013), Creep (2014) e tantos outros. Proxy desponta nessa lista por apresentar um horror urbano, com personagens em atitudes insanamente convincentes no desenvolvimento de elementos psicológicos agressivos.
O longa aborda a Síndrome de Munchausen, um transtorno mental que faz com que a pessoa crie falsas doenças e tragédias, às vezes acreditando que realmente está atravessando por aquilo ou para chamar a atenção. Lembro de quando eu era adolescente e um amigo estava tentando me convencer a entrar em contato com a namorada dele para dizer que o rapaz havia sofrido um acidente de moto e estava entre a vida e a morte no hospital. Ainda sem conhecer a patologia, eu me neguei a ajudá-lo nesse roteiro trágico, sugerindo que procurasse outra pessoa para corroborar com a mentira.
Em Proxy, a doença afeta duas mulheres em rota de colisão. Esther Woodhouse (Alexia Rasmussen) está com uma gestação de nove meses, iniciando o filme na realização de um ultrassom. Ao sair do consultório, acompanhamos em plano sequência sua caminhada até uma passagem por um beco onde ela é atacada por um agressor de blusa vermelha. A cena é angustiante porque a moça leva diversos golpes de tijolo na barriga grávida, antes de ser assaltada e deixada estirada na rua. A solitária Esther perde o filho, e recebe a recomendação de participar de um grupo de apoio a mulheres, vítimas de perdas trágicas.
Ali, entre os relatos, ela se amiga de Melanie Michaels (Alexa Havins), uma mulher que frequenta o local há cerca de um ano, desde que perdeu o marido e o filho em um acidente de carro, em decorrência da ação de um motorista bêbado. A relação de proximidade entre as duas mulheres acaba por revelar que não foram exatamente as tragédias que permitiram a união das duas, mas a dupla narrativa que criaram, mergulhando-as numa perturbação crescente de psicose introspectiva. Quando outros personagens entram nesse jogo psicológico exatamente por estarem sendo afetados, a tensão dá lugar a combates violentos até seu clímax ilusório e incompleto.
Dividido em dois protagonismos, com uma primeira parte mais dramática e pessimista para uma segunda de consequências e vinganças, Proxy envolve o infernauta entre personagens psicologicamente problemáticos. Basicamente todo o elenco, incluindo a namorada de Esther, Anika (Kristina Klebe), e Patrick (Joe Swanberg), age por impulso, sem medir suas ações, e evidencia algum desequilíbrio no discernimento. Deve-se a essa profundidade necessária ao roteiro de Kevin Donner e do diretor Zack Parker, apresentando situações de confronto em atitudes condizentes com a debilidade psicológica de seus personagens, com ênfase no núcleo feminino.
Parker conduz Proxy como se fosse um suspense hitchcockiano até na evocação de trilhas parecidas, mas não consegue propor o misancene devido, optando por obscurecer a tela entre os cortes, em saltos de tempo estranhos. Alonga de mais a produção, com momentos que podiam ficar nas entrelinhas, e se esquiva de soluções. Ainda assim, coloca Proxy numa galeria de produções a serem vistas como estudo de personagem e de transtornos mentais.

























