Creep (2014)

3.7
(10)

Creep
Original:Creep
Ano:2014•País:EUA
Direção:Patrick Brice
Roteiro:Patrick Brice, Mark Duplass
Produção:Jason Blum, Mark Duplass
Elenco:Patrick Brice, Mark Duplass

O desgastado subgênero “found footage” continua em plena produção, mesmo depois de tudo o que já foi explorado. Quando a Netflix anunciou como novidade o terror Creep 2, aproveitei para assistir ao primeiro, também disponível, e, assim, fazer uma análise comparativa, me atentando à justificativa da câmera ligada o tempo todo de maneira a construir um fio narrativo lógico. O que atrai a curiosidade pela franquia não é a linguagem utilizada, mas um trívia apontada no IMDB que diz que grande parte – a maioria, na verdade – dos diálogos foi improvisado, simplesmente deixando a câmera como testemunha do que os personagens/atores querem dizer – num recurso que não era utilizado desde A Bruxa de Blair, 1999.

Faz sentido dentro do proposto, quando você percebe que o terror propriamente dito só se desenvolve nos últimos vinte minutos. Até ali só há situações de estranhamento, a tal pulga atrás da orelha, diante de um personagem que parece ser, no mínimo, bipolar. Parece que estamos acompanhando realmente uma pessoa doente, vítima de problemas psicológicos, provavelmente fruto de algum trauma, e sentindo uma necessidade extrema de fazer amizade. Mas, as ações desequilibradas de Josef (Mark Duplass) são ainda mais perturbadoras do que se imagina, fazendo o “creep” do título ter sentido absoluto.

Aaron (Patrick Brice) é um filmaker em busca de recursos financeiros. Ele responde a um anúncio da internet, no popular site Craigslist – usado por muitos serial killers, segundo o livro Social Killers.com -, onde um tal Josef precisa que alguém realize 8 horas de filmagem de seu cotidiano, sem mais justificativas. É claro que ele começa o processo antes, pois assim podemos ter uma introdução dos acontecimentos, quando o rapaz está em viagem à região montanhosa. Josef aparece após um dado momento, promovendo um dos sustos que costuma praticar, e traz uma proposta sentimental: depois de ter vencido ao câncer, ele voltou a se estabelecer em seu corpo, mais precisamente no cérebro em uma região inoperável, portanto ele precisa que alguém grave tudo o que faz para que as filmagens um dia possam ser mostradas para seu futuro filho. “Você assistiu ao filme Minha Vida, com Michael Keaton?“, ele traz a referência que será o mote de suas ações iniciais.

É essa a principal condução de boa parte do filme. Aaron irá acompanhá-lo no banho e em um passeio pela mata, onde irão atrás de um lago, cujas pedras formam um coração, e que Josef diz possuir efeitos de cura milagrosos. Na caminhada, o contratante às vezes faz uma corridas surpreendentes, apenas para promover um susto, algo que se torna sua principal diversão – e às vezes incomoda pelas repetidas vezes. Em um restaurante, conversam sobre coisas vergonhosas, apenas para Josef mostrar fotos do cinegrafista antes do encontro inicial. Apesar do trabalho fácil e de bom retorno financeiro, aos poucos Aaron começa a perceber que existem coisas muito estranhas por trás daquele homem doente.

Ele possui uma máscara de lobo, apelidada de “peach fuzz“, e que já amplia a sensação de desconforto. A simpatia começa a se transformar em obsessão; a proposta inicial, de apenas oito horas, se estende para uma possível virada de noite; a chave do carro de Aaron desaparece. Com todo o estranhamento, o espectador imagina que Josef irá trancá-lo na residência para fazer torturas ou qualquer bizarrice do tipo. Na verdade, o plano dele é um pouco maior, mais psicológico do que gráfico, mais perturbador do que você imagina.

O terceiro ato muda a estrutura narrativa e parte para uma maneira diferente de causar sustos em Aaron. Agora, não é mais o jump scare que irá fazê-lo dar seus saltos e sentir o coração na boca, mas o medo proporcionado por alguém que tem a a alma de um lobo, de acordo com suas própria definição. Sem saber como reagir, Aaron é facilmente manipulado no jogo a qual faz parte, levando-o a seu inevitável destino.

Com apenas dois personagens e a voz de uma tal Angela não-creditada, Creep atrai o espectador na rede de Josef, sem que saiba como reagir e o que virá a seguir. Esse é o mérito do trabalho de Patrick Brice, tanto como ator quanto por trás das câmeras, aproveitando o bom enredo desenvolvido por – pasmem! – Mark Duplass, o terrível Josef. Duplass tem uma carreira sólida como ator, tendo participado de diversas séries como Manhunt: Unabomber e de filmes como Renascida do Inferno (2015), Pacto Maligno (2014), entre outros trabalhos. Assim, temos um filme quase feito exclusivamente por duas pessoas, à exceção dos aspectos técnicos e da produção do conhecido Jason Blum.

Assim, Creep se mostra bastante eficaz no que se propõe: causar arrepios no espectador. E acaba despertando um convite para assistir à parte 2, fazendo-nos tentar imaginar como a continuação irá se desenvolver sem repetir a fórmula.

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Média da classificação 3.7 / 5. Número de votos: 10

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “Creep (2014)

  • 17/02/2024 em 23:22
    Permalink

    Não assisti , mas pelos elogios vou dar uma conferida

    Resposta
  • 25/10/2019 em 18:23
    Permalink

    Não gostei do filme, achei fraco.

    Resposta
  • 10/08/2018 em 15:09
    Permalink

    Tanto o primeiro como o segundo são a mesma linha de história. Josef é um personagem complexo com sérios problemas psicológicos que não sabemos (e nem queremos) a origem e que contrata pessoas para gravarem seu dia a dia. A pessoa da vez foi Aaron, que fica fascinado pelo modo de vida de Josef e também pelo dinheiro pago por ele ksksksksksksks.

    Creep tem todos clichês de terror possíveis, desde um protagonista extremamente e absurdamente inocente (burro), found footage (estilo de filme gravado à mão), história rasa e simplória com um assassino (serial killer), vários jump scares e uma continuação igual.

    Com esse conjunto de característica teria tudo pra ser uma merda de filme, só que não, é um bom exemplo de como pegar uma receita de bolo bem saturada, e se bem feito, fazer um PUTA BOLO GOSTOSO.

    Mark Duplass, o antagonista, surge como um excelente ator, talvez um dos melhores ingredientes do “despretensioso bolo”. Ele consegue transmitir toda a loucura, insanidade e aleatoriedade de Josef. Resumindo eu curti pra caralho e teria ido embora da casa no momento que Josef me convidaria pra gravá-lo tomando banho de banheira.

    Creep garante diversão, tensão e vários sustos durante uma hora e meia de filme. Duração perfeita, mais que isso tornaria o filme uma droga cansativa.

    Iria assistir de novo? Sim!

    Minha nota é 3,5/5.

    E o Creep 2:

    Uma cópia do primeiro, mas com outro protagonista, no caso uma jovem cineasta e claro o talentosíssimo Mark Duplass, que novamente rouba a cena! E desta vez além dos clichês, Creep com seu criador e diretor (Patrick Brice, dirigiu e protagonizou o primeiro, nesta sequência apenas dirigiu) gravaram uma sequência exatamente como a primeira, não mudaram uma vírgula e ainda sim o filme é curiosamente bom.

    A franquia Creep arromba paradigmas do cinema, repete o que já foi usado exaustivamente e de uma forma inexplicável, fica bom! Não sei até aonde Creep terá fôlego, mas caberia no máximo mais um terceiro pra fechar uma trilogia Creep, só acho!

    Iria assistir de novo? Sim!

    Minha nota é 3,5/5.

    https://rezenhando.wordpress.com/2018/08/10/rezenha-critica-creep-1-e-2/

    Resposta

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